Desafios críticos
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Desafios críticos

Se há 20 ou 30 anos atrás um eleitor poderia ficar satisfeito com a inauguração de um chafariz ou instalação de um poste de luz público, agora o nível de exigência desse mesmo perfil de eleitor é completamente diferente e nem sempre os governantes estão em sintonia com as suas exigências, por isso, se explica o aumento da insatisfação com a democracia. As greves e manifestações que povoaram o nosso cenário social nestes últimos anos, por exemplo, a greve dos professores nos dias 19 e 20/09/24, se inserem nesse contexto de uma nova realidade política e social que requer uma maior capacidade de entrega de resultados pelo Governo que, infelizmente, não se verifica.

Com a institucionalização do regime democrático de governo e o estado democrático de direito em Cabo Verde nos inícios dos anos 90 do século passado a agenda de encargos que o Estado assumiu era extenso e complexo e muito desafiante para os diferentes governos que se sucederam ao longo desses últimos 30 anos.


1. Com efeito, os caboverdeanos aceitaram bem o novo regime político segundo os dados do afrobarometer, em 2002, do total dos eleitores maiores de 18 anos, 65,4% preferiam viver em democracia em relação a qualquer outro regime político; 20 anos depois, em 2022, aqueles que preferiam viver em democracia aumentou para 83,8%.

2. Porém, à medida que se aumentava a preferência pelo regime democrático, aumentava-se, simultaneamente, a insatisfação com a democracia que os inquiridos experimentavam: em 2002, há 20 anos atrás, 60,1% dos eleitores afirmavam que estavam pouco ou nada satisfeitos com a democracia; em 2022, a taxa de insatisfeitos subiu para 72,3%.

3. Por outro lado, aqueles que consideravam estar satisfeitos ou muito satisfeitos com a democracia era 32,9%, em 2002, e caiu para 25,6%, em 2022.

4. Sociologicamente, o quadro sócio-demográfico, económico e social alterou, consideravelmente, ao longo desses últimos 30 anos: alterações na estrutura demográfica com cada vez mais, com menos crianças e, com cada vez mais com mais indivíduos com mais de 65 anos, a média dos anos de estudos da população geral e infato-juvenil aumentou, a classe média se expandiu, não obstante, a persistência de expressivos contigentes populacionais abaixo do nível de pobreza e o aumento das desigualdades sócio-económicas.

5. As demandas políticas, sindicais, profissionais, corporativas, económicas, culturais e outras tornaram-se tanto quantitativa quanto qualitativamente maiores e mais complexas e exigem da parte dos sucessivos Governos muito mais requinte, destreza e habilidades para a entrega dos resultados.

6. Se há 20 ou 30 anos atrás um eleitor poderia ficar satisfeito com a inauguração de um chafariz ou instalação de um poste de luz público, agora o nível de exigência desse mesmo perfil de eleitor é completamente diferente e nem sempre os governantes estão em sintonia com as suas exigências, por isso, se explica o aumento da insatisfação com a democracia.

As greves e manifestações que povoaram o nosso cenário social nestes últimos anos, por exemplo, a greve dos professores nos dias 19 e 20/09/24, se inserem nesse contexto de uma nova realidade política e social que requer uma maior capacidade de entrega de resultados pelo Governo que, infelizmente, não se verifica.

 

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