A remodelação governamental é mais do que uma necessidade administrativa; é uma oportunidade de redimir-se perante o povo cabo-verdiano. A redução para dez ministérios, a eliminação das secretarias de Estado e a priorização de políticas de impacto imediato representam um primeiro passo em direção a um governo mais ágil, eficiente e conectado às aspirações da nação. O MpD tem diante de si um dilema histórico: persistir na inércia que o condenará ao fracasso eleitoral ou abraçar a mudança como única saída possível para manter sua relevância política. O tempo é curto, mas ainda há esperança. A grande reforma é o caminho para devolver a dignidade ao governo e a confiança ao povo. Cabo Verde merece mais. E o futuro da nação depende das decisões tomadas hoje.
O atual governo reflete um modelo de gestão anacrônico, em que a proliferação de cargos não se traduz em melhorias concretas para os cidadãos. Em vez disso, a excessiva fragmentação administrativa gera sobreposição de competências, burocracia desmesurada e custos operacionais insustentáveis. É urgente ouvir as vozes que ecoam das ilhas esquecidas e da diáspora, clamando por uma governança mais ágil, eficiente e comprometida com o bem-estar coletivo. A crise econômica global e os desafios locais exigem reformas ousadas, que priorizem o trabalho em detrimento da militância. Ulisses Correia, ao criticar a teoria do governo inflado enquanto estava na oposição, antecipou o diagnóstico da falência administrativa, mas, ao alcançar o poder, cometeu o mesmo erro, perpetuando o modelo que antes denunciava.
Justificativa Política: Salvar o Governo
A remodelação não deve ser vista apenas como uma estratégia para salvar o Partido , mas sim como um último recurso para salvar o governo e restabelecer a dignidade política. A figura do vice-primeiro-ministro, por exemplo, poderia ser eliminada, uma vez que sua existência tende causar desequilíbrio emocional e hierárquico entre os outros membros do governo. A próxima batalha eleitoral será decisiva para o MpD. Contudo, diante de um eleitorado desiludido e da ascensão de narrativas de oposição que exploram o descontentamento popular, o partido precisa resgatar sua credibilidade. Uma remodelação governamental não é apenas um imperativo administrativo; é um gesto simbólico de humildade e disposição para corrigir erros.
Proposta de Fusões e Extinções
Alguns ministérios podem ser fundidos ou extintos, permitindo uma estrutura mais enxuta e funcional, capaz de responder às demandas reais da sociedade e reduzir os custos operacionais do Estado. Estas mudanças configuram uma verdadeira revolução administrativa, que não apenas simplifica a máquina governamental, mas também redefine as prioridades e estratégias de gestão. . Além disso, a extinção de todos os secretários de Estado seria uma medida adicional para reduzir custos e simplificar a estrutura governamental
1. Ministério da Saúde com Família e Inclusão Social: A fusão desses ministérios eliminaria redundâncias administrativas e permitiria um enfoque mais holístico na saúde e no bem-estar social. O Ministério da Família, isoladamente, carece de uma necessidade prática evidente, e sua integração com a Saúde garantiria maior coerência nas políticas públicas.
2. Ministério da Administração Interna com Defesa e Coesão Territorial: A segurança interna e a defesa nacional estão intrinsecamente conectadas. Ao unir essas pastas, seria possível alcançar maior eficiência na alocação de recursos, eliminar sobreposições e fortalecer a coordenação operacional, além de promover um foco mais integrado na proteção territorial.
3. Ministério dos Negócios Estrangeiros com Comunidades Emigradas: A extinção do Ministério das Comunidades Emigradas, com a integração de suas funções ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, faria mais sentido administrativo e funcional, dado o foco comum na representação internacional de Cabo Verde. Essa medida garantiria uma melhor articulação das políticas externas e maior proximidade com a diáspora.
4. Ministério do Mar com Turismo e Inovação Tecnológica: O potencial econômico do mar está diretamente ligado às indústrias do turismo e à inovação. Unificar essas pastas criaria sinergias fundamentais para incentivar soluções mais integradas e sustentáveis no aproveitamento dos recursos marítimos, com impactos positivos no crescimento econômico.
