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Elite crioula tem um problema com casas de banho
Entrelinhas

Elite crioula tem um problema com casas de banho

Sucedem-se declarações contra a construção de casas de banho. Sim, é verdade! E admitimos que pode parecer estranho. O que fará a elite crioula, as mais das vezes tendo feito alpinismo social à sombra do Estado, dos governos de plantão e do dinheiro público, unir-se neste uníssono contra as casas de banho, utilizando argumentos depreciativos e priorizando grandes projetos que, quando tiveram oportunidade de executar, nunca fizeram?

A sanha contra as casas de banho, ao que nos recordamos, teve a sua inauguração meses atrás, através de um alto detentor de um cargo do Estado, foi passada a várias vozes e, finalmente, esgrimida por um ex-autarca.

O problema da elite crioula com casas de banho pode ser explicado à luz da sua visão elitista e classista que aposta em políticas públicas direcionadas (supostamente, porque é uma armadilha semântica) para o turismo, mas, também (e principalmente), para a ocupação do espaço urbano pelos delírios estéticos e egoístas dos que se julgam donos da cidade e abominam os pobres devidamente empurrados para as ruas detrás.

Uma elite com memória curta

Muita desta elite, já esquecida dos tempos em que andava de pé no chão e tomava banho de canequinha, muito antes de ter subido socialmente nas costas dos partidos e do Estado, sente um verdadeiro desconforto pela existência de pobres, não por uma questão humanista e muito menos solidária, outrossim porque os desvalidos da sorte ofuscam os sonhos de grandeza e faz-de-conta que são a estrutura medular dos novos ricos.

É o ódio aos pobres, utilizáveis nas campanhas e descartáveis logo a seguir, que faz mover esta elite habitante de uma bolha, no seu mundo paralelo de felicidade almofadada.

É o preconceito de classe que domina a elite crioula, para quem o desenvolvimento não casa com progresso social e as políticas públicas devem estar viradas para meros gestos pontuais de caridade, não de solidariedade, e muito menos para levantar as pessoas e dar um outro sentido às suas vidas, porque é preciso ter ativo o mercado de compra de consciências.

Pobres empilhados nos fundos do quintal

Por isso, tanta a urgência de “tomar a Praia, custe o que custar”, para a devolver à especulação imobiliária, à privatização de serviços públicos e à ganância dos negócios. Querem uma cidade para os ricos, com os pobres empilhados nos fundos do quintal!

Não precisamos de candidatos para fazer casas de banho?! Claro que precisamos e precisamos muito! Como precisamos de presidentes que não se limitem a pintar escadas, muros e lambris de passeios, e apostem forte em habitação digna, em desenvolvimento local, numa cidadania ativa e em empoderamento da comunidade.

Aliás, em consonância com recomendações da ONU e da União Europeia, que têm sido parceiros da construção de muitas casas de banho em vários municípios.

O mundo paralelo da elite, a bolha de felicidade almofadada e o egoísmo antissocial é que não casam com uma cidade que tenha como centro o interesse geral de pessoas e comunidades.

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