• Praia
  • 29℃ Praia, Cabo Verde
Andam a brincar à segurança na PN* - Por Manuel Alves
Ponto de Vista

Andam a brincar à segurança na PN* - Por Manuel Alves

Sobre a greve na Polícia Nacional, o roubo de um Kalashnikov na Esquadra da Boa Vista e o assalto à agência do BCN em Boa Vista - um exercício de cidadania e liberdade. 

Indubitavelmente, o mês de Dezembro de 2017 fica nos anais da polícia cabo-verdiana, não pela agregação de valores que notabilizam a sua imagem, mas pelos factos ocorridos nesse mês, que abalaram a reputação dessa que é uma das instituições mais antigas de Cabo Verde.

Antes de tudo, duas questões merecem atenção e respostas prévias, a saber:

A quem cabe a responsabilidade, ao mais alto nível institucional, por tudo que tem acontecido na PN?

A quem cabe a responsabilidade de, ao mais alto nível institucional, garantir a coesão interna e a união da classe policial (agentes, subchefes e oficiais)?

Essas responsabilidades são do Ministro da Administração Interna, do Director Nacional da PN e dos Adjuntos do DN, ao mais alto nível institucional.

Esses dirigentes são os principais responsáveis pelas ocorrências da greve na Polícia Nacional, do roubo da metralhadora Kalashnikov na Esquadra da Boa Vista e da consequente utilização dessa arma de guerra no assalto à agência do BCN nessa ilha, todos ocorridos em dezembro de 2017. Pois, os mesmos são responsáveis do bem e do mal, de tudo que beneficia, mas também de tudo que prejudica.

A greve na corporação policial é um caso inédito, sem precedentes, que ficou marcada pela intolerância, arrogância, subestimação, prepotência e uma fraca capacidade de negociação, de persuasão e de liderança funcional. Pois, a forma como tudo aconteceu, comprova a falta de traquejo em saber lidar com questões aparentemente triviais, mas complexas e imprevisíveis.

Não fosse a greve a última arma dos trabalhadores numa luta legal, em defesa dos seus legítimos interesses, não se compreenderia a razão que levou os polícias a participarem massivamente, a nível nacional, nessa greve dezembrina de 2017.

Como em tudo, até se chegar à decisão e mobilização dos grevistas, houve um processo cronológico que inclui o pré-aviso da greve, a reunião de negociação do caderno reivindicativo entre as partes antagónicas, sob a mediação da Direcção do Trabalho e, finalmente, a consumação da greve, de modo que não foi um acontecimento inopinado.

Sendo a greve o ultimo rácio de uma luta pacífica, legitima e legal dos trabalhadores como meio de pressão sobre o empregador, só é utilizada quando estão esgotados todos os mecanismos de diálogo e persuasão possíveis.

No caso em análise, para além da intolerância e subestimação exercidas por uma superestrutura arrogante e inexperiente, nota-se uma lastimável incompetência no uso excessivo da força ou seja abuso do poder por parte dessa superestrutura incompetente, que comprometeu a boa imagem de um Governo que não merecia essa nódoa, considerando o seu pouco tempo de exercício e as causas motivacionais dessa greve. Não interessa entrar em detalhes.

Igualmente, ficou provada a incapacidade de liderança e comando institucionais, quando não se conseguiu persuadir os colaboradores sobre os mais elevados interesses públicos, para que a greve ficasse adiada a uma outra ocasião, algo que poderia ser perfeitamente negociado. Haviam razões de sobra que serviriam de argumento, sendo a seca e as suas consequências, as que o bom senso de qualquer cidadão recomendaria e acolheria.

Em vez disso, enveredou-se pelo caminho sinuoso da subestimação e desprezo dos líderes sindicais cuja capacidade de mobilização, organização, direcção e coordenação superou de longe as iniciativas atabalhoadas de um quadruplo fechado que não foi capaz de envolver as outras chefias na busca de soluções progressistas e vantajosas para todos.

Quem não consegue lidar com os seus, pior será com os outros, porventura houver situações imprevisíveis de violência concertada.

A comunicação pública do actor principal desse quadruplo foi um desastre, de cada vez que abria a boca para menosprezar os protagonistas da greve que, subestimados e desconsiderados, encontraram nessa deficiente capacidade de comunicação o motivo razoável para partir para a luta, contando com a esmagadora maioria dos agentes e subchefes.

Essa desditosa greve, provocada pela superestrutura da PN que não soube lidar com os seus subordinados funcionais, líderes sindicais, que sentiram na obrigação de a promover como último rácio de luta, não foi o único caso interno cuja gravidade merece atenção e análise.

