A Cabo Verde Empresas (CVE) manifestou-se esta terça-feira, 2, preocupada com a intenção dos operadores turísticos do Algarve, Portugal, em contratar 2.500 jovens cabo-verdianos, para dar resposta “à crescente e actual” necessidade de mão-de-obra, a nível do sector, naquela região.
A inquietação foi exposta através de uma nota de imprensa, a que Inforpress teve acesso, onde o presidente da associação, Andrea Benolli questiona se Cabo Verde é “viveiro” de mão-de-obra do Algarve.
“Parece que o Governo de Cabo Verde também acordou com o Governo português, procedimentos especiais para obter um visto de forma rápida e sem demasiadas burocracias… um tapete vermelho que permitirá aos operadores turísticos estrangeiros chegar, escolher, comprar, exportar o know-how dos nossos funcionários, com muitos aplausos pela excelente iniciativa”, analisou em tom de ironia.
Segundo a mesma fonte, o Governo investiu junto com a cooperação e “endividou o País” para recorrer a fundos do Banco Mundial e de outras organizações internacionais, para financiar o investimento em infra-estruturas e programas de formação de jovens, homens e mulheres cabo-verdianos, para que possam obter uma qualificação profissional, “e até ter” uma Carteira Profissional que certifica a competência técnica e dá acesso ao mercado de trabalho.
“É preciso ter em conta que as necessidades do país estão a aumentar, dadas as recentes aberturas de mais hotéis, como, por exemplo, na cidade de Mindelo, enquanto o nosso sistema de formação é incapaz de treinar 2.500 novos funcionários em pouco tempo e a alta temporada está chegando”, acautelou.
Referiu que em 2019, havia 9.050 empregados na hotelaria, sendo que os estabelecimentos tipo hotéis concentravam 85,2% desse total, os nacionais representavam 92,7% da força de trabalho, 77% destes trabalhavam nas ilhas do Sal e da Boa Vista e 58,8% são mulheres.
“Portanto, permitir que os operadores portugueses adquiram 2.500 trabalhadores será um desastre total para nós”, reiterou Andrea Benolli, para quem os investimentos previstos para a época alta estarão em risco, não tanto em termos de quantidade, mas de qualidade, com repercussões, acentuou, na imagem do destino turístico e “com prováveis consequências” nas vendas da época 2023/2024.
Considerando que o sector privado “é o único actualmente capaz” de manter Cabo Verde no centro de um cenário turístico de referência, sobretudo para a época de inverno, Andrea Benolli diz que “abrir as portas do galinheiro” não trará qualquer conforto ao criador, mas certamente um prejuízo em termos de know-how, cujo preço, “uma vez mais”, terá de ser pago pelo sector privado.
“Os operadores turísticos algarvios irão escolher os melhores, aqueles já formados e por isso, já contratados pelas empresas cabo-verdianas, pelo que, esse interesse deve ser contrabalançado com o estabelecimento de um acordo comercial que crie um vínculo simples para cada trabalhador formado. É também preciso contratar e formar em Portugal jovens cabo-verdianos desempregados”, sugeriu.
Além disso, acrescentou, é preciso negociar compensações para os operadores nacionais e garantir a continuidade de direitos laborais e segurança social. Esta poderia ter sido, segundo a mesma fonte, uma solução “certa e negociada” para resolver os problemas do Algarve e, ao mesmo tempo, reduzir o desemprego em Cabo Verde, sem afectar os investimentos do sector privado no arquipélago.
“As empresas não podem ser chamadas apenas a pagar impostos e formar os seus funcionários, a investir e a criar empregos”, finalizou.
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