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Trabalho infantil atinge 5.000 crianças em Cabo Verde. Mais de metade em condições perigosas, diz estudo
Sociedade

Trabalho infantil atinge 5.000 crianças em Cabo Verde. Mais de metade em condições perigosas, diz estudo

O trabalho infantil ilegal atinge 4.900 crianças em Cabo Verde, ou seja, 4,2% da população entre os cinco e os 17 anos. Desse total, 2.896 (2,5%) trabalham em condições perigosas e em grande parte para os familiares, revela um estudo do INE, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Instituto Caboverdiano da Criança e do Adolescente (ICCA) divulgado hoje na Praia.

O último inquérito remonta a 2012 e apontou para uma taxa de 6,4% de crianças, na mesma faixa etária, a exercer um trabalho a abolir, mas os dados foram recolhidos com uma metodologia diferente e não podem ser comparados com os atuais, alertou o INE.

No panorama hoje apresentado, a maioria do trabalho infantil corresponde a atividades de produção das famílias para uso próprio e exercidas de forma perigosa, ou seja, durante longas horas ou sob excessiva carga física.

Os dados revelam também que mais de 80% das famílias em que há trabalho infantil têm mais de quatros pessoas (41,4% dos agregados têm mais de seis pessoas).

Apesar de o trabalho infantil ser ilegal e comprometer a saúde e educação, a informação mostra que quase 100% das crianças afetadas continuam a frequentar um estabelecimento de ensino.

Segundo a técnica e responsável pelas estatísticas do mercado de trabalho, Alice Pina, citada pela Inforpress, no universo de 117 mil crianças entre os 5 a 17 anos, 50,5% são rapazes, 49,5% meninas e 74,4% estão no meio urbano.

O estudo aponta que grande parte dessas crianças trabalham para o consumo próprio dos agregados familiares, cerca de 9.004 estavam a trabalhar, e dessas, 4.900 crianças, estavam no trabalho infantil. O mesmo revela ainda que 2.896 crianças trabalham em condições perigosas, o que representa 2,5%.

No que diz respeito à educação, os dados apontam que 97,3% das crianças trabalham e estudam ao mesmo e 2,7% não estavam a frequentar nenhum estabelecimento escolar.

O inquérito revelou ainda que 73.446 crianças fazem trabalhos relacionados com as tarefas domésticas/cuidados de pessoas com necessidades especiais, o que representa 62,4%, dos quais 2.673 dos inquiridos em condições perigosas e com uma média de 8 a 10 horas por semana.

As meninas, segundo a mesma fonte, são as que mais fazem tarefas domésticas, (68,9%), nomeadamente lavar a louça, preparar a mesa, limpar a casa ou a garagem.

Fernando Elísio Freire, ministro de Estado, da Família, Inclusão e Desenvolvimento Social, disse, na cerimónia de hoje, que é preciso prevenir que o costume do trabalho infantil prevaleça, reconhecendo a responsabilidade do Estado no ataque à pobreza, para que não seja argumento para as crianças trabalharem.

O governante anunciou, também, a abertura de 11 centros durante este ano, financiados pelo Fundo de Proteção Social (Fundo Mais) em diferentes ilhas, para manter as crianças ocupadas todo o dia.

O objetivo é acabar com o trabalho infantil em Cabo Verde até 2030, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, acrescentou.

As estatísticas sobre o trabalho infantil em Cabo Verde referentes a 2022, hoje apresentadas, tiveram como base um inquérito do INE realizado entre novembro de 2022 e janeiro de 2023 a 9.918 agregados familiares (6,7% dos agregados de Cabo Verde).

Os dados apontam para a existência de menos trabalho infantil em Cabo Verde em comparação com outros países lusófonos em África.

De acordo com o sistema de estatísticas da OIT (Ilostat), o número de crianças afetadas, na mesma faixa etária (5-17), ronda em Angola os 19,3% (dados de 2016), 17,8% em São Tomé e Príncipe (2014) e 9,5% na Guiné-Bissau (2019).

De acordo com dados da OIT, cerca de 160 milhões de crianças (ou seja, quase uma em cada dez em todo o mundo) são submetidas a trabalho infantil e quase metade está envolvida em tarefas potencialmente perigosas.

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o trabalho ilegal chega a afetar uma em cada cinco crianças.

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