M,P... ou U?
Ponto de Vista

M,P... ou U?

Num país diverso como Kabu Verdi, o debate de ideias deve prevalecer sobre o ataque pessoal. Não se constrói uma nação sólida insultando, desumanizando ou desqualificando o outro apenas por pensar diferente. Criticar ideologias, decisões e atos é legitimo e necessário. Atacar o ser, a sua dignidade ou a sua família é inadmissível. Nenhuma divergência política ou ideológica justifica a negação da humanidade do outro.

De muitas formas poderia iniciar este artigo. Contudo, escolho a célebre frase atribuída a Sócrates - "Só sei que nada sei" - não como um exercício retórico vazio, mas como um convite à humildade intelectual. Trata-se do reconhecimento de que saber algo não é um ponto de chegada, mas antes o inicio de uma busca permanente pelo aprofundamento do conhecimento, da consciência e da verdade.

Esta insígnia frase, nunca foi tão atual, não como virtude intelectual, mas como retrato preocupante da superficialidade do debate público.

Esta máxima parece assumir um sentido mais literal e preocupante. Muitas pessoas não conseguem hoje opinar com convicção, clareza e profundiade sobre os temas que defendem, tampouco justificar as razões das suas escolhas. Opina-se muito, mas reflete-se pouco. Defende-se, frequentemente, sem compreender.

E aqui se impõe uma questão central: quem estamos, de facto, a defender?

O país? o partido político? um líder específico? ou interesses pessoais, muitas vezes não assumidas? Seja qual for a resposta, o minimo exigivel numa sociedade democrática é que se saiba, com consciência, o porquê das escolhas que se fazem.

A própria Bíblia, em Eclesiastes 3:15 (NTLH), já advertia:

"Tudo o que acontece ou que pode acontecer já aconteceu antes. Deus faz com que uma coisa que acontece torne a acontecer."

A história repete-se quando os povos não aprendem com ela. E isso deve servir de alerta.

Não podemos permitir que Cabo Verde seja conduzido por práticas autoritárias e antidemocráticas, onde a lei é prevaricada, a vitimização é instrumentalizada e a impunidade se torne regra. Quando a verdade dos factos é obscurecida, o maior prejudicado é e sempre será o povo, privado do direito de decidir de forma informada e livre.

É fundamental, portanto, questionar:

Por que és o que és?

Por que escolhes determinado partido politico - seja ele M, P ou U?

Por que professas uma religião especifica?

Por que exerces as funções que te foram atribuidas?

E, de forma ainda mais sensível, por que muitos jovens se refugiam em comportamentos autodestrutivos, no consumo de substâncias ilícitas, no escapismo e na alienação? Essas escolhas são fruto de reflexão consciente ou apenas de reprodução acrítica de contextos e influências?

Ter opinião não é repetir slogans. É compreender, analisar e assumir responsabilidade pelas próprias posições.

Un branku ta odjaba um intilijenti pretu i ta txomaba-el di buru, so pabia di ser pretu.

Num país diverso como Kabu Verdi, o debate de ideias deve prevalecer sobre o ataque pessoal. Não se constrói uma nação sólida insultando, desumanizando ou desqualificando o outro apenas por pensar diferente. Criticar ideologias, decisões e atos é legitimo e necessário. Atacar o ser, a sua dignidade ou a sua família é inadmissível. Nenhuma divergência política ou ideológica justifica a negação da humanidade do outro.

É provável que muitos líderes, ao longo da história, já tenham enfrentado o amargo sentimento de rejeição coletiva, questionando-se se a nação prefere o colapso à continuidade de um projeto que, apesar das inevitabilidades, era e é promissor. A política é por natureza, um espaço de confronto, mas não deve ser um campo de destruição moral.

No fim, há apenas uma pergunta que deve orientar qualquer ação, discurso ou embate:

Esta batalha/rixa dá aso a prosperidade da nação e das futuras gerações? Se a resposta for negativa, então não vale a pena ser apenas mais um na maré do conflito estéril. Mas se for para transformar, para elevar e para construir, então que sejamos todos os 528.000 unidos, conscientes e fortes a trabalhar para colocar Kabu Verdi no topo.

Porque o verdadeiro progresso não nasce do ruído, mas da consciência coletiva.

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