Pois, o roubo da metralhadora Kalashnikov na Esquadra da Boa Vista, ocorrido no dia 10 de Dezembro de 2017, é de uma gravidade incalculável, considerando as questões o que é, onde, quando, quem, como e porquê?

Por natureza, uma esquadra policial é um lugar seguro, onde qualquer um não consegue entrar e roubar uma arma de guerra sem deixar rastos.

Teria que ser um acto praticado por um interno da polícia ou por estranho a coberto daquele. Outra hipótese seria contraditória.

Procurando proteger a honra da “virgem violada”, baseado num amadorismo inviolável, a superestrutura pensante da segurança interna enviou à Boa Vista, de uma assentada, meia dúzia de oficiais, incluindo superintendentes e subintendes de elevadas responsabilidades funcionais, para uma operação peregrina de investigação caseira sobre o paradeiro do Kalashnikov roubado.

Uma semana foi suficiente para esses oficiais, incluindo um ex-comandante geral da POP, regressarem à base de “mãos a banar”, como se tratasse de um mistério praticado por um extraterrestre sem deixar rastos.

Em vez de acionar a Policia Judiciária cuja competência técnica e jurisdicional é inquestionável para a investigação de crimes dessa natureza, sendo roubo de uma arma de guerra, praticado numa instituição pública por desconhecido, a superestrutura da segurança interna optou pela salvação da honra do convento, até que no dia 29 de Dezembro essa arma de guerra fosse escandalosa e perigosamente utilizada no assaltado à agência do BCN, no mesmo dia e hora em decorria a greve dos efectivos da Polícia Nacional.

A questão que fica na penumbra é se o Ministério Público também não terá sido noticiado desse roubo, a tempo de acionar a PJ que colocaria os eventuais suspeitos da PN sob vigilância, seguimento e outras técnicas de investigação, de forma que o autor do roubo e os seus cúmplices fossem descobertos sem que tivessem utilizado essa arma no assalto consumado à agência do BCN.

Nada obstaria que essa arma em mãos indevidas não fosse utilizada para a prática de crimes mais graves como atentados à vida e ou à integridade física de entidades públicas, turistas ou outros bens patrimoniais sensíveis.

Andam a brincar à segurança!...

Pois, a superestrutura da segurança interna não tomou medidas que impedissem essa proeza, até o dia em que aconteceu o escandaloso assaltado à agência bancária, envolvendo um agente da Esquadra da Boa Vista e um Kalashnikov subtraído na mesma Esquadra.

É Implicado nessas trapalhadas todas, que o quadruplo da superestrutura da segurança interna, desatento às suas obrigações, tem andado a perseguir o Comandante Elias Silva, os líderes sindicais do SINAPOL e outros que não pactuam com esse estado de coisas.

Deviam saber que em todas as lutas há Heróis e vilões, sejam elas de que natureza forem. Para os polícias, nesse caso, os heróis são os seus líderes sindicais que conseguiram vencer uma luta, da forma como conseguiram, depois castigados e perseguidos.

A continência que se faz a esses colegas é com honra, respeito e confiança e não por imposição do cargo conjuntural.

Está sobejamente provado que esse quadruplo é um óbice aos objectivos do Governo que tem demonstrado a vontade política para a área da segurança interna, expressa em investimentos na melhoria salarial do pessoal policial e aquisição de equipamentos diversos.

Fica registado que o mérito é do Governo democrático e do SINAPOL, que acabaram por se entender, saindo todos a ganhar, e não do Ministro da Administração Interna e os seus acólitos que, com base numa estratégia de dividir para reinar, premeiam uns e castigam outros, de forma aleatória e maquiavélica.

No seio da Polícia Nacional, o sentimento da maioria, é de que esse Ministro da Administração Interna não é amigo dos polícias. Basta ver a quantidade de oficiais superiores em regime de assédio moral, sem qualquer ocupação que corresponde com a patente, a quantidade de polícias castigados arbitrariamente na sequência da greve cujos recursos contenciosos aguardam a decisão judicial, entre outras mazelas.

Nisso tudo, o caso mais caricato é de um superintendente na dependência de um outro superintendente, colocados numa unidade orgânica, tendo com eles um intendente e um subintendente, perfazendo quatro oficiais superiores, com mais dois comissários, a “marrarem as velas”, como se costuma dizer, subaproveitados.

Para além desses, há mais oficiais superiores colocados na “prateleira”, uma autêntica desvalorização de quadros, submetidos a um esquema estalinista de assédio moral.

Basta uma auditoria independente para se tirar as conclusões!…

Artigo publicado por Manuel Alves no facebook

*Título da responsabilidade da redação

Partilhe esta notícia

SOBRE O AUTOR

Redação