Jogo de poder no município de Santa Catarina do Fogo provoca ruptura entre o presidente da Câmara Municipal e o seu vice, Carlos Rodrigues, supostamente por este se ter disponibilizado para constar de uma sondagem que indicará o candidato do MpD à presidência da autarquia em 2024. Alberto Nunes, o edil, alegando “quebra de confiança” e “ganância desenfreada para chegar ao poder” retirou-lhe pastas que acredita estarem a ser utilizadas pelo vereador (Infra-estruturas, Urbanismo e Acção Social), para a sua promoção pessoal.
Carlos Rodrigues, que desde 2020 assumiu as funções de vereador pelas áreas das Infra-estruturas, Urbanismo, Acção Social e Educação na Câmara Municipal de Santa Catarina do Fogo, está desde segunda-feira, 22, apenas com o pelouro da Educação, sendo que o das Infra-estruturas e Urbanismo passou para a vereadora Ardileza Montrond e o da Acção Social para a vereadora Maria José Fonseca.
A decisão, entretanto legal, foi do presidente da CM, Alberto Nunes, que não terá gostado de ver o seu então substituto manifestar disponibilidade para constar de uma sondagem do MpD de modo a saber em quem o partido deverá apostar nas eleições autárquicas do próximo ano. Como consequência, Nunes despromoveu-o, retirando-lhe também a função de presidente-substituto durante as suas ausências na edilidade e cortou-lhe o direito a viatura da CM para o levar a casa, em São Filipe, passando o vereador a receber um subsídio de transporte.
A deliberação do presidente da CM, tomadas na segunda-feira, 22, diz que os vereadores residentes no município de Santa Catarina continuam com transportes no percurso casa/trabalho/casa e ao vereador Carlos Rodrigues, o único que reside no município de São Filipe, atribuiu um subsídio de transporte, revogando a deliberação anterior que assegurava ao mesmo o transporte através da utilização de uma viatura da edilidade.
Foi o próprio vereador quem revelou estas medidas do presidente da Câmara, numa entrevista à agência de notícias Inforpress. Carlos Rodrigues explicou que no passado dia 17 de Março, no encontro da Comissão Politica Local do MpD em Santa Catarina do Fogo anunciou a sua disponibilidade para participar na sondagem para a escolha de candidatos para a presidência da Câmara Municipal, porque, adiantou, o actual presidente, Alberto Nunes, prometera que exercia apenas dois mandatos e inclusive, segundo o mesmo, fez promessas de que em 2024 seria o vereador Carlos Rodrigues o seu sucessor na câmara.
“A partir desta data o clima começou a modificar no trabalho e no relacionamento e na segunda-feira, 22, na reunião da câmara acabou por deliberar e retirou-me a pasta das Infra-estruturas e Urbanismo que passou para a vereadora Ardileza e da Acção Social para a vereadora Maria José Fonseca”, disse Carlos Rodrigues, citado pela Inforpress
O vereador está convicto de que o facto de se ter manifestado disponível participar na sondagem para escolha dos candidatos foi a única razão para Alberto Nunes o rebaixar na hierarquia da Câmara. Rodrigues garante, todavia, que só se manifestou disponível porque em Novembro do ano passado Alberto Nunes tinha afirmado que cumpriria o segundo mandato e que não seria candidato a um terceiro em 2024.
“Como muitas pessoas estão a incentivar-me tomei a decisão na reunião da Comissão Política de constar da sondagem para a escolha do candidato à presidência da câmara e até esperava o apoio de Alberto Nunes”, confessou Carlos Rodrigues, que após as medidas tomadas por Alberto Nunes na segunda-feira, 22, avançou com uma proposta para a sua desprofissionalização, “mas o presidente não aceitou porque sabe que a desprofissionalização passa pela deliberação da Assembleia Municipal de Santa Catarina do Fogo e não tem o número de votos suficientes para o fazer”, acrescentando que as medidas adoptadas pelo presidente da CM lhe dão mais força para avançar com a sua disponibilidade.
Ganância desenfreada de poder
Alberto Nunes, presidente da CM de Santa Catarina do Fogo
O presidente da câmara de Santa Catarina do Fogo, por sua vez, justificou a retirada de parte das pastas ao vereador Carlos Rodrigues com a “quebra de confiança e lealdade” e garantiu que não tem nada a ver com as autárquicas de 2024.
Segundo Alberto Nunes, citado pela Inforpress, o vereador Carlos Nunes estaria a ser testa-de-ferro de um “grupinho bem identificado”, “com ganância desenfreada de poder”, que está a empurrá-lo para concorrer em 2024 e que pretende “algo imoral, ilegal, que lesa os princípios da democracia”. Nesse “grupinho”, admitiu o autarca, estarão envolvidos um elemento do seu gabinete e o vereador Carlos Rodrigues, que, segundo Nunes, já em 2020 o queriam derrubar.
“Carlos Rodrigues foi um indivíduo em quem acreditei desde 2016, apesar de não ser o segundo da lista em 2016 e 2020. Na minha ausência, no País e no exterior, nomeei-o como meu substituto porque tinha toda a confiança nele”, afirma Alberto Nunes, para quem foi o próprio vereador a mudar de postura e fazer ruir o relacionamento entre si.
“Antes todas as coisas eram feitas em nome da câmara e da equipa”, aponta Nunes, ao mesmo tempo que acusa Carlos Rodrigues de estar a vangloriar-se perante a sociedade dos bons feitos da câmara e a culpabilizar o presidente por tudo o que é negativo.
“Ele era a minha mão direita, mas a partir do momento que começou a fazer um trabalho para promover a sua pessoa e a prejudicar a câmara e a equipa, as relações beliscaram e há perda de confiança e lealdade”, assegura Alberto Nunes, confirmando que decidiu retirar a Carlos Rodrigues as pastas (Infra-estruturas, Urbanismo e Acção Social) que ele, o vereador, estaria a utilizar para se autopromover, classificando que foi uma “decisão consciente, inteligente”.
Alberto Nunes reconheceu que chegou a anunciar que faria dois mandatos, mas neste momento, explicitou, “há um apelo da população de Santa Catarina a exigir a recandidatura a um terceiro mandato dado o desempenho do presidente e da sua equipa”.
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