"A decisão do júri não poderia ter sido mais clara". Texto de Carlos Santos sobre a contestação ao seu Prémio de Jornalismo
Ponto de Vista

"A decisão do júri não poderia ter sido mais clara". Texto de Carlos Santos sobre a contestação ao seu Prémio de Jornalismo

"Sei que a sanha desse jornalista contra mim vai continuar, suportada pelos seus acólitos, quiçá por ter subjacente outras motivações e interesses insondáveis. Ao longo da minha carreira profissional, tenho tido por hábito não responder a “fogo amigo”, no respeito que a classe jornalística me merece… mas, vejo que sou forçado a rever a minha postura".

Volvidos sete anos sobre o último prémio de jornalismo na categoria rádio, voltei a candidatar-me este ano com uma grande reportagem intitulada “Jornalismo sob pressão da Justiça”.

O trabalho debruça-se sobre a obrigatoriedade ou não de os jornalistas respeitarem o segredo de justiça quando em causa estão o interesse público e o direito dos cidadãos à informação.  

Na categoria Rádio, a minha grande reportagem foi a que arrecadou o maior número de votos do Júri do Prémio Nacional de Jornalismo, PNJ, edição 2023.  Ao fundamentar a sua escolha, o júri, constituído por cinco personalidades de reconhecido mérito e idoneidade, não poderia ter sido mais cristalino. Vale a pena recuperar os argumentos.  

“Se, ao Júri, chamou atenção a concordância do tema da reportagem que, de per se, se alinha com os princípios do Prémio Nacional de Jornalismo, seguindo a esteira das lutas pela garantia, consagração e afirmação da Liberdade de Imprensa em Cabo Verde, importa sublinhar que o fator distintivo não foi apenas a questão da oportunidade do tema da reportagem. Contou, essencialmente, para a escolha do referido trabalho a sua qualidade técnica, a riqueza textual, a presença em microfone, a profundidade com que se tratou a matéria e a sua pertinência para a sociedade cabo-verdiana.

O júri entendeu que o autor privilegiou uma diversidade de fontes, fazendo um cruzamento de fontes primárias mais atuais com outras vozes palmadas em trabalhos de igual rigor, com vista a fundamentar a temática.

Na perspetiva do Júri, isso conferiu à reportagem uma ampla pluralidade, conseguindo, com recursos a técnicas narratológicas adequadas ao meio radiofónico, catapultar o jornalismo radiofónico para um importante patamar”.

Pois bem. Na sequência do anúncio da classificação final e da entrega dos prémios, durante a gala alusiva ao 3 de Maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, o jornalista Óscar Monteiro, da Rádio de Cabo Verde, fez chegar ao júri um pedido de impugnação dos resultados do PNJ na categoria Rádio.

Não obstante reconhecer que não estava em causa a qualidade da minha grande reportagem, o jornalista assenta a sua reclamação numa alegada violação do regulamento do Prémio Nacional de Jornalismo.

No essencial, o Óscar Monteiro assevera, na sua nota, que o meu trabalho não foi transmitido numa rádio nacional, local ou regional (ou seja, o trabalho não teria sido difundido em território nacional) e que do dossiê da candidatura não consta uma declaração de autenticidade exarada pelo diretor da estação radiofónica.

Numa cruzada desesperada para tentar denegrir a minha imagem, o meu bom nome e dignidade profissional, o jornalista se desdobrou em entrevistas em jornais online vendendo a sua versão dos factos, sem que esses órgãos de comunicação social se preocupassem com o contraditório. Mas mais, fez chegar à ARC e ao Secretário de Estado para Comunicação Social (pasme-se) uma cópia da sua reclamação.

Depois de ter recebido o pedido de impugnação e de me ter solicitado alguns esclarecimentos, que, diga-se, de bom grado, prestei, o júri voltou a reunir-se, tendo também se debruçado sobre outras questões trazidas à colação pelo jornalista em declarações ao “Notícias do Norte” e ao “O País”.  

A decisão do júri não poderia ter sido mais clara: rejeita, ponto por ponto, todas as acusações do Óscar Monteiro e sentencia que “de acordo com o regulamento não havia razão e nem há nenhum motivo para excluir liminarmente a candidatura em causa” (a minha).

Como nota de rodapé, e por entender que os ouvintes deste país me merecem um profundo respeito e a mais alta consideração, importa dizer que o jornalista Óscar Monteiro também se candidatou à edição deste ano do PNJ e que o seu trabalho (O Natal Reciclado na Rua Capela), pela fraca qualidade, sequer consta da tabela classificativa.

Não obstante ter-se candidatado, manifestamente não se lhe assiste legitimidade para pedir a impugnação dos resultados na categoria rádio. Pedido que deveria ter sido, na minha modesta opinião, sustentada por anos a conviver com o regulamento do PNJ, liminarmente rejeitado pelo júri, quando mais não seja por ter sido feito fora do prazo de admissibilidade das candidaturas.

De acordo com o diploma, os trabalhos deverão ser entregues entre 15 de janeiro e o último dia do mês de fevereiro; o júri conclui o trabalho de avaliação no final do mês de março, ficando a entrega dos prémios para o dia 3 de maio ou por altura da independência nacional.

Portanto, um pedido absolutamente extemporâneo.

Sei que a sanha desse jornalista contra mim vai continuar, suportada pelos seus acólitos, quiçá por ter subjacente outras motivações e interesses insondáveis. Ao longo da minha carreira profissional, tenho tido por hábito não responder a “fogo amigo”, no respeito que a classe jornalística me merece… mas, vejo que sou forçado a rever a minha postura.

 

Carlos Santos

 

 

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