Ex-presidente da Comissão Executiva (PCE) do Novo Banco responsabiliza os accionistas pelo descalabro do banco público. Porque, diz, não reforçaram o capital como os estudos recomendavam e os próprios assumiram.
Carlos Moura, que foi PCE do Novo Banco entre 2013 e 2016, não tem dúvidas: “se tivesse sido cumprido as realizações de capital, conforme ditava o plano de negócios, as coisas poderiam ser diferentes”, disse esta quarta-feira, 12, o ex-gestor do Novo Banco à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), criada para esclarecer os contornos da criação e extinção dessa instituição financeira criada em 2010 e extinta este ano pelo BCV.
Segundo Moura, ao longo dos anos não houve qualquer reforço do capital, que, de acordo com o plano de negócios, devia atingir os 900 mil contos. “O capital inicial era de 300 mil contos e o plano de negócios descrevia que o reforço do capital devia chegar até 900 mil contos”, afirmou, reiterando que “o problema do capital bloqueou todo o desenvolvimento do Novo Banco”.
O gestor sublinhou aos deputados da CPI que todas as auditorias feitas indicavam para a necessidade de investimentos no Novo Banco, que, entretanto, não eram suportados pelos accionistas, daí rejeitar qualquer acusação de má gestão como a causa pelo descalabro financeiro do NB - de resto uma posição que já tinha assumido anteriormente na imprensa.
O banco, revelou ainda, funcionava sem um departamento de auditoria interna porque a sua criação teria que aumentar os custos de estrutura e de certa forma complicar o resultado seu líquido, que, na altura em que entrou, já era negativo. “Nós fomos fazendo aquilo que podíamos porque o banco estava a funcionar e não havendo capital não podíamos fazer despedimentos, não podíamos fechar” disse.
Conta ainda que quando entrou para a gestão do Novo Banco, em 2013 encontrou a “situação já complicada”, tendo recebido também a indicação que os accionistas não estavam dispostos a injectar mais capital.
Por isso, adiantou que elaborou um plano de recuperação e saiu em busca de parceiro externo. “Encontramos esse parceiro, Afriland First Bank dos Camarões, e o trouxemos para aqui, mas o negócio não foi para frente”, revelou, acrescentando que houve também um plano encomendado do PWC, empresa portuguesa, que também não foi viabilizado pelos accionistas.
Carlos Moura é de opinião que caso esses planos tivessem sido aprovados pelos donos o banco estaria a funcionar normalmente pelo que considera que “foi um erro o fecho do Novo Banco”.
Único banco de capital público em Cabo Verde, o NB foi encerrado em março deste ano através de uma medida de resolução decretada pelo banco central, e que consistiu na alienação parcial das suas actividades e da maior parte dos seus activos e passivos à Caixa Económica de Cabo Verde (CECV). Em causa o au funcionamento do NB que causou prejuízos de mais de um milhão e 800 mil contos aos Estado. Como resultado da sua extinção cerca de 60 trabalhadores foram para o desemprego.
Eram accionistas do Novo Banco, o Estado de Cabo Verde que tinha uma participação de 42,33%, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) com 28,28%, a com CECV 11,76%, os Correios de Cabo Verde com 7,35%, a Imobiliária Fundiária e Habitat (IFH) com 7,35% e o Banco Português de Gestão com 2,94%.
Santiago Magazine/Inforpress
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