Aquele que deveria ser o organismo de representação de toda a classe estudantil universitária de São Vicente, encontra-se hoje mergulhado num marasmo sem precedentes. Os nobres princípios fundadores da Liga das Associações Académicas Universitárias de São Vicente (LAAUSV) em nada fariam prever que nos dias que correm a organização servisse de abrigo para interesses e movimentações pouco claras.
Os atuais órgãos sociais da LAAUSV encontram-se em funções desde março de 2017 a esta parte. Desde então, a organização tem conhecido inúmeros retrocessos e só se tem descredibilizado junto da praça pública. São vários os fatores que contribuíram para que se tenha chegado a este estado, porém a principal delas seria evidentemente a atuação de quem dirige atualmente a organização. A presente equipa tem pautado a sua atuação pela pouca seriedade na abordagem e o constatado não comprometimento com a resolução dos principais problemas dos estudantes universitários de São Vicente. Não fosse a LAAUSV conhecido pelos estudantes, pelos pouquíssimos estudantes que a conhecem e as suas funções, melhor dizendo, exclusivamente pela organização do torneio universitário de futsal da ilha.
A informalidade e descontração com que são tratadas as questões do seu exercício e a quase completa inexistência de base documental que suporte o seu trabalho, tem sido a imagem de marca do atual corpo diretivo nos últimos dois anos e meio. Na verdade, os estatutos da LAAUSV, preveem que o mandato dos órgãos sociais dure apenas dois anos, tendo, portanto, o mandato atual expirado em março de 2019. As eleições deveriam ter acontecido no final do ano letivo 2018/2019, o mais tardar em julho. E estiveram para acontecer, tendo inclusivamente sido iniciado o processo eleitoral. Contudo o mesmo foi inviabilizado com recurso a expedientes estatutários pouco claros e à revelia daquelas que haviam sido decisões unanimes dos associados (as associações de estudantes das universidades de São Vicente). Tudo com o intuito de encobrir o real motivo pelo qual as eleições foram travadas na época: o facto da atual equipa não ter conseguido cumprir os prazos para entregar a sua recandidatura atempadamente. Tal atitude veio evidenciar que os órgãos sociais da LAAUSV, designadamente a Mesa da Assembleia-Geral e o Conselho Fiscal não são independentes e aparentam estar ao serviço da Direção, ao invés de serem o garante do bom funcionamento e transparência na organização.
Dado que o mandato dos atuais corpos sociais se expirou há mais de seis meses, a equipa atual deveria encontrar-se em condição de gestão corrente, pelo que não poderia proceder a movimentações financeiras nem tão pouco tomar decisões de natureza estratégica durante tal período. Porém as indicações são de que tal não tem acontecido. São indicações e não certezas porque a presente direção da Liga nos dois anos e meio que já leva à frente da organização, nunca se dignou a apresentar as contas da sua atividade, apesar das inúmeras insistências feitas pelos associados. O mesmo acontece com praticamente todos os quadrantes em que esta direção opera, nunca possuiu uma visão estratégica para a organização, nunca regeu a sua atuação em função de um plano de atividades, nunca disponibilizou planos nem relatórios dos eventos que levou a cabo, limitou-se a organizar um campeonato de futsal uma vez por ano, desprezando por completo outros quadrantes de suma importância na vida dos estudantes universitários, designadamente as vertentes social e académico, que precisam efetivamente de intervenção urgente por parte de quem tem a responsabilidade de representar a classe na ilha. E da única vez em que se incidiu realmente sobre essas vertentes, com a realização do congresso universitário de São Vicente que lá aconteceu no início de presente ano civil após vários adiamentos, não saiu do mesmo qualquer projeto-recomendação, medida concreta ou programa a ser implementado. O pós-congresso universitário ficou marcado por uma mão cheia de nada.
Os próprios órgãos sociais da LAAUSV conheceram durante este período uma autêntica dança de cadeiras, com sistemáticas entradas e saídas de membros sem que tivessem assinado um único termo de posse ou documento que fosse até à data da sua saída. Tudo realizado em ambiente de informalidade que mais parece tratar-se de um grupo de amigos, o que não dignifica em nada a organização e só vem dar razão a quem acusa a classe estudantil universitária de falta de rigor e seriedade nas questões associativas.
Como se não bastasse o mar de disfuncionalidade e descredibilização em que esta equipa mergulhou a LAAUSV no já cessado mandato, os mesmos apresentam-se agora novamente a eleições. É um direito que se lhes assiste, assim como a qualquer estudante universitário que preencha os requisitos estipulados pelos estatutos da Liga. Contudo, à semelhança das movimentações estranhas e pouco claras que tem sido feitas desde o primeiro momento, a direção da LAAUSV propôs que os atuais órgãos sociais também tivessem direito a voto na eleição dos novos órgãos sociais, numa medida nunca antes viste em parte nenhuma do mundo. Em aproveitamento da completa inexperiência e desconhecimento de causa dos representantes das associações que estiveram presentes nesse encontro, a direção da LAAUSV conseguiu que esta medida estapafúrdia e a roçar o ridículo fosse aprovada. Estatutariamente está previsto que os únicos intervenientes com direito a voto nas eleições da LAAUSV são os seus associados, neste caso as 5 associações académicas universitárias de São Vicente, cada uma com direito a igual numero de membros votantes. É, portanto, possíveç verificar que com esta medida, a direção da LAAUSV, que já anunciou a sua recandidatura, parte para as eleições à partida a ganhar por 16 votos, o número de pessoas que constituem os órgãos sociais atualmente, relativamente a hipotéticas listas adversárias, a competir com os 25 votos dos associados, 5 cada. Para além de por em causa a transparência e justeza do processo eleitoral, tal não mais é do que uma lamentável manobra de quem se pretende perpetuar no poder a todo custo, ainda que isso seja feito contra a vontade expressa da maioria dos associados em sufrágio.
Eventual refutação do que aqui foi escrito? Basta que a atual direção da LAAUSV apresente as convocatórias e atas devidamente assinadas de todas as reuniões e assembleias realizadas desde o início do seu mandato, que apresente todos os planos e relatórios dos eventos que levou a cabo, que apresente todos os planos de atividades que já elaborou e respetivos relatórios de execução, que apresente todos os orçamentos anuais anexados ao plano de atividades e respetivo relatório de contas discriminando todos os movimentos bancários bem como eventuais apoios recebidos, que apresente os termos de posse assinados por todos os elementos que já passaram pelos órgãos sociais durante o seu mandato, que apresente um inventário geral de todos os bens que estão na posse da Liga, que apresente as atas, o projeto- recomendação, as medidas concretas e os programas saídos do congresso universitário, devidamente assinado por todos os intervenientes que tomaram da palavra no referido fórum.
Este texto espelha a insatisfação de um grupo significativo de estudantes universitários já completamente fartos e agastados com a incompetência, as desculpas, as manobras, a intransparência, a manifesta incapacidade e falta de visão para resolver, ou pelo menos direcionar esforços para a resolução dos graves problemas que afetam a classe estudantil universitária da nossa ilha. Os estudantes universitários de São Vicente merecem ser representados por pessoas sérias, pessoas realmente comprometidas com a organização e acima de todo comprometidas com a classe a classe que representam. Chega de mais do mesmo.
* Artigo subcrito por um Grupo de Estudantes Universitários de São Vicente
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