O recruta militar Davidson Barros que faleceu há duas semanas em São Vicente tinha uma doença silenciosa (miocardiopatia dilatada), que evolui progressivamente, e que não foi detetada na inspeção, admite o Comando das Forças Armadas.
Em conferência de imprensa, na cidade da Praia, o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, António Duarte Monteiro, avançou que a causa principal da morte do recruta foi “edema agudo pulmonar”, que teve como causa intermédia a falha ventricular esquerda e miocardiopatia dilatada e ainda como causa básica a obesidade.
O edema agudo pulmonar, conforme explicou na mesma conferência de imprensa o major Fernando Pereira Tavares, diretor dos serviços de saúde das Forças Armadas, é um líquido nos pulmões que acontece em indivíduos que têm alguma doença de base.
Esse facto, prosseguiu, provoca disfunção do ventrículo esquerdo, em que o coração deixa de fazer a sua função que é de bombear sangue para o corpo, e o efeito é acumulação de líquidos no organismo, sendo que uma das partes vitais é o pulmão.
Segundo o médico cardiologista, a patologia de base do recruta (miocardiopatia dilatada) não foi detetada na inspeção, uma vez que tem um processo de aparição progressiva, manifestando-se quando o indivíduo é submetido a alguma situação de infeção ou stress.
“[Nem] no momento da inspeção, nem foi constatado no exame físico, nem nos interrogatórios, nem pelo próprio indivíduo”, vincou.
O médico esclareceu que na inspeção para entrada no serviço militar, o indivíduo é alvo de interrogatório e, se não houver nenhum indício de doença, passa-se para a inspeção física, e, se continuar a não detetar nenhuma patologia, o indivíduo é considerado apto para o serviço militar.
Relativamente à questão da obesidade, disse que, na tabela em vigor nas Forças Armadas, o recruta estava no nível 1, o mais baixo, pelo que não tinha nenhuma contraindicação para ser considerado como inapto.
“O facto de uma pessoa estar no nível de obesidade 1 ou 2, medicamente há duas condutas a serem tomadas: reeducação diabética, que é controlar o que come, e, mais importante, atividade física moderada”, referiu, avançando que o recruta estava em caminhada.
“O que nos mostra que não há relação entre o exercício físico e a morte do indivíduo ou a obesidade”, esclareceu ainda o diretor, reconhecendo, mesmo assim, que o sobrepeso era um “fator de risco” em relação a outros colegas com menos peso.
Segundo informação divulgada na altura pelo Ministério da Defesa, o recruta, de 20 anos, “sentiu-se maldisposto na etapa final de uma marcha administrativa, tendo de imediato recebido os primeiros socorros do médico militar e do socorrista que acompanhavam a referida marcha”.
O jovem, que era natural da localidade de Queimada Guincho, na ilha do Fogo, foi assistido, primeiro, na enfermaria do Centro de Instrução Militar do Morro Branco, de onde foi transferido para as urgências do Hospital Batista de Sousa (HBS), no Mindelo.
Já sob observação naquela unidade, “apesar de uma ligeira melhoria, o quadro era preocupante”, acabando por falecer no dia 13 de outubro, após cinco paragens respiratórias.
Está em curso três inquéritos, um deles do Ministério da Defesa, sobre as práticas e procedimentos na instrução, e dois das Forças Armadas, para verificar as circunstâncias que tenham estado na origem ou contribuído para a morte do jovem.
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