Os partidos da oposição criticaram hoje a alta taxa de abstenção registada nas eleições autárquicas de 2024 e pedem a introdução de medidas, nomeadamente a revisão da legislação que regulamenta todo processo de eleições para colmatar esta falha.
Em declaração política lida pelo deputado João Santos Luís, a UCID recordou que no total de 351.935 eleitores inscritos, somente 176.756 eleitores foram votar, o que evidencia o descontentamento generalizado da forma como são concebidas e aplicadas políticas públicas que afectam a vida dos cidadãos no país.
Para a UCID, diversas situações estiveram na base na abstenção como condicionamento do eleitor, a compra desenfreada de consciência, a prática ilícita eleitoral por parte de quem tem a posse dos recursos públicos, e devido ao facto de milhares de eleitores não terem conseguido encontrar os seus locais de voto.
“Não se pode entender que municípios como Praia, com 91.947 eleitores, somente 41.624 vão às urnas e o presidente da câmara é eleito com 27% dos votos. Igualmente São Vicente, com 55.374 eleitores inscritos e somente 28.321 exerceram os seus direitos e o presidente é eleito com 21%”, exemplificou o também presidente da UCID.
Estes dados, segundo João Santos Luís, são reflexos da evolução do sistema político, dos partidos e as suas campanhas eleitorais, uma vez que, alertou, não se entende como um país que atravessa dificuldades como financiamento para incrementar o ambiente de negócio, deficiente do sistema de transporte entre as ilhas e custo de vida extremamente elevado “gasta-se rios de dinheiro” em campanhas eleitorais.
Embora o sistema multipartidário seja um dos pilares da democracia, João Santos Luís salientou que já se vislumbra a necessidade de experimentar outros sistemas e de melhorar a imagem do país em termos de participação política.
Para o deputado, a alternância do poder em Cabo Verde tem sido “pacifica”, o que reforça a cultura democrática e enfatiza um sinal importante de maturidade política e o respeito ao processo, mas no entender da UCID “é insuficiente” visto que o envolvimento dos eleitores é crucial para fortalecer a democracia e promover a estabilidade política.
O deputado do PAICV Rui Semedo, por seu lado, considerou que a alta taxa de abstenção se resume ao desinteresse dos cabo-verdianos ao tipo de campanha, propostas políticas e a alta taxa de imigração.
No entender do maior partido da oposição, trata-se de reconhecer que é um problema que tem afectado a vida política do país e assim avaliar as verdadeiras causas.
Lembrou que em 2012, a taxa de abstenção situava-se nos 30,96%, em 2016 nos 41,70%, em 2020 foi de 41,56%, e em 2024 o número aumentou para 49,78%.
O PAICV defendeu a mudança na legislação que regulamenta todo o processo eleitoral permitindo a facilidade e universalidade do voto no país.
Em resposta ao posicionamento dos partidos da oposição, o grupo parlamentar do MpD disse que todos os partidos e actores políticos devem continuar a trabalhar para melhorar os aspectos negativos, um compromisso que também os cidadãos devem assumir.
Vander Gomes, deputado do MpD, considerou que o país deve recuperar a confiança política, mas não através de discursos populistas que produzem resultados circunstanciais e que não ajudam na melhoria do país.
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