• Praia
  • 29℃ Praia, Cabo Verde
Licenciatura em Estudos Chineses, no Novo Campus da Uni-CV. Como atrair os candidatos?
Colunista

Licenciatura em Estudos Chineses, no Novo Campus da Uni-CV. Como atrair os candidatos?

...que estratégias poderá o governo adotar para também “obrigar” os pais a matricularem os seus filhos nesses cursos, na uni-CV? Eu, pessoalmente, estou a pensar em algumas possíveis artimanhas que já estarão a ser preparadas:i) Os inscritos poderão ter isenção de propinas ao longo do curso; ii) a embaixada chinesa irá fornecer gratuitamente todos os materiais didáticos; iii) o governo chinês poderá custear todas as despesas com os "professores cooperantes"; iv) poderá haver transporte gratuito nos autocarros disponibilizados pela embaixada chinesa; v) os estudantes que não são da Praia poderão ter descontos na residência universitária; vi) os estudantes vão usufruir de descontos até 70% na cantina universitária chinesa; vii) os estudantes e/ou respetivos pais poderão ter descontos em todas as lojas chinesas; viii) os familiares poderão ter prioridade de emprego nas lojas chinesas…

“De graça só se dá bom dia.”

                    Adágio popular

 

Em janeiro de 2014, o então governo liderado pelo Dr. José Maria Neves, tinha anunciado que o governo chinês iria financiar e construir, na cidade da Praia, o novo campus da Universidade de Cabo Verde, no âmbito da cooperação bilateral entre os dois países. O anúncio provocou algumas críticas no seio de alguns populares em São Vicente porque acharam que tal investimento deveria ser feito naquela ilha. Entretanto a poeira baixou e as obras, efetivamente, só arrancaram em 2017.

Lembro-me que o então embaixador chinês justificou, na ocasião, que o setor da educação seria prioridade nas ações agendadas para aquele ano, que a construção do campus da Uni-CV se justificara “pelo aumento das vagas e bolsas de estudo para estudantes cabo-verdianos nas universidades chinesas”.

Aliás, o ano de 2014 foi muito fértil em termos de cooperação com o governo chinês, nomeadamente: conclusão da Escola de Turismo da ilha do Sal; entrega de duas modernas e novas embarcações, aos militares destinadas à vigilância e ao controlo das águas territoriais do arquipélago; reconstrução e modernização (incluído todo o equipamento e mobiliário) do Palácio da Presidência da República; construção dos acessos rodoviários ao Estádio Nacional;  entrega de equipamentos de perfuração destinados à mobilização de água no meio rural (…).

Todos esses investimentos, foram financiados pelo governo chinês, sem que os cabo-verdianos conhecessem as reais contrapartidas exigidas ao Estado de Cabo Verde.

Efetivamente, em julho de 2021 (sete anos depois do anúncio), a República Popular da China entregou o novo campus universitário da Uni-CV ao Governo de Cabo Verde.

Segundo um jornal da praça, “esse empreendimento construído de raiz e financiado em 5.600 milhões de escudos, tem a capacidade para mais de 5.000 alunos (…)”. A referida infraestrutura, na verdade, é considerada a maior obra financiada e construída pelo governo chinês até então.

CONTRAPARTIDAS EXIGIDAS(?)

Como sabemos, existe um adágio popular que diz que “não há almoços grátis”. Ou seja, é impossível você conseguir alguma coisa sem dar algo em troca. Portanto, ninguém acredita que os chineses estão a financiar todos os nossos projetos só porque temos lindos olhos.

Assim, depois da conclusão do campus universitário, o atual governo (através da Uni-cv) anuncia a previsão da abertura de uma licenciatura em Estudos Chineses e outra em Língua e Cultura Chinesas, em parceria com o Instituto Confúcio, com 30 alunos cada, justificando “uma procura enorme” pela língua chinesa. Será verdade esta justificação? 

Ao ouvir tal anúncio, eu pensei logo: aqui está a contrapartida que o governo chinês exige pelo financiamento e construção dessa bonita e moderna infraestrutura!

Muitos cidadãos atentos, de imediato podem questionar: quais são os objetivos da introdução desses cursos? Quem sairá a ganhar? Esses cursos são prioritários para o desenvolvimento económico do país? Onde irão trabalhar os recém-formados?

É lógico que, tendo em consideração os interesses económicos, a intenção dos chineses é formar professores africanos para expandir a sua língua e cultura no continente, competindo assim com os europeus e americanos.

Todavia, tendo em consideração as ofertas formativas na Uni-CV e noutras instituições do ensino superior no país, e aliadas às necessidades de cursos que o país necessita, tenho alguma reserva que venham a surgir interessados.

Contudo, como este governo sabe como lidar com os pobres e sobretudo com essa malta jovem, algumas táticas já deverão estar a ser preparadas, à semelhança da ‘finta’ que nos foi dada, “obrigando” todos os caboverdianos a aderirem à campanha de vacinação contra covid-19, com a exigência de certificado covid para aceder a espaços públicos e locais de diversão. Como o cabo-verdiano adora sabura, logo, a adesão à essa campanha, tem-se aumentado a cada dia.

Então que estratégias poderá o governo adotar para também “obrigar” os pais a matricularem os seus filhos nesses cursos, na uni-CV?

Eu, pessoalmente, estou a pensar em algumas possíveis artimanhas que já estarão a ser preparadas:

i) Os inscritos poderão ter isenção de propinas ao longo do curso; ii) a embaixada chinesa irá fornecer gratuitamente todos os materiais didáticos; iii) o governo chinês poderá custear todas as despesas com os "professores cooperantes"; iv) poderá haver transporte gratuito nos autocarros disponibilizados pela embaixada chinesa; v) os estudantes que não são da Praia poderão ter descontos na residência universitária; vi) os estudantes vão usufruir de descontos até 70% na cantina universitária chinesa; vii) os estudantes e/ou respetivos pais poderão ter descontos em todas as lojas chinesas; viii) os familiares poderão ter prioridade de emprego nas lojas chinesas…

Se essas e outras estratégias forem adotadas, poderão surgir muitos candidatos. Até porque, hoje em dia o que conta é ter um certificado. O emprego logo se vê.

Aguardemos pelo início do novo ano letivo.

 

Assomada 16 de agosto de 2021

Adalberto Teixeira Varela

Professor LAC

 

 

 

 

Partilhe esta notícia