Greve TACV. Governo anuncia medidas punitivas contra pilotos que desobedeceram à requisição civil
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Greve TACV. Governo anuncia medidas punitivas contra pilotos que desobedeceram à requisição civil

O Governo emitiu ao final da tarde desta segunda-feira, 26, um comunicado para esclarecer que as reivindicações dos pilotos, “satisfeitas todas elas”, teriam um impacto financeiro global na ordem de 415.372.824$82. E sobre a recusa dos pilotos em prestar os serviços mínimos após a requisição civil decretada pelo Executivo, vai haver mão dura: “O Governo tudo fará, usando todos meios legais disponíveis, para que tal aconteça no mais curto espaço de tempo possível, evitando que comportamentos desse teor possam fazer escola em Cabo Verde”, lê-se na nota.

“Por ter havido recusa de prestação de serviços mínimos por parte do Sindicato, serviço mínimo garantido por lei, o Governo reconheceu, pela Resolução n.° 37/2025, de 23 de maio, a necessidade pública de requisição civil, requisição que veio a ser efetuada no mesmo dia 23, através da Portaria Conjunta n.° 20/2025. Instrumentos aprovados por se entender que era absolutamente necessário proteger o interesse público e por isso foi limitada no tempo e na matéria, para poder cumprir estritamente o seu objetivo de salvaguardar compromissos de voos internacionais previamente contratualizados e destinados ao setor de turismo”, justifica o Governo.

De acordo com a nota do Governo, “alguns requisitados desobedeceram a requisição, recusando a prestação dos serviços requisitados, alegando motivos de saúde. Ora, a desobediência à requisição civil ordenada pelo Governo, que é a única entidade que   cabe definir o interesse público e a quem é imposta a obrigação de a salvaguardar, é comportamento desrespeitoso e grave, suscetível de reação criminal, civil e disciplinar, pelo que importará, em sede própria, o apuramento das responsabilidades. E o Governo tudo fará, usando todos meios legais disponíveis, para que tal aconteça no mais curto espaço de tempo possível, evitando que comportamentos desse teor possam fazer escola em Cabo Verde. A justiça em Cabo Verde é realizada pelos tribunais, não tendo os cidadãos o poder de fazer justiça privada em causa própria, salvo nos estritos limites consentidos pela Constituição e pelas leis da República”.

Sobre a reivindicação dos pilotos, em si, o Governo reconhece que “é de conhecimento público que se têm arrastado as negociações entre a empresa pública Cabo Verde Airlines e os Pilotos para a satisfação das reivindicações destes, sem que se tenha chegado a um entendimento sobre algumas delas, com impacto financeiro muito significativo na fragilidade económica da empresa, que, em 2015, estava na eminência de encerrar as suas atividades, com a perda de algumas das suas aeronaves e sob a ameaça dos proprietários de se reapossarem delas, não fossem as medidas do Governo em 2016 para evitar o colapso total da empresa”.

Assim, prossegue o comunicado, “foi necessário fazer um esforço notável, com recurso a um robusto financiamento do Estado, ou seja, o dinheiro dos contribuintes, para suportar simultaneamente as despesas de funcionamento da empresa e saldar as dívidas contraídas. E convém realçar, porque vem a propósito, que as despesas com salários, particularmente dos pilotos, assumem um peso muito significativo na estrutura de custos da empresa”.

“E se é certo que as reivindicações dos pilotos abrangem várias matérias, não é menos certo que não só todas elas têm forte impacto financeiro na empresa, como também a maior parte delas incide sobre as contrapartidas materiais e financeiras que lhes devem ser oferecidas pela empresa. Não se quer dizer com isso que as reivindicações ou parte delas não têm sentido, mas apenas que não se encontra nenhuma lógica num poder reivindicativo em matéria salarial que se afirme completamente desalinhado com a situação financeira real e concreta da empresa, tomando-se, pelo contrário, o Estado como simples extensão da caixa da Companhia”, continua o documento, já publicado nas redes sociais do Governo.

Na óptica do Executivo, “as reivindicações dos pilotos, satisfeitas todas elas, teriam um impacto financeiro global na ordem de 415.372.824$82. Apesar desse impacto, das reuniões havidas se pode concluir de forma clara que a maior parte delas tinha sido objeto de um consenso entre as partes, sendo certo que nem todas poderiam ser implementadas de imediato por naturais constrangimentos financeiros”.

A nota especifica, por itens, os impactos das reivindicações dos pilotos nos cofres públicos. Por exemplo, na questão da “Necessidade da formalização do Acordo de Empresa (acordo coletivo de trabalho)” para a classe dos pilotos, declara o seguinte: “aqui, e praticamente só aqui, a divergência é profunda, pelo impacto financeiro, mas medidas e pelo seu reflexo no conjunto da empresa. A TACV propôs a criação de comissão conjunta para discutir e consensualizar algumas soluções que poderiam ser  depois submetidas ao Estado, como acionista maioritário”. Cálculos feitos, obrigaria, segundo o Governo, um encargo financeiro de 398.697.684$00 anuais.

Para além disso, acrescem mais 4.859.638$20 de impacto financeiro para proporcionar as progressões na carreira, e ainda mais de 6 mil contos para garantir a reposição do seguro de vida e acidentes pessoais.  

Todas estas exigências continuam pendentes, pelo que o Sindicato Nacional dos Pilotos da Aviação Civil (SNPAC), decretou a realização de uma greve desde o passado dia 22 de Maio e que deve terminar nesta terça-feira, 27.

 

 

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Comentários

  • Antoninho, 27 de Mai de 2025

    Num ambiente de guerra e crispação, quem garante a segurança da Companhiia???

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  • Manuel Miranda, 27 de Mai de 2025

    Agora a porca russa torce o rabo. Em coma profunda e em desespero total. Quando os trabalhadores estão em condições normais de trabalho usufruindo dos seus direitos laborais tudo funciona bem e quando o patrão não cumpre as suas obrigações e anda em contramão e faz ameaças, o fim está próximo. Que tristeza.

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  • José Lima Borges, 27 de Mai de 2025

    Se quem nos governa mostra que se pode viver à grande e a francesa, os pilotos também querem entrar na roda, o pão não dá para todos mas chega para muitos que se sentem privilegiados e especiais. Ponham a companhia aérea a cumprirem com os passageiros, a darem lucros e a prestar um trabalho de qualidade para fazerem concorrência à TAP e depois façam a reivindicações. O governo quer mostrar que não aceita chantagem, vai agir com um copo de leite magro….

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  • Pensador, 27 de Mai de 2025

    Lembro antes da eleição passada para PM quando na 4a feira o “avião” chegava à Praia. Aquilo que foi usado como ferramenta política agora foge do controle, mais do que era naquela época!

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  • Casimiro centeio, 27 de Mai de 2025

    Medidas punitivas não vão resolver o problema, Governo.
    A matemática social não se resolve com os métodos matemáticos administrativos!
    Sejam prudentes !

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