Tesouros Perdidos de Cabo Verde - Parte I
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Tesouros Perdidos de Cabo Verde - Parte I

No dia 02 de Agosto de 2017, o Museu da Arqueologia da Praia foi assaltado e peças de valor incalculável foram levadas. O barracão onde estava guardado todo este tesouro não tinha qualquer segurança ou guarda.

Devido à sua posição geográfica, Cabo Verde foi um porto de escala e de aguada quase obrigatório em todas as viagens marítimas entre a Europa, África, Ásia e a América do Sul, durante a época dos descobrimentos.

Muitos navios de guerra e de comércio perderam-se nessas travessias nos recifes traiçoeiros e não cartografados do arquipélago caboverdeano.

Em 1993, o governo da altura, deu autorização à Afrimar, empresa de capital social Sul-Africana, para explorar arqueologicamente os destroços subaquáticos em Cabo Verde.

A Afrimar teve licença para explorar três destroços de embarcações específicas: o  Leymuiden, o Hartweel e o Santo André, encontrados nas zonas de Rifona e do ilhéu do Cascalho, na ilha de Boavista.

As intervenções subaquáticas ocorreram entre 1993 a 1995, em três verões seguidos e foram realizados com o mínimo de rigor e exigência científica.

Com a insuficiente fiscalização, aconteceram VÁRIOS desvios de peças arqueológicas, e não se conhecem as circunstâncias e o rigor das escavações.

É assinado um novo contrato exclusivo, a 28 de Agosto de 1995 na cidade da Praia, com uma empresa de nacionalidade portuguesa, representada pelo Duque de Bragança D. Duarte Pio: a empresa “Arqueonautas World Wide”.

O governo de Cabo Verde, na pessoa do então Ministro do Estado e da Defesa Nacional, o Dr. Úlpio Napoleão Fernandes, concede uma autorização à referida empresa, para exploração dos destroços. A Empresa de exploração foi representada pelo Duque de Bragança, D. Duarte Pio, presidente do Conselho Geral, e Nicolaus Sandizell, administrador e delegado da empresa.

Os trabalhos de pesquisa iniciaram-se em Novembro desse ano e logo ao fim de dez meses já tinham sido descobertos cem (100) destroços de naufrágios.

Em cinco anos de actividade, as costas e os recifes das ilhas foram todos passados a pente fino, e foram encontrados mais de duas centenas de destroços, antigos e modernos.

A exploração subaquática empreendida pelos “Arqueonautas" concentrou-se em nove naufrágios, que irei escrever sobre as suas cargas, nas próximas semanas.

Até Dezembro de 2001, quando o contrato entretanto prorrogado chegou ao fim, os mergulhadores descobriram riquezas fabulosas e milhares de artefactos de incalculável valor histórico e arqueológico: desde simples cachimbos de escravo à riquíssima cruz de ouro, achada um pouco por acaso no último naufrágio documentado, e que é ornamentada por esmeraldas e diamantes.

Foi entregue a Cabo Verde uma base de dados de 150 navios naufragados, tendo sido encontrados cerca de 300.

A maior descoberta de toda a expedição foi no entanto feita na costa da ilha de Santiago, junto à localidade de São Francisco. Durante a escavação de um naufrágio que nunca chegou a ser identificado mas que se supõe ter sido um navio mercante do século dezassete, foi achado um astrolábio quinhentista português, folheado a prata. Uma peça única!

O astrolábio foi descoberto em Novembro de 1999 por "Gigi" Fernandes Correia, um mergulhador ao serviço dos "Arqueonautas", numa área de cavernas e fundões com profundidades que variam entre os sete e os doze metros, onde foram também levantados vários artefactos datados de meados do mesmo século. Este astrolábio foi vendido a um Museu nos Estados Unidos. Irei igualmente escrever sobre o astrolábio num próximo artigo.

DEPOIS DE CASA ROUBADA, TRANCAS NA PORTA

No dia 02 de Agosto de 2017, o Museu da Arqueologia da Praia foi assaltado e peças de valor incalculável foram levadas.

O barracão onde estava guardado todo este tesouro não tinha qualquer segurança ou guarda.

Na sequência do roubo, a segurança do Museu foi reforçada, introduzindo o sistema de videovigilância e alarme 24 horas, além de se manter um guarda permanente.

7 ANOS DEPOIS, QUAL O RESULTADO DAS INVESTIGAÇÕES?

Em resposta a esta questão, o Ministro Abraão Vicente, respondeu:

“-A mi ki teni di rispondi pa poliçia?”

“-Um assaltante ta assalta um museu (..) ê mi ki ten di flau a ki ponto sta?!”

O Ministro da Cultura, devia ser o primeiro a interessar-se pelo curso destas investigações.

Continua na próxima semana

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