O presidente do Cabo Verdean Center for Applied Research disse hoje à Inforpress que o ensino bilingue no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos de América, tem contribuído para o sucesso profissional e académico de cidadãos cabo-verdianos.
Em entrevista à Inforpress, Abel Djassi Amado, que é também professor associado de Ciência Política na Simmons University de Boston, afirmou que em Massachusetts, principalmente na cidade de Boston, existem vários cabo-verdianos e seus descendentes que hoje estão bastante desenvolvidos e com uma carreira bem sólida nas respectivas áreas porque começaram com o ensino bilingue.
“É claro que há exemplos de pessoas que vieram e que foram colocadas na aula somente de inglês e que tiveram sucesso, mas são poucas. Mas, de uma forma global, as pessoas que têm mais sucesso e que têm mais chances de vingar são as que estão no ensino bilingue porque enquanto estão a aprender inglês também estão a aprender matérias na língua que já conhecem”, explicou.
Segundo o académico, o ensino bilingue não significa apenas a transmissão de conhecimentos na língua cabo-verdiana. É, clarificou, um ensino em que se começa com língua cabo-verdiana e com a língua inglesa e à medida que o aluno for avançando vai-se diminuindo a língua cabo-verdiana de forma faseada e depois passa-se às aulas fundamentalmente em Inglês. O objectivo, explicou, é que os alunos não percam tempo na aquisição de conhecimentos.
“Isso ajuda as crianças a adquirir conhecimento porque se trouxeres um aluno de Cabo Verde e o colocares directamente numa escola somente de inglês, causa um bloqueio. Existem estudos que provam que é mais fácil o aluno ter sucesso se ele for para uma educação bilingue”, reforçou.
Outra vantagem, acrescentou, é que o estado de Massachusetts criou um novo programa de educação denominado “selo de biliteracia”, que é um selo que consta nos diplomas no final do liceu que indica que o aluno foi certificado por uma instituição de educação como sendo capaz de navegar em dois sistemas linguísticos, tanto inglês como em outra língua.
Segundo Abel Djassi Amado este selo de biliteracia traz um conjunto de vantagens porque pode ser traduzido em créditos na universidade ou servir como uma competência acrescida para quem está à procura de trabalho.
“No mundo real, ser bilingue é um grande valor. São cada vez mais instituições que primam para que as pessoas expressem em outras línguas, porque se tu queres que o teu negócio aumente é bom que consigas alcançar diversos tipos de comunidades. E há várias instituições, tanto públicas como privadas, em Boston, que desejam contratar pessoas bilingues, incluindo quem fala a língua cabo-verdiana porque desejam penetrar nesse mercado de cabo-verdianos”, destacou.
Aliás, segundo o especialista, na comunidade cabo-verdiana existe o que se pode ser chamada de “economia étnica” na qual circula milhões de dólares por ano.
“Esquecemos de computar esses números, mas eles são muito importantes. No corredor de Boston para Providence, que são duas cidades importantes para a comunidade cabo-verdiana nos Estados Unidos, há um conjunto de transações económicas, tem várias lojas e vários tipos de negócios em que cabo-verdianos interagem e todo o tipo de negócios são feitos, na sua grande maioria na língua cabo-verdiana”, lembrou.
Abel Djassi Amado considerou ainda que, no âmbito do valor económico da língua cabo-verdiana, existe o campo da interpretação e tradução que, conhecendo a língua cabo-verdiana de forma concreta, permite a vários cabo-verdianos fazerem carreira.
“Aqui em Massachusetts, particularmente, e também no estado de Rhode Island, várias instituições, particularmente hospitais e tribunais, contratam pessoas tanto a tempo parcial como integral para trabalhar como intérpretes e tradutores”, exemplificou, realçando que está nos planos do Cabo Verdean Center for Applied Research criar um projecto de certificação de tradutores e intérpretes de língua cabo-verdiana para mostrar que as pessoas têm capacidade de fazer tradução nesta área.
Conforme Abel Djassi Amado, o ensino bilingue no Estado de Massachusetts começou em 1971 e particularmente o da língua cabo-verdiana começou em meados de anos 75/76, altura em Cabo Verde estava a celebrar a independência.
“O Ensino bilingue tem uma tradição muito longa. Ele não foi eliminad0, mas teve uma redução drástica em 2011, altura em que houve um referendo em que cidadãos de Massachusetts reduziram o seu alcance. E isso só provou, através de um conjunto de estudos, que os estudantes cuja língua primária não era inglês ficaram para trás de uma forma dramática. Podemos chamar isso de um abismo de sucesso”, recordou.
Segundo o professor e investigador, em 2017, o ensino bilingue foi resgatado outra vez e foi no âmbito desse movimento que surgiu a Cabo Verdean Center for Applied Research para trabalhar no estudo e promoção da língua cabo-verdiana no estado de Massachusetts, em particular na cidade de Boston.
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