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A diplomacia económica pode salvar a economia cabo-verdiana? Primeira Parte
Colunista

A diplomacia económica pode salvar a economia cabo-verdiana? Primeira Parte

...no atual contexto da pandemia, as embaixadas desempenham um papel de relevo, enquanto plataforma de contatos, da promoção e da criação de outras dinâmicas de cooperação para a promoção das exportações. No caso de Cabo Verde, muito para além da captação de recursos para o financiamento do desenvolvimento do país, os investimentos devem traduzir em influência regional. Estes novos instrumentos, devem ser explorados pelo país, de maneira a reforçar a nossa posição regional e global. Principalmente, no apoio da internacionalização das empresas nacionais. Na medida em que, a intensidade das redes de interdependência e a crise pandémica colocaram a Diplomacia Económica noutro patamar, intensificando as relações de cooperação entre as nações ricas e pobres, mudando em alguns aspetos as prioridades das ações externas, é disto que Cabo Verde terá de tirar partido e vantagens competitivas.

Ao preencher dois (2) dos três (3) requisitos [a subida do Índice de Desenvolvimento Humano e o Rendimento per Capita] Cabo Verde foi promovido ao clube dos Países de Desenvolvimento Médio — PDM, no ano de 2004. Todavia, as Nações Unidas deliberaram que esta classificação só se tornava efetiva no decurso de três anos seguintes, de maneira que a saída não viesse a comprometer o desenvolvimento das ilhas. A graduação do arquipélago para PDM trouxe alterações significativas na relação entre Cabo Verde e os doadores. Se a perda das subvenções internacionais se tornou num grande embaraço, a política pública de desenvolvimento das ilhas, o cenário piorou com a crise financeira global de 2008.

Para atenuar os efeitos da crise financeira de 2008 [que afetou os grandes financiadores do desenvolvimento do país] o governo recorreu aos empréstimos concessionais, mergulhando o país para o sobre-endividamento. Se mudança das relações com os doadores — redução da ajuda direta[1] — caiu à pique, de 9.440 milhões de ECV em 2010, para cerca de 4.300 milhões de ECV, em 2011, a divida publica fez o caminho inverso, subiu de 77,6% do PIB em 2010 para 130% em 2016[2] e 151.1% do PIB em 2020[3], devendo ao facto da economia cabo-verdiana estar em recessão com a queda de 15% no Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o Banco Central[4].

Resumidamente, a graduação de Cabo Verde para grupo de PMD, as crises financeiras, o sobre-endividamento e a recessão económica pandémica, obriga que o país se adapte diante de um contexto global. Nesta readaptação, a redefinição dos princípios nacionais de orientação da diplomacia será fundamental, não só para ajudar o país a traçar um novo paradigma de desenvolvimento, mas também, para tirar o arquipélago da estagnação. A crise pandémica e económica pode ser uma grande oportunidade, se soubermos tirar partido do nosso soft power diplomático, principalmente se ela for conduzida numa perspetiva de alargamento ou crescimento da nossa base produtiva e um aumento considerável do pacote de investimentos estrangeiros, tendo em conta, que os níveis de poupança interna são insuficientes para financiar o desenvolvimento do país.

Este novo modelo deve dar protagonismo a outros atores não-governamentais [empresários, investidores, e movimentos sociais]. Estes novos atores na articulação das atividades diplomáticas devem influenciar, se não mesmo determinar, as decisões do Governo, de modo a tornar a economia doméstica mais competitiva internacionalmente. Mesmo com todas estas considerações o Estado continua a ser o ator principal nas diplomacias. Nisto, no atual contexto da pandemia, as embaixadas desempenham um papel de relevo, enquanto plataforma de contatos, da promoção e da criação de outras dinâmicas de cooperação para a promoção das exportações. No caso de Cabo Verde, muito para além da captação de recursos para o financiamento do desenvolvimento do país, os investimentos devem traduzir em influência regional. Estes novos instrumentos, devem ser explorados pelo país, de maneira a reforçar a nossa posição regional e global. Principalmente, no apoio da internacionalização das empresas nacionais. Na medida em que, a intensidade das redes de interdependência e a crise pandémica colocaram a Diplomacia Económica noutro patamar, intensificando as relações de cooperação entre as nações ricas e pobres, mudando em alguns aspetos as prioridades das ações externas, é disto que Cabo Verde terá de tirar partido e vantagens competitivas.   

 



[1] https://peds.gov.cv/sites/default/files/2018-10/PEDS%202017-2021%20-%20Vers%C3%A3o%20Final.pdf
[2]  https://mpra.ub.uni-muenchen.de/63407/9/MPRA_paper_63407.pdf
[3] file:///C:/Users/suporte/Downloads/nota-de-esclarecimento-trajetoria-da-divida-publica-caboverdina-2015-a-2016.pdf
[4] https://observador.pt/2021/02/15/cabo-verde-economia-nacional-com-a-pior-performance-de-sempre-por-causa-da-covid-19/

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SOBRE O AUTOR

Rony Moreira

Poeta, escritor, sociólogo, cronista