O habitualmente movimentado mercado de peixe da Praia foi esta manhã pequeno para a festa levada pelos apoiantes de José Maria Neves, que dali saiu convicto que será eleito Presidente de Cabo Verde no domingo, à primeira volta.
“Claramente uma grande dinâmica de vitória e estamos a trabalhar para ganhar à primeira volta”, afirmou à Lusa o antigo primeiro-ministro cabo-verdiano (2001 a 2016), que agora concorre ao único cargo político que lhe falta na carreira: Presidente da República.
Ainda antes das 09:00 locais, José Maria Neves, 61 anos, passou por todas as bancas, com peixe em abundância, nomeadamente atum, de todos os tamanhos, sempre em clima de euforia. Os abraços repetiam-se por entre música, dança, apitos e batuques, recebido ainda com euforia e vozes de apoio, também, ao PAICV (Partido Africano da Independência de Cabo Verde, oposição, que liderou e que apoia a candidatura).
“A campanha, em alguns lugares, está a ultrapassar a minha expectativa. Acho que há uma grande mobilização nacional, um grande ‘djunta mom’ [dar as mãos, lema da campanha de José Maria Neves] de todo o Cabo Verde para elegermos um Presidente da República para estes novos tempos”, afirmou o candidato, professor universitário na Praia e que, além de primeiro-ministro e líder partidário, também já foi deputado nacional, presidente de câmara e ministro.
No início da última semana de campanha eleitoral, a confiança de José Maria Neves é partilhada por quem o apoia e ali trabalha, como ‘Zeza’ Lopes Moreira, 50 anos e há mais de 20 a vender peixe no cais da Praia.
“É um grande homem, de palavra, que cumpre tudo o que promete (…) foi um grande primeiro-ministro, um homem sério”, afirmou, ainda eufórica com a passagem do candidato pela sua banca de peixe.
“É um grande homem para Cabo Verde, responsável, de atitude, forte, que sabe fazer tudo. Não tenho dúvidas sobre quem é o candidato do povo: José Maria Neves”, atirou.
Impulsionado pelo apoio popular que recebeu, José Maria Neves garantiu que nas eleições de domingo é “o candidato dos cabo-verdianos, nas ilhas e na diáspora”: “A minha ideia é que com este apoio popular ganharemos as eleições à primeira volta”.
Nesta passagem pelo cais do porto da Praia, José Maria Neves ouviu também reclamações, como as de Admilson Tavares, 35 anos, pescador desde os 12 anos e que aproveitou a presença do candidato para pedir mais atenção aos homens do mar.
“Sofremos muito no mar, por isso precisamos de ajuda. Quando dão algum dinheiro, nós não recebemos nada, primeiro chega aos armadores. Por isso, os pescadores precisam de ajuda. Porque é difícil para nós, pequenos pescadores, pescar nas nossas águas. Mas é aí que comemos e vivemos”, lamentou.
A campanha eleitoral para as eleições presidenciais em Cabo Verde, para as quais estão inscritos quase 400 mil eleitores, termina na sexta-feira e José Maria Neves, que já visitou em pré-campanha as principais comunidades cabo-verdianas na diáspora, na Europa, América e África, promete ir a todas as ilhas.
Cabo Verde realiza eleições presidenciais em 17 de outubro de 2021, às quais já não concorre Jorge Carlos Fonseca, que cumpre o segundo e último mandato como Presidente da República. Caso nenhum candidato consiga a maioria dos votos no domingo, a segunda volta, com os dois mais votados, está agendada para 31 de outubro.
O Tribunal Constitucional admitiu as candidaturas a estas eleições de José Maria Pereira Neves, Carlos Veiga, Fernando Rocha Delgado, Gilson Alves, Hélio Sanches, Joaquim Jaime Monteiro e Casimiro de Pina.
Esta é a primeira vez que Cabo Verde regista sete candidatos oficiais a Presidente da República em eleições diretas, depois de até agora o máximo ter sido quatro, em 2001 e 2011.
De acordo com a Constituição de Cabo Verde, o Presidente da República é eleito por sufrágio universal e direto pelos cidadãos eleitores recenseados no território nacional e no estrangeiro.
Só pode ser eleito Presidente da República o cidadão “cabo-verdiano de origem, que não possua outra nacionalidade”, maior de 35 anos à data da candidatura e que, nos três anos “imediatamente anteriores àquela data tenha tido residência permanente no território nacional”.
Cabo Verde já teve quatro Presidentes da República desde a independência de Portugal em 1975, sendo o primeiro o já falecido Aristides Pereira (1975 - 1991) e por eleição indireta, seguido do também já falecido António Mascarenhas Monteiro (1991 – 2001), o primeiro por eleição direta, em 2001 foi eleito Pedro Pires e 10 anos depois Jorge Carlos Fonseca.
As últimas presidenciais em Cabo Verde, que reconduziram o constitucionalista Jorge Carlos Fonseca como Presidente da República, realizaram-se em 02 de outubro de 2016 (eleição à primeira volta, com 74% dos votos).
Comentários