Paulo Mendes, sociólogo cabo-verdiano e ex-presidente da Associação de Imigrantes no vizinho arquipélago português, aconselha ponderação na forma como se deve tratar o caso da agressão fatal a um cidadão cabo-verdiano, no domingo, à porta de uma discoteca na ilha do Faial, Açores. “Ainda não sabemos o que realmente aconteceu, pelo que é preciso perceber antes se as motivações foram ou não racistas”, pontua Mendes, hoje empresário e ex-vereador da Câmara Municipal de Ponta Delgada.
Os cabo-verdianos e emigrantes africanos residentes na ilha açoreana do Faial vão fazer uma vigilia às 18h00 desta terça-feira, 19, e uma manifestação antirracista em protesto contra o homicídio de Ademir Araújo Moreno, que no domingo sofreu uma violenta agressão à porta de uma discoteca na cidade da Horta, Açores.
Ademir, de 50 anos e natural da Fazenda, Praia, caiu inanimado e teve de ser induzido ao coma para ser tratado no Hospital local. Ontem, 18, não conseguiu resistir à pancada e faleceu, levando a comunidade imigrada no Faial a agendar para esta terça-feira uma manifestação antirracial em frente à Câmara Municipal da Horta.
Santiago Magazine conversou com o empresário, político e sociólogo cabo-verdiano Paulo Mendes, residente nos Açores há cerca de duas décadas, que pede alguma calma nesta hora. “Não sabemos ainda o que realmente aconteceu nessa noite. Houve uma situação de homicídio involuntário ou não, é preciso averiguar, mas é preciso muito cuidado em fazer uma ligação directa com uma questão racial”, começa por observar Paulo Mendes, cabo-verdiano, fundador e ex-presidente da Associação dos Imigrantes nos Açores e ex-vereador de Cultura, Inovação e Empreendedorismo na CM de Ponta Delgada.
Segundo ele, pelas informações que recolheu até este momento houve uma altercação entre o cabo-verdiano e um açoreano frente a uma discoteca na cidade da Horta. “Os dois estariam com uns copos, brigaram. Ao que consta, o cabo-verdiano, depois de supostamente levar um soco, terá batido com a cabeça na calçada. Mas, como referi, ainda não sabemos ao certo as causas dessa confusão, por isso é necessário apurar todos os dados antes de apontar este caso como sendo de racismo. Agora, é verdade, houve um crime que está a ser investigado e cujas responsabilidades devem ser assacadas”, analisa o sociólogo praiense.
Paulo Mendes considera “uma tragédia” o que aconteceu no domingo, mas insiste em não relacioná-lo com qualquer laivos de racismo. “Não temos casos tão visíveis de racismo nos Açores. Não estou a dizer que não existem, quero é deixar claro que é preciso perceber o que ocorreu. O arquipélago dos Açores não está imune à onda de discursos de ódio e de racismo vindos do Continente, mas vale realçar a relação de entrega, o bom acolhimento que é dado pelos açorianos aos imigrantes, principalmente cabo-verdianos”,
De acordo com números oficiais, existem mais de 200 cabo-verdianos a residir nos Açores, mas o número pode ascender a meio milhar se se adicionar os que adquiriram nacionalidade portuguesa e que não aparecem nos registos como imigrantes. A grande maioria aproveita o défice de mão-de-obra local para ir trabalhar no sector da Construção Civil, mas hoje em dia, segundo Paulo Mendes, têm estado a chegar um número considerável de cabo-verdianos para trabalhar no ramo da Restauração e Hotelaria.
Normalmente, os cabo-verdianos estão instalados em grande parte na ilha de São Miguel, depois Faial, Terceira e Pico.
Esta segunda-feira, 18, um cidadão cabo-verdiano morreu depois de sofrer uma violenta agressão na porta de uma discoteca na cidade da Horta, nos Açores, no fim de semana. Ademir Araújo Moreno, 50 anos, foi colocado em coma induzido, mas não conseguiu resistir à brutalidade do ataque.
Ademir Araújo Moreno, natral da Fazenda, Praia, trabalhava no ramo da construção civil nos Açores. Foi brutalmente agredido no exterior de uma discoteca em circunstâncias ainda por apurar. Após ser atacado, caiu inanimado no chão, sem que o agressor lhe tenha prestado qualquer auxílio. Faleceu esta segunda-feira, com traumatismo craniano.
As autoridades policiais da ilha do Faial tomaram logo conta da ocorrência, identificaram as pessoas envolvidas e encaminharam o processo para o Ministério Público, que já requereu a participação da Polícia Judiciária, mas até este momento ainda não deteve o suspeito, indicou fonte da PSP à Lusa.
Até ste momento, apenas o jornal Açoriano Oriental noticiou este acontecimento no arquipélago vizinho. O Diário dos Açores e o Correio dos Açores ficaram mudos.
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