Emigração: O Primeiro Governo dos Cabo-Verdian@s!
Ponto de Vista

Emigração: O Primeiro Governo dos Cabo-Verdian@s!

"...tod@s aqueles que encontraram a oportunidade de sair e recomeçar em outras paragens não precisam pensar duas vezes. A saída, para muitos, ainda é a única chance de garantir dignidade para si e para os seus.A solução não está em condenar quem sai, mas em criar um país onde partir não seja a única opção para sobreviver. Até lá, respeitemos — e acima de tudo valorizemos — os que emigraram. Eles são o pulmão que ainda faz Cabo Verde respirar..."

Quando falamos em Cabo Verde, falamos de um país resiliente, mas também de um povo forjado na necessidade de buscar alternativas fora das fronteiras. A Emigração, especialmente para os Estados Unidos, tem sido ao longo das décadas uma tábua de salvação — e, sem exagero, o verdadeiro primeiro governo dos cabo-verdianos, sobretudo para as famílias da ilha do Fogo.

A verdade, nua e crua, é que se não fosse pela remessa de muitos irmãos nossos na diáspora, o nível de pobreza em Cabo Verde atingiria números alarmantes. Em vez de planos de desenvolvimento local eficazes, são as transferências monetárias, as ajudas em espécie e o apoio constante dos emigrantes que sustentam comunidades inteiras. Casas são construídas, filhos são postos na escola, hospitais recebem apoio, tudo por conta dos que um dia partiram em busca de uma vida melhor.

Infelizmente, nas redes sociais e nas rodas de conversa, há muitos "fala-baratos", que criticam a dependência da imigração como se esta fosse um problema, em vez de reconhecerem que ela é parte da solução. Falam em combater a pobreza com discursos, sem entender que quem está fora contribui mais para o bem-estar das famílias do que muitos que ocupam cargos de decisão dentro do país.

Todavia, Cabo Verde por si só já é um desafio. Enfrenta colossais desafios de desenvolvimento motivados da:

1. Sua insularidade não devidamente  equacionada pelos decisores políticos;

2. Estratégias erraticas das prioridades de desenvolvimento;

3.Cultura de dependência dos decisores políticos, sujeitando- se às ordens de fora e não à razão endógena;

4.Cultura solidária de políticos de normalizar uma sociedade cada vez mais fragmentada;

5. Egocentrismo exacerbado na mente de uns poucos de pretenderem ser voz de todos, excluindo a sociedade civil, de uma maneira geral.

Apelo: Precisamos de uma mudança de lente, nova bússola, novas ideias para melhor equilíbrio socioeconômico.. Oportunidades de emprego reais, políticas públicas eficazes, incentivos para a juventude, e acima de tudo, visão de futuro. Cabo Verde, na sua génese, são pessoas que, da África e da Europa, vieram. Quem de fora veio, mesmo que forçado, não deve ser coagido a não pensar no exterior, ou mesmo não sonhar permanente nas terras longínquas.

Portanto, tod@s aqueles que encontraram a oportunidade de sair e recomeçar em outras paragens não precisam pensar duas vezes. A saída, para muitos, ainda é a única chance de garantir dignidade para si e para os seus.

A solução não está em condenar quem sai, mas em criar um país onde partir não seja a única opção para sobreviver. Até lá, respeitemos — e acima de tudo valorizemos — os que emigraram. Eles são o pulmão que ainda faz Cabo Verde respirar...

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