Colunista

Acompanho, de fora, a eleição interna do PAICV, e embora não seja militante do partido, não posso deixar de expressar minha preocupação. O que tenho observado nas últimas semanas me deixa cada vez mais convencido de que a política do nosso amado país se transformou em uma arena de oportunismos, em um mecanismo para alcançar poder e sucesso pessoal.

Esse anseio desenfreado, sem limites ou consideração pelos meios utilizados para alcançá-lo, é sem dúvida, triste e preocupante. O que está em jogo, aparentemente, não são os interesses da população nem os desafios reais que o país enfrenta, mas sim os interesses de um grupo restrito de pessoas, que se empenham, a qualquer custo, em conquistar o poder.

Este cenário, infelizmente, reflete o atual estado da política nacional, onde muitos parecem mais preocupados em chegar à mesa onde se serve o "prato principal" do oportunismo e do carreirismo, do que em realmente servir o povo. Há uma classe política que, sob o falso nome de "políticos" e "servidores públicos", utiliza os recursos limitados de uma população vulnerável para garantir seus próprios benefícios. Esse quadro é, de fato, lamentável.

É importante que o PAICV e seus dirigentes tomem consciência disso, pois o que se passa hoje dentro do partido, com essa disputa interna, evidencia uma luta pelo poder que não se diferencia muito do que se observa no MpD. Posso até estar errado na minha leitura, mas a impressão que fica é de que, hoje, o interesse pelo bem-estar do país está sendo deixado de lado em prol da manutenção de um sistema político que, ao invés de focar nas necessidades da população, parece mais voltado para a satisfação de interesses pessoais e de pequenos grupos.

O PAICV carrega um legado histórico significativo na construção do país que temos hoje. No entanto, é triste perceber que o partido deixou de ser um movimento de causas e passou a ser um espaço destinado à realização de objetivos individuais e pessoais. Não me levem a mal, não estou aqui para atacar o partido, muito pelo contrário. Como jovem, estou fazendo um apelo por mudança. Sou, sim, simpatizante do PAICV e acredito que é possível retomar o caminho da construção de um Cabo Verde mais justo, mais desenvolvido e mais inclusivo.

O que preocupa hoje é que muitos que se filiam ao partido não o fazem com o intuito de contribuir para o desenvolvimento do país, mas, sim, com a intenção de "se dar bem" na vida, utilizando os "expedientes" da política como uma ferramenta para o sucesso pessoal, enquanto as necessidades do povo ficam em segundo plano. O país, infelizmente, fica em uma posição secundária diante desses interesses egoístas.

O chamado de atenção aqui não é para uma crítica destrutiva, mas para um apelo ao resgate dos ideais que tornaram o PAICV um partido com um papel fundamental na história do Cabo Verde. Que o partido retome a sua essência de luta por um Cabo Verde melhor, mais solidário, mais justo e mais inclusivo. É essencial que a política se afaste da lógica do individualismo e do oportunismo, para voltar a ser um verdadeiro instrumento de transformação social e política.

Portanto, o momento de reflexão e ação é agora. O PAICV, como qualquer partido político com raízes profundas no país, tem a responsabilidade de não se deixar consumir pelo sistema político atual, que coloca o poder pessoal acima dos reais interesses do povo. A mudança, tanto dentro do partido quanto na política nacional, é uma necessidade urgente para que possamos, todos juntos, continuar a construir o Cabo Verde que desejamos e merecemos.