Eu, Andrea Gomes Sequeira, casada com Luis Lopes Gomes Sequeira, professora de Língua Portuguesa na cidade do Tarrafal, ilha de Santiago, estou completamente revoltada contra a lista de transferência publicada pelo Ministério da Educação, Família e Inclusão Social(ME), pelas seguintes razões:
1- Sou casada e a transferência foi solicitada para mim e o meu marido, a fim de irmos cuidar dos meus pais que se encontram com problemas de saúde e vivem sozinhos em São Vicente. Qual o meu espanto quando o meu marido foi transferido e eu não, mesmo que os documentos entregues por ele se referem aos meus pais;
2- Trabalho na ilha de Santiago há 7 anos, sete anos longe de casa e longe dos meus pais;
3- Minha filha de 6 anos iniciará o primeiro ano de escolaridade em São Vicente e eu não estarei aí para acompanhá-la nessa fase marcante para qualquer encarregado de educação e para qualquer criança que deseja ter os pais por perto acompanhando-a nesses primeiros passos da sua vida escolar. Sabe-se lá por que o ME me priva de tal direito;
4- Havia vagas em São Vicente, mas não sei porquê o ME achou que eu não era digna de nenhuma e que tinham de separar-me da minha família;
5- O meu pedido de transferência respeitava todos os trâmites exigidos pelo ME, mais de três anos de serviço fora da minha ilha - sete anos para ser mais precisa -, casada, relatório médico que comprovam a condição de saúde dos meus pais e que eles precisam de acompanhamento, e existência de vagas em São Vicente;
6- O estatuto da Mobilidade da Administração Pública no capítulo 2, artigo 5º, ponto 6, deixa claro que a união familiar deve ser privilegiada na solicitação de transferência, pois eles não podem prejudicar a vida pessoal e familiar dos funcionários que solicitam transferência;
7- Quando fui contactar os recursos humanos do ME as pessoas responsáveis simplesmente negaram atender-me, alegando que só receberão reclamação por telefone, telefone este que raramente atendem!;
8- Por meio de uma amiga consegui o contacto da sala do diretor dos Recursos Humanos, só que embora ele sempre me atenda o telefone a resposta é sempre a mesma: tenho de aguardar porque a lista de transferência já foi publicada e ele não pode fazer nada, e que terei de aguardar até 31 de Dezembro pelas aposentadorias para saber se o meu problema será resolvido ou não, problema este que poderia ser facilmente evitado caso fizessem um trabalho competente;
Eu pergunto, que direito o ME tem de me separar do meu marido, da minha filha e dos meus pais? Eu casei-me para viver junto daquele que escolhi como meu companheiro e pai dos meus filhos e não para nos encontrarmos apenas nas férias.
Pois, trabalho para viver, não vivo para trabalhar! Que direito tem o ME de privar-me de cuidar daqueles que cuidaram de mim a vida inteira e que agora precisam do meu cuidado? Que direito tem o ME de ditar como devo viver minha vida familiar? Que espécie de equipa o ME tem à frente dos pedidos de transferência? Que critérios eles usam para separar uma família, sem nenhuma razão concreta ou justificável? Por que se acham no direito de decidir se posso ou não acompanhar minha filha, meu marido e meus pais? Por que concederam transferência ao meu marido com os relatórios médicos dos meus pais, e eu que sou a filha fui deixada para trás? Que direito tem o ME de deixar a minha filha preocupada porque foi separada da mãe e questionando sempre se irei viver com ela ou não?
São tantas questões sem resposta! A minha revolta é tão grande que só eu sei a bagunça que está o meu psicológico e o meu ambiente familiar, mediante tantas incertezas e medo que se tornaram parte do meu dia a dia, e ainda exigem que eu dê o meu melhor dentro e fora da sala de aula.
Eu me recuso a separar-me da minha família e a ficar longe dos meus pais que precisam de mim e dos meus cuidados. Me recuso a ficar fora da vida escolar da minha filha, pois como professora sei a extrema importância do papel e acompanhamento dos pais na vida escolar dos filhos. Meu marido não desistirá da sua transferência pois é de extrema importância a nossa presença em São Vicente, sem se falar que é um direito que temos de regressar à nossa ilha.
Não tenho hábito de expor a minha vida e meus problemas nas redes sociais, mas este é o meu grito de desespero e revolta contra um Ministério que se diz protetor da família e da educação, Ministério este que me priva de cuidar da minha família e de educar a minha filha.
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