
O secretário-geral do MpD, Luís Carlos Silva, avisou hoje que cabe ao Governo governar e que o Presidente da República, que criticou fortemente as opções do executivo, não tem essa responsabilidade.
“O Presidente da República tem as suas responsabilidades, mas dentro dessas responsabilidades não está certamente governar. A quem recai a competência e a responsabilidade de governar é ao governo e o Governo governa com base num programa que foi sufragado pelos cabo-verdianos”, afirmou Luís Carlos Silva.
“E neste programa essas medidas e essas soluções estão lá. O senhor Presidente da República pode, sim, questionar, pode duvidar dos resultados ou do caminho, mas não pode condicionar o caminho, que é responsabilidade do Governo”, acrescentou.
O dirigente do MpD falava em conferência de imprensa na sede nacional do partido, na Praia, reagindo à declaração ao país do chefe de Estado, José Maria Neves, esta manhã.
“Críticas duras às opções do Governo”, classificou o responsável do MpD, partido no poder desde 2016.
“O Presidente da República também criticou algumas opções de políticas que, claro, assenta na sua visão ideológica. Aqui temos de ser frontais: o governo tem de governar com base no seu programa sufragado pelo povo”, advogou.
Um programa, prosseguiu, “estruturado numa visão alternativa de políticas fundamentadas na liberdade económica, na economia de mercado e onde o setor privado assume quota-parte do processo de desenvolvimento, sem nunca descurar a política social e o necessário serviço público para mitigar os constrangimentos naturais de Cabo Verde, como a insularidade” e o facto de ser arquipélago.
“Não podemos ambicionar chegar a outros destinos, fazendo reiteradamente o mesmo caminho. Por mais de 15 anos se tentou uma determinada solução e os resultados não foram suficientes”, reagiu ainda Luís Carlos Silva, aludindo ao período de governação de José Maria Neves.
O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, antigo primeiro-ministro (2001 a 2016) pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) criticou hoje o Governo pelo “retrocesso em setores vitais” do país, com foco nos transportes marítimos, e com decisões que são tomadas decisões cuja lógica e propósito “não se entendem”.
“Legitimamente, a nação inquieta-se e indigna-se com o inegável retrocesso em setores vitais ao nosso Estado arquipélago. Verifico com preocupação que são tomadas decisões cujo propósito e cuja lógica não se entendem, principalmente quando tudo levava a crer que medidas iam ser tomadas e elas até já haviam sido anunciadas, mas eis que as instituições públicas recuam e se se apequenam. Essas mesmas decisões que são tomadas num dia para se recuar no dia seguinte sinalizam que as mesmas não foram suficientemente amadurecidas”, afirmou José Maria Neves.
Após a mensagem de 12 minutos, em declarações aos jornalistas, o Presidente da República explicou que não foi ouvido sobre o recente aumento de até 80% nas tarifas dos transportes marítimos – entretanto parcialmente suspensa pelo Governo – e a adenda decidida ao contrato de concessão desses transportes, atribuída por 20 anos, desde 2019, à CV Interilhas (do grupo português ETE), afirmando que não é possível assistir de “ânimo leve” a “discursos contraditórios e descoordenação a nível da formulação de políticas”.
“Em relação à suspensão da aplicação da nova tarifa no transporte de cargas, também referida pelo Presidente, entendemos que é importante garantir a sustentabilidade do setor, mas também é fundamental garantir que os preços sejam justos e acessíveis para todos. Acreditamos que a suspensão é uma medida prudente que permite uma reavaliação do impacto do aumento de preços na economia e na vida das pessoas”, afirmou Luís Carlos Silva.
“Estamos confiantes de que, em diálogo com todas as partes interessadas, será possível chegar a um acordo que permita um transporte de cargas justo e acessível para todos os cabo-verdianos”, acrescentou.
Sobre a excessiva partidarização do espaço público, fortemente criticada pelo Presidente na mesma mensagem, o secretário-geral do MpD salientou tratar-se de “um problema antigo” e que resulta, “em grande medida”, do percurso histórico-político e dos modelos de governação “implementados, particularmente, pelo PAICV”.
“O partido Estado, no pós-independência, e, depois, já em democracia, um modelo baseado num grande centralismo político, económico e social. Em ambos os casos, o resultado foi a perpetuação de uma excessiva partidarização do espaço público. Neste particular, o MpD tem feito um forte trabalho no sentido de libertar a sociedade desta partidarização”, contrapôs.
“É com esta ambição que apresentamos a iniciativa legislativa para impor uma série de incompatibilidades entre os cargos executivos nos partidos e no governo. Infelizmente, na altura, o PAICV não entendeu o alcance e a importância desta iniciativa e acabou por chumbá-la”, apontou.
Para Luís Carlos Silva, também não passou despercebido “o facto de o Presidente em nenhum momento relacionar os tempos difíceis e complexos que o país enfrenta com as sucessivas crises”.
“Na nossa perspetiva, é claro e cristalino, que o acréscimo de dificuldade e de complexidade que hoje enfrentamos é o novo normal, resultado das crises, as maiores de todos os tempos, que tivemos de enfrentar”, concluiu.
Os comentários publicados são da inteira responsabilidade do utilizador que os escreve. Para garantir um espaço saudável e transparente, é necessário estar identificado.
O Santiago Magazine é de todos, mas cada um deve assumir a responsabilidade pelo que partilha. Dê a sua opinião, mas dê também a cara.
Inicie sessão ou registe-se para comentar.
Comentários