“Jobs for the boys” a (des)Méritocracia na nôs terra
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“Jobs for the boys” a (des)Méritocracia na nôs terra

Cabo Verde não precisa de mais “boys”. Precisa sim, de gente com ideias, com sentido de serviço público e com a ousadia de pensar fora dos corredores do partido. Mas para isso, era preciso querer mudar o enredo. E, até ver, ninguém quer largar o palco ou o tacho.
Enquanto o povo bate palmas ao espectáculo, nos bastidores continuam a distribuir os papéis.
Talento? Ess li gó, tá continuá na desempreg.

Há quem diga que Cabo Verde é uma democracia jovem, embora outros preferem o termo “democracia em construção”. Para mim, é uma democracia de palco, com luzes, cortinas, aplausos ensaiados, e uma trupe muito bem seleccionada nos bastidores.
Mal acaba o teatro das eleições, com as promessas ainda a ecoar nos discursos bem escritos, começa o verdadeiro espectáculo: o dos “jobs for the boys”. É a nova roupagem da velha distribuição de cargos como se fossem medalhas por lealdade, um sistema bem oleado de recompensas para quem cumpriu bem o papel de figurante com voz, ou de fantoche sem cérebro.

E lá estão eles, os “ex-qualquer-coisa”, os derrotados nas urnas, os eternos assessores de coisa nenhuma, agora ressuscitados em cargos públicos como se tivessem nascido para aquilo. Alguns até aparecem em jornais a dizer que aceitam o cargo com “sentido de missão”. Qual Missão? Sô se for missão de basofaria e de manter o ciclo da cunha vivo e de boa saúde.
Não se exige currículo, nem histórico relevante. O que interessa é o alinhamento, a fidelidade canina e, em alguns casos, a arte de saber estar calado no momento certo, ou de declamar a cartilha do partido sem errar uma vírgula. Há quem chame a isto “gestão de confiança”. Eu prefiro chamar de “Tachismo institucionalizado”.

E não me venham com a conversa mole de que “é normal em todas as democracias”. Também há corrupção em todas as democracias, e não é por isso que a devemos aplaudir. Pelo menos os meus “FORTE APLAUSO”, não levam de certeza.

Quantas vezes viram alguém com currículo sério ser escolhido só por mérito, sem padrinhos e sem cor política declarada? Ah, pois é…contam-se pelos dedos de uma mão.

Normalizar o anormal é o primeiro passo para a degradação total da coisa pública. Quem estudou, quem se dedicou, quem se atreveu a ter ideias próprias, continua a bater com a testa nas paredes de vidro do sistema e a ganhar galos. Porque o talento, em terra de “boys e boyzim”, é um acto de rebeldia.

Fulano perdeu as eleições na câmara X, foi rejeitado nas urnas com pompa e circunstância, mas uma semana depois, aparece nomeado como administrador de uma empresa pública. E a culpa é de quem? Do povo, que “não soube reconhecer o seu valor”, pois está claro!! E assim se recompensa a mediocridade com um salário fixo e com direito a viatura de serviço.

A questão já não é sequer, se os nomeados sabem fazer o que se espera deles. A questão é se alguém no poleiro, se importa minimamente com isso.
Mas vá… não sejamos tão maus (bsot, porque que mim ê um santa e sónt ca ten maldade). Deixemos o novo nomeado respirar. Afinal, ele só está ali porque é “um quadro experiente”, mesmo que ninguém se lembre bem “experiente” em quê.

Cabo Verde não precisa de mais “boys”. Precisa sim, de gente com ideias, com sentido de serviço público e com a ousadia de pensar fora dos corredores do partido. Mas para isso, era preciso querer mudar o enredo.

E, até ver, ninguém quer largar o palco ou o tacho.
Enquanto o povo bate palmas ao espectáculo, nos bastidores continuam a distribuir os papéis.
Talento? Ess li gó, tá continuá na desempreg.

FORTE APLAUSO

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Comentários

  • Zé Manel, 17 de Mai de 2025

    Eu não reconheço nenhuma capacidade administrativa no senhor Aníbal Fonseca. A câmara municipal do Porto Novo levou uma eternidade para tramitar um processo muito simples. Foi um tormento. Para mim ele não sabe montar nem gerir uma equipa. Devia haver uma entidade auditora totalmente independente que pudesse medir o nível de transparência, rigor, qualidade de atendimento e resultados da administração da coisa pública.

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  • Gilson Lopes, 17 de Mai de 2025

    Sem queres atingir/ atacar ninguém, nada contra a pessoa indicada mas acho muito pertinente esse assunto e acho que devia ser discutida em outros fóruns.
    Bem haja a mente corajosa que aqui manifesta que outros seres pensantes o possam fazer quantas vezes forem necessárias.

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