Afinal para que Ministério vai o avião King Air 360 ER
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Afinal para que Ministério vai o avião King Air 360 ER

Em 14 de setembro de 2023, escrevia no Santiago Magazine, sobre o sonho da Guarda Costeira de ter um meio aéreo para patrulhar as nossas águas territoriais. Na altura, até citei a canção musicada por Paulino Vieira, “Ami cordode um sunha/Cabo Verde era um paraíse/Cheio di jardim floride…” Para falar do sonho das nossas Forças Armadas de ter meios para cumprir cabalmente a sua missão.

Agora, o Ministério da Defesa veio anunciar que esse sonho poderá estar em vias de se concretizar com a aquisição da Aeronave (King Air 360 ER) para a Guarda Costeira (GC) aos EUA, salientando que já foram realizados, no Estado de Kansas, nos EUA, os tramites de inspeção documental e bem assim o primeiro teste.

Mas, como as promessas do Governo de Ulisses Correia e Silva raramente são cumpridas, cá estaremos para ver…

Todavia, à partida a questão das aeronaves para as Forças Armadas suscitam algumas questões. A Aeronave agora adquirida destina-se a quem: ao Ministério da Defesa ou ao da Saúde?

De facto, segundo o próprio Ministério da Defesas, a aeronave vem com a configuração de Evacuação Médica (MEDEVAC). Ou seja, está, essencialmente, equipada para a evacuação do doentes inter-ilhas. 

Apesar do Governo anunciar que vai ter a “configuração ISR (Intelligence Surveillance Reconnaissance), atendendo às necessidades operacionais especiais da Guarda Costeira”, temos algumas dúvidas. 

Uma das questões prende-se com a implementação da aviação militar, e como já existe uma esquadrilha área, este anúncio, realizado numa altura de pré-campanha eleitoral, não tem como principal objetivo “segurar” as autarquias presididas por políticos afetos ao partido no poder em cabo Verde.

Após terem “despachado” o avião Dornier - vendido a preço saldo, com um parecer favorável do atual diretor Defesa Nacional, que na altura era o comandante da esquadrilha área -  fica sempre a questão: Esta decisão será uma espécie de arma de arremesso eleitoral. Não esquecemos que o partido no poder usou o Icelander e o navio Dona Tututa, na última campanha eleitoral e sem deixar  de realçar a inclusão da NATO no projeto plano estratégico defesa nacional.

Por outro lado, segundo a ministra, a aeronave destina-se ao patrulhamento aéreo marítimo. Isso pode querer dizer que a Guarda Costeira não precisa de embarcações para patrulhamento marítimo. Logo os patrulheiros podem ser dispensados. 

Por isso, estamos sujeitos a ter uma GC com uma esquadrilha naval (4 unidades), uma esquadrilha aérea (4 unidades, por norma) e, em termos de meios, acabar por possuir uma única unidade, em vez de ...oito, conforme as normas para constituição de esquadrilhas. 

Mas isso é um não assunto para um país pobre como Cabo Verde. Assim sendo poderá atribuir-se a aeronave a um outro Ministério (transportes, administração interna ou saúde), vender as embarcações e as instalações das FA, incluindo a oficina central, dar outro destino aos quarteis e ao edifício do EMFA. Certo. 

Cabe ao poder político decidir. Mas se é essa a intenção do Governo, os oficiais e os sargentos do quadro permanente (QP) das FA merecem ser informados, em tempo oportuno, de forma a decidirem que rumo dar à sua vida na perspetiva da extinção da instituição.

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