5. Ministério da Educação com Cultura, Juventude e Desporto: Esta fusão estratégica reconhece as profundas conexões entre educação, cultura, juventude e desporto como pilares do desenvolvimento humano. Integrar essas áreas criaria uma plataforma coesa para a formação de cidadãos completos, incentivando a criatividade, o talento esportivo e a participação cívica, enquanto racionaliza os recursos e fortalece o impacto das políticas públicas.
6. Extinção do Ministério Adjunto do Primeiro-Ministro e do Ministério da Cultura: A eliminação do Ministério Adjunto do Primeiro-Ministro eliminaria um nível desnecessário de burocracia, enquanto as competências do Ministério da Cultura seriam integradas à pasta ampliada da Educação, garantindo uma abordagem mais unificada na promoção do patrimônio e das identidades culturais.
7. Ministério da Indústria, Comércio e Energia integrado ao Ministério da Economia: A absorção do Ministério da Indústria, Comércio e Energia pelo Ministério da Economia consolidaria as funções relacionadas ao desenvolvimento econômico em uma única estrutura, permitindo maior alinhamento estratégico, eficiência operacional e foco nas prioridades econômicas nacionais.
Essas reformas não apenas otimizariam o funcionamento do governo, mas também promoveriam uma administração pública mais ágil, capaz de priorizar ações concretas e investimentos que impactem positivamente a vida dos cabo-verdianos. Reduzir a fragmentação ministerial é uma medida essencial para devolver ao Estado sua verdadeira função: servir ao povo com competência e responsabilidade.
Reconstrução da Imagem Política
A população cabo-verdiana sente-se traída por um governo que, em sua percepção, priorizou a própria sobrevivência política em detrimento do bem comum. O descrédito é tamanho que mesmo medidas bem-intencionadas são recebidas com ceticismo. Além disso, o Ministro da Economia deve abandonar anúncios astronômicos sem fundamentos garantidos de sustentabilidade. Promessas que não se concretizam, como grandes obras ou reformas anunciadas, tornam o governo vulnerável e descredibilizado. Exemplos como o caso dos transportes aéreos, a construção do hospital e várias outras obras de relevo não realizadas expuseram fragilidades que minaram a confiança da população no atual governo. O MpD precisa urgentemente mudar essa narrativa. Embora seja tarde para recuperar completamente a confiança perdida, é possível iniciar um processo de reconstrução que demonstre que o governo está disposto a mudar. Isso envolve não apenas a reestruturação administrativa, mas também a implementação de medidas concretas que beneficiem diretamente a população, como a redução dos preços da energia e dos combustíveis, o apoio aos pequenos agricultores e a promoção do emprego juvenil.
Tempo de Ouvir as Pessoas
A atual estrutura governamental distancia-se das reais necessidades dos cabo-verdianos. É essencial que o governo estabeleça um canal de diálogo direto com a população, ouvindo suas preocupações e agindo com base em suas demandas. Programas participativos, como consultas públicas e orçamentos participativos, podem ajudar a restabelecer a confiança entre governantes e governados. A crise de confiança que assola Cabo Verde é, antes de tudo, uma crise de liderança. Liderança não se mede pelo número de cargos ocupados ou pela dimensão da máquina governamental, mas pela capacidade de tomar decisões corajosas, ainda que impopulares, em prol do bem comum.
Um Futuro a Esperança
A remodelação governamental é mais do que uma necessidade administrativa; é uma oportunidade de redimir-se perante o povo cabo-verdiano. A redução para dez ministérios, a eliminação das secretarias de Estado e a priorização de políticas de impacto imediato representam um primeiro passo em direção a um governo mais ágil, eficiente e conectado às aspirações da nação. O MpD tem diante de si um dilema histórico: persistir na inércia que o condenará ao fracasso eleitoral ou abraçar a mudança como única saída possível para manter sua relevância política. O tempo é curto, mas ainda há esperança. A grande reforma é o caminho para devolver a dignidade ao governo e a confiança ao povo.
Cabo Verde merece mais. E o futuro da nação depende das decisões tomadas hoje.
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