Praia. Rotas do chocolate
Cultura

Praia. Rotas do chocolate

I

A história é outra! Gosto do chocolate apesar de nunca ter plantado o cacaueiro (Theobro macaca) que é uma planta nativa de uma região que vai do México, passando pela América Central, até, à região tropical da América do Sul, que vem sendo cultivada desde pelo menos três mil anos nessas regiões. Hoje os maiores produtores estão na África Ocidental e Equatorial. Mas chocolate faz e tem história. As “Chocolate House” britânicas eram idênticas às já florescentes “Coffee House”. Essas casas eram, muitas vezes, cena de jogos, intrigas políticas e distração, tanto que uma casa do chocolate (a White’s) localizada em Londres serviu como cenário da série de pinturas “Rake Progress” de William Hogarth. O fruto Kakau (cacau) escrito na língua maia, uma das línguas indígenas mesoamericanas. Usando o termo Maia chocol juntado com o termo asteca atl, que significaria chocol (quente) com o atl (água) neologismo cunhado pelos espanhóis a partir dos termos maia e asteca que seria traduzido, literalmente, como água quente. Curioso! Henri Nestlé, fundador dos chocolates Nestlé, foi um dos criadores, juntamente com Daniel Peter do chocolate au lait.

II

Chorar...tanto chorar porque há histórias tristes... Muito tristes que se cruzam com a fome, com o desespero, com a mentira e com a verdade e com as secas cíclicas em Cabo Verde nas rotas da plantação e da colheita do Kakau nas roças de São Tomé. Ó alma doutras narrativas cantadas e escritas com o derramar de lágrimas e de sangue! Ó historias que estremecem de ódio e vibram em comunhão com o processo da miscigenação nas rotas da escravatura e as do Theobromacacao! Tudo blasfémia do mal contra a raça, a carne e o fruto do Ser da natureza.

III

Chorar...chorar para quê! Se no caldeirão da miscigenação na Cidade Velha germinaram crioulas de língua, da cultura, da cor do chocol (quente), da bandeira vodu haitiano de povos africanos como igbos, bacongos e iorubás, do lukumi, regla de ocha ou santeria de Cuba e o camdomblé e a umbanda do Brasil.

IV

Chorar...chorar para quê! Se no caldeirão da mestiçagem angolana há o imaginário da sereia Kianda, a deusa das águas amada do Pepetela com “O Silêncio da Kianda” e “Oferendas para a Kianda” do artista plástico Jorge Gumbe.

V

Ó chorar… chorar para quê! Se quando lembro-me da alegoria” O Sermão de Santo António aos Peixes” pregado no Maranhão, Brasil, pelo Padre António Vieira contra a desumanidade com que os colonos tratavam os índios.

VI

Ó chorar… chorar para quê! Se quando regresso à Cidade Berço da miscigenação lembro-me que foi a mestiçagem que germinou e originou no caldeirão da cultura a língua crioula e as rotas de chocolate.

VII

Chorar...chorar para quê! Se a minha cidade Praia de Santa Maria é, hoje, rota do chocolate com o Sol a sorrir sob os beijos das manhãs. Prefiro deixar um recado à casa do chocolate (a White’s) porque sentai-vos à mesa em Londres com uma mulher cor da mestiçagem para oferecê-la o chocol (quente)? Ó Deus do céu! Praia tem bons irmãos não deve ver nem o lobo nem o cordeiro por que temos a mulher crioula da cor do chocolate. Eu sem mesmo antes de ter conhecido a história que aqui relato; para o meu paladar sempre preferi degustar o chocol (quente) au lait.

 

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