A sessão da Assembleia Municipal de São Vicente, que arrancou esta quinta-feira, 18, foi interrompida nesta tarde devido a “desabafo emocionado” do marido da funcionária da câmara municipal, que faleceu recentemente devido a um acidente de viação numa viatura da autarquia.
O jovem de nome Emiliano Tavares tomou mesmo para si os holofotes da sessão por cerca de 20 minutos, e dirigiu-se directamente ao presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Augusto Neves, acusando-o de ter matado a sua mulher.
Cátia Cristina, de 38 anos, faleceu há duas semanas, após ter sofrido uma queda, no dia 27 de Janeiro, da caixa de um camião da Câmara de São Vicente ligado aos Espaços Verdes.
O marido interrompeu a sessão plenária durante esta tarde e mostrou-se bem emocionado por ter perdido a mulher, que deixou três filhos, e culpabilizou os serviços camarários pelas “condições precárias” de transporte dos funcionários.
Verdadeiramente exaltado, Emiliano Tavares também abordou a questão de cobertura de segurança social, que disse ter sabido, após a morte da esposa, que não estavam sendo pagos pela edilidade, mesmo depois de 16 anos de serviço.
Devido a este “insólito” que deixou todos os presentes abalados, a presidente da assembleia municipal, Dora Pires até fez tentativa de continuar com os trabalhos, mas depois tomou a decisão de suspender a sessão por “falta de condições emocionais”.
Decisão tal que contou com o apoio de todos os líderes das bancadas do MpD, UCID, PAICV e do único deputado do Movimento Independente Más Soncent, que optaram por continuar os trabalhos nesta sexta-feira.
Confrontado pela Inforpress e pela Rádio de Cabo Verde (RCV), únicos da imprensa que estavam no local, Augusto Neves disse ser uma “situação triste”, que todos lamentam.
“É um acidente de trabalho e que a câmara municipal tudo está a fazer para resolver a situação, nós já temos uma averiguação e todo o apoio à família iremos dar, porque depois da família somos os primeiros a lamentar a perda de um funcionário”, assegurou o edil, que na altura do acidente estava fora da ilha em tratamento de saúde, em Portugal.
“Estive a ser substituto pelo vereador Rodrigo Martins, que esteve à frente do processo e acompanhou essa fase junto à família”, sublinhou.
Quanto à questão de que funcionários da câmara não estão a ser contemplados pelo seguro do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), Augusto Neves disse que tal “não é verdade”.
“Nós temos um acordo com o INPS, porque nós trabalhamos com as empresas, tudo funciona com normalidade. Agora as pessoas confundem seguro do INPS, com seguro obrigatório e há muitos serviços da câmara que não tem seguro obrigatório”, reiterou a mesma fonte, adiantado que o seguro obrigatório é reservado para “serviços de risco” como bombeiros e fiscalização.
O presidente adiantou ainda que está sendo feita toda a averiguação para se apurar o acidente que aconteceu pela primeira vez e a edilidade vai “seguir trabalhando para melhorar as condições de trabalho dos funcionários”.
Após o “insólito”, o líder da bancada do PAICV disse que tal situação de transporte já tinha sido alertada, mas Augusto Neves garantiu que não teve conhecimento e também não era nada de se prever, uma vez que o pessoal de espaço verde se desloca muito pouco.
“Mas, eu acho que não se deve fazer aproveitamento político, é uma morte que nós lamentamos muito, a perda de um funcionário da câmara bastante jovem e que ficamos até surpresos com o acidente numa rotunda”, disse a mesma fonte, para quem deve-se ser “sério em momentos de dor”.
A sessão ordinária, que acontece 85 dias, após as eleições autárquicas, deve continuar os trabalhos na manhã desta sexta-feira, com foco na discussão e aprovação do orçamento e do plano de actividades da câmara para o corrente ano.
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