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Água, electricidade e internet! Na lista do sufoco do consumidor cabo-verdiano
Ponto de Vista

Água, electricidade e internet! Na lista do sufoco do consumidor cabo-verdiano

106 mil escudos é o montante equivalente ao consumo de água que a ADS diz que uma moradia familiar constituída por três pessoas, (dois menores e um adulto) utilizou durante um ano. Esse mesmo agregado familar chegou a consumir, segundo a ADS, mais de 16 toneladas de água em apenas um mês. O facto, é que a família em causa, não tem piscina, não têm jardim, não vende água e nem ousa beber a que sai das torneiras da casa onde habita. Recorre à compra de água de mesa e, por mês, cerca de seis a oito mil escudos são ajustados ao orçamento para o efeito.

Esta desesperante situação prolonga-se no tempo e junta-se a uma outra dor de cabeça mensal. O gasto com a electricidade.
A familia em causa foi presenteada com uma factura anual de electricidade (2022) a rondar 126 mil escudos. Este ano, o montante quase duplicou. A última factura recebida há cerca de uns dias ultrapassa 15 mil escudos.

A casa onde moram os três membros dessa família não tem arca frigorífica, termo-acumulador fica ligado no máximo 15 minutos de manh e o ar condicionado virou peça decorativa. Esta família que já solicitou várias vistórias às instalações para ver o porquê das facturas serem tão altas, acaba por pagar à Electra o valor que lhe é apresentado sob de ficar sem energia.

Das várias reclamações, algumas feitas informalmente junto à Adeco (Associação para a Defesa do Consumidor), outras formalmente junto da Provedoria de justiça e da própria ADS e Electra...hoje parte delas estão nos arquivos destas instituições. Dos argumentos apresentados para justificar, por exemplo, as mais de 16 toneladas de água/mês constam: "Ar nas torneiras". Perante a denúncia, ADS sugeriu a compra de uma ventosa. Sugestão acatada, mas sem sucesso.

A procura de novas explicações pelas "inexplicáveis" toneladas de água que a ADS garante que saíram das torneiras da residência, não pára, até porque o problema tem tido impacto no bolo orçamental do agregado familiar que tem filhos na universidade e outras contas mensais para pagar. A revisão ao contador detectou que o mesmo não estava a funcionar e acabou sendo substituído.

Seguindo em frente, sempre com o sonho de ver o problema resolvido e por incrível que possa parecer a situação manteve-se, convidando o consumidor a uma verdadeira gestão da sua inteligência emocional. A situação é, de facto, desgastante para não dizer abusiva, mas caminhada que se revela uma autêntica luta para que a justiça se faça, recai na busca de solução para evitar o que nos balcões tanto da Electra como da ADS se vê e se assiste com frequência: discussões e desabafos angustiantes a reivindicar justiça perante um monopólio que maltrata o consumidor Cabo-verdiano.

Sem alternativas, o consumidor não desiste e faz uma nova tentativa por sugestão de tantas outras famílias que vivem na pele o mesmo drama para ter acesso à água de uma forma justa e digna!

A família, cliente da ADS solicita uma vistoria às instalações. Para a tal, o cliente consumidor paga uma quantia de 800 escudos.
Com a vistoria feita, conclui-se que existe fuga de água nas canalizações da residência da família.

Primeira reflexão: pela quantidade da fuga de água, a sustentabilidade do prédio já teria estado em perigo, caso a constatação da ADS tenha lógica.

A familia impotente e inconformada com o diagnóstico da ADS decide procurar um canalizador independente. Este, depois de ver o contador, conclui que não há fuga de água!!

Mas o facto é que vale a palavra de quem tem o monopólio que tanto pode enviar ao cliente uma factura de 18 toneladas como também pode no mesmo seguinte mandar uma outra de 3 toneladas.

Acesso à internet

Nesta era digital, que se quer Cabo verde como referência africana, essa família paga pelo acesso à Internet em casa, cerca de 4.800 escudos, aguardando e fazendo um "alô" à espera que tudo mude.

Enquanto isso, faz contas à vida e recorre aos serviços multimédia outros. A família opta por pagar 2000 escudos/ano para ter televisão a cabo. Afinal sé gilbera ca ten dinher. E começa a ficar quebrôd qui nem djosa.

Por isso, decidiu seguir o conselho de muitos: registar o consumo que consta no seu contador e apresentar à electra ou ADS mensalmente.
A situação é deveras insuportável e insustentável.

Cabo Verde, rodeado por águas do Atlântico, brindado pelo intenso sol o ano inteiro, mas as suas gentes ainda não gozam de políticas energéticas que permitam ter água para todos nas torneiras de forma directa e electricidade mais acessível proveniente na nossa energia solar.

Quase 50 anos de independência, urge rever a política de produção e abastecimento de água e energia. É preciso pensar o país a longo prazo e empoderar famílias para uma melhor qualidade de vida de modo a que tenham acesso a bens essenciais de uma forma mais acessível e mais digna!

Artigo originalmente publicado pela autora na sua conta do facebook

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