Autópsia descobriu bala no crânio de Jailson de Pina. E o mais caricato: vizinhos é que acharam no local um “boca bedju” minutos depois de a PJ deixar a cena do crime.
O crime da Fazenda que na semana passada, 12, abalou o país conheceu outros desenvolvimentos. Afinal, Jailson “Já” de Pina, o lavador de carros que foi encontrado morto na varanda da sua casa com a cabeça desfeita, foi, ao que tudo indica, assassinado com tiro à queima-roupa na nuca, desferido por uma arma de fabrico caseiro, conhecida por “boca bedju”.
É que, segundo José Rui de Pina, tio de Jailson, a autópsia revelou alojadas no crânio da vítima parte da cápsula e esferas de cartuchos normalmente utilizados nessas armas de fabrico caseiro, cuja potência – 12 mm – seria responsável pela destruição total da parte traseira da cabeça de Jailson de Pina, o que explica o sangue, restos do crânio e pedaços de cérebro espalhados pelas paredes, tecto e chão da varanda da casa.
Reforça esta ideia o facto de no mesmo dia do assassinato vizinhos e curiosos que foram ver a casa terem encontrado, escondido entre pedras amontoadas na varanda da velha habitação, uma arma “boca bedju”. O mais estranho e caricato nisso é que aquilo que poderia ser a arma do crime foi visto por civis, poucas horas depois de a Polícia Judiciária ter deixado a cena do crime onde esteve desde as 5h da madrugada e até às 10h da manhã desse dia a inspeccionar o local.
“Alguém que estava a passar e quis ver onde tudo aconteceu é que viu a arma. Chamamos a polícia Nacional aqui na Esquadra da Fazenda que veio buscar esse 'boca bedju'. Penso que depois a entregaram à Policia Judiciária”, José Rui de Pina, para quem “não há dúvidas de que Jailson foi executado com tiro de 'boca bedju'. Ou a PJ não a viu durante as investigações ou alguém a foi lá colocar depois, mas quem quererá entregar uma suposta arma do crime à polícia?”.
Santiago Magazine, que deu a notícia em primeira-mão, também relatou ter havido tiro naquela zona, de acordo com vizinhos, poucas horas antes de Jailson de Pina ser encontrado sem vida por um guarda nocturno, mas que as autoridades não tinham encontrado nenhum vestígio de bala no local.
Até então, acreditou-se que o homem, de 39 anos, teria sido morto à paulada, versão que a própria Policia Judiciária suspeitava, tendo inclusive levado para análise três tacos de basebol que encontraram na casa onde Já vivia, na Fazenda, e que vieram a descobrir ser da própria vítima.
A hipótese de assassinato com taco de basebol, segundo apurou Santiago Magazine, era a mais consensual até para os investigadores, em contraponto com a de atropelamento seguido de encobrimento e abandono de sinistrado. Aliás, o ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, chegou inclusive a afirmar às antenas da RCV, no dia 13, que o caso da Fazenda, na Praia, não tinha nada a ver com assassinato, mas sim com um suposto acidente de viação.
O governante fez estas declarações no momento em que tentava desdramatizar o aparente avolumar de casos de homicídio na cidade da Praia, afirmando que a criminalidade diminuiu este ano face a 2016.
As declarações de Paulo Rocha, ex-inspector da PJ e ex-director do Serviço de Informação da República, caíram muito mal no seio dos familiares de Já. “Não sei por que o ministro disse aquilo. Porquê esconder que Jailson foi assassinado? Porquê mentir? Acho que ele foi muito irresponsável em dizer que se tratou de um acidente viação. Ou então quer condicionar a PJ a ir por esse caminho para justificar a sua frase de que o crime está a diminuir no país”, critica José Rui de Pina.
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