Concelho com pouco mais de 18 mil habitantes, as dívidas acumuladas pela gestão do MpD em Tarrafal de Santiago somam valores próximos dos 300 mil contos, correspondente a mais de metade do orçamento municipal para o ano em curso, que é de 581.495.798$00, condicionando o futuro do concelho, conforme entendimento do edil, José dos Reis, para quem "está-se perante uma gestão pouco rigorosa, para além de negligente quanto à observância dos princípios éticos que orientam a administração dos recursos públicos, com o interesse coletivo, a oportunidade e a legalidade.”
Na opinião do presidente da Câmara Municipal do Tarrafal, eleito pelo PAICV, nas eleições autárquicas de 25 de outubro de 2020, as dívidas acumuladas pelos sucessivos governos locais no Tarrafal – que foram liderados pelo MpD por 28 anos – não têm correspondência com o desenvolvimento do concelho.
“Tarrafal continua com problemas de vária ordem, que vão do deficit habitacional ao emprego e rendimento das famílias, não descorando as insuficiências no domínio das infraestruturas sociais e no empoderamento do potencial económico do município”.
50 mil contos em créditos de curto prazo para despesas correntes
Com efeito, as dívidas acumuladas e que Santiago Magazine teve acesso, dão conta que só nos bancos comerciais, o município acusa um crédito acumulado no valor de 128.448.442$00, sendo que desse montante, 20.000.000$00 são créditos de curtíssimo prazo, contraídos na modalidade de descoberto bancário, cuja taxa de juros varia entre 18 a 21 por cento.
Apesar desse crédito de curtíssimo prazo, cujo fim é exclusivamente cobrir o fosso da tesouraria municipal, nota-se que, em 2019, a Câmara Municipal havia contraído mais um crédito de 30.000.000$00 junto do Banco Interatlântico também destinado ao reforço da tesouraria. Feitas as contas, são 50.000.000$00 de crédito só para superar o fosso financeiro da tesouraria municipal, o que, observa Reis, “é demonstrativo de uma gestão pouco rigorosa, para além de negligente quanto à observância dos princípios éticos que orientam a administração dos recursos públicos, com o interesse coletivo, a oportunidade e a legalidade.”
Passando para os créditos de médio e longo prazos, este diário digital apurou que nesse capítulo, o serviço da dívida municipal acusa os seguintes valores, ainda por amortizar-se: Estádio Municipal 2.220.662$00, Pavilhão Desportivo 48.885.456$00, Construção Avenida Txombom 42.823.204$00.
Os dados dizem que o crédito inicial para construção do Pavilhão Desportivo é de 72.722.583$00. Foi contraído em 2014. Entretanto, as obras arrastaram-se até 2020, e segundo informações obtidas na CMT, o Governo é que veio desencalhar o projeto, abrindo o tesouro do Estado para socorrer a autarquia que já não dispunha de meios financeiros para concluir a construção.
54 mil contos de dívidas com o Estado
O montante do financiamento do Governo central para concluir o Pavilhão Desportivo, bem como o seu enquadramento não foi dado a conhecer ao jornal, mas os dados oficiais disponibilizados, mostram que o concelho acusa também uma dívida expressiva com o Estado, entre as quais os impostos retidos na fonte e os descontos da segurança efetuados nos salários dos trabalhadores, entretanto, não transferidos, bem como as obrigações sociais não pagas.
Neste quadro, as dívidas com o Estado ascendem ao montante de 54.388.421$00, sendo que o Imposto Único sobre Rendimento (IUR) atinge 29.855.882$00 e os encargos com a Segurança Social ficam pelos 24.532.539$00.
Trata-se de uma situação complexa, na medida em que, conforme explicação do presidente José dos Reis, é um incumprimento que acaba condicionando os direitos laborais dos trabalhadores municipais, particularmente a cobertura médico-medicamentosa que é assegurada pelo Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), bem como o direito à aposentação entre outros constrangimentos.
Quase 30 mil contos de salários em atraso
Aliás, em relação aos trabalhadores, informações chegada a Santiago Magazine mostram que a Câmara Municipal do Tarrafal não tem observado os direitos laborais dos funcionários e agentes municipais ao seu serviço – muitos laboram com vínculo precário, sem ascensão na carreira, entre outros direitos laborais básicos.
A título de exemplo, os dados na posse deste jornal, apontam que, neste momento, existe uma dívida acumulada junto dos trabalhadores no valor de 37.378.203$00, sendo de destacar que 29.987.730$00 resultam de salários em atraso.
Mas o caudal das dívidas é longo. Para além das já elencadas, destaca-se ainda as dívidas junto das empresas e fornecedores diversos. Aqui o valor que este diário digital teve acesso aponta por um montante de 40.365.266$00.
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