A Polícia Nacional explicou hoje que um grupo de oito cidadãos, incluindo nigerianos que apresentaram queixa ao Governo da Nigéria, foi impedido de entrar no arquipélago por não apresentarem comprovativos do objetivo da viagem.
Em comunicado enviado à imprensa, a Polícia Nacional explica que os oito cidadãos foram impedidos de entrar em território cabo-verdiano, na sexta-feira, à chegada ao aeroporto internacional da Praia, “por não preencherem os requisitos legais previsto na Lei de Estrangeiros e Fronteiras”.
“Todos os impedidos de entrarem no território nacional não apresentaram documento justificativo/comprovativo da finalidade de viagem”, acrescenta a polícia, referindo que foi recusada a entrada a um cidadão guineense, um camaronês, um jordano, um queniano, um costa-marfinense e três nigerianos, todos do mesmo voo, proveniente de Dacar.
No sábado que um grupo de turistas nigerianos apresentou uma queixa ao Governo da Nigéria contra as autoridades cabo-verdianas pela recusa de entrada em Cabo Verde, e deportação, alegando que apenas os portadores de passaporte ocidental nesse voo tiveram autorização para entrar.
Já segundo a Polícia Nacional, os cidadãos nigerianos, durante as entrevistas para as formalidades de controlo fronteiriço, “foram díspares e contraditórios” entre si, “conduzindo a suspeitas de falsas declarações, agravado por não confirmação das reservas de hotel e de meios de subsistência em território nacional”.
“Entre eles, havia um cidadão que já teria sido alvo de recusa de entrada anteriormente no território nacional, pelos mesmos motivos”, acrescenta o comunicado da Polícia Nacional, referindo que regressaram todos ao Senegal no mesmo voo.
Segundo a queixa apresentada pelos turistas da Nigéria contra Cabo Verde, o incidente aconteceu esta sexta-feira, no aeroporto internacional da Praia, à chegada de um voo da Air Senegal, envolvendo desde logo um grupo de nigerianos, todos alegando possuir teste negativo à covid-19 e que pretendiam passar o período da Páscoa em Cabo Verde.
À chegada, garantem que comprovaram ainda o pagamento do alojamento, fundos em escudos cabo-verdianos e a viagem de regresso a 05 de abril, mas foram colocados numa sala à parte, no aeroporto, pela polícia.
“Os turistas [que chegaram nesse voo] foram transferidos para uma sala diferente e composta por alguns europeus, africanos (…) a dada altura, os cidadãos europeus, foram chamados de lado e levados embora”, lê-se na queixa.
“Perguntamos porque é que os brancos e os com passaportes europeus foram deixados passar e responderam que a decisão era deles”, acrescenta. Acabaram por ser deportados, garante, documentando com fotos e vídeos, três cidadãos nigerianos, um queniano, um costa-marfinense, um guineense e um jordano.
Contactada pela Lusa, Teniola Tayo, investigadora nigeriana de 27 anos, autora da queixa e porta-voz deste grupo, explicou que o argumento da polícia cabo-verdiana utilizado para negar e deportar, no mesmo voo, de volta a Dacar, este grupo de cidadãos africanos é que o país não estava aberto a turistas, devido à pandemia de covid-19.
“Ficamos muito magoados, chocados e envergonhados com tudo o que aconteceu. Se Cabo Verde estivesse fechado aos turistas, todos nós que indicávamos que estávamos lá apenas para visitar devíamos ter sido mandados de volta. Não esta situação em que todos com passaporte ocidental podiam entrar e visitantes com passaportes africanos eram mandados de volta”, critica Teniola Tayo, garantindo que todos os colegas estão “psicologicamente traumatizados” com esta primeira experiência do género.
Na queixa apresentada ao Governo da Nigéria, país que alberga a sede da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) - que Cabo Verde também integra - estes turistas alegam que foram informados pelos funcionários do aeroporto em Dacar, para onde foram deportados, que este tipo de prática se tornou “uma ocorrência regular” em Cabo Verde.
“Achamos justo que um país possa decidir que não está aberto ao turismo, mas essa informação deve ser amplamente divulgada e, principalmente, por meio das companhias aéreas. Também não é justo que as regras sejam aplicadas seletivamente. Foi muito doloroso ser tão maltratado num país da África ocidental, em comparação com os passageiros brancos, enquanto viajava com um passaporte da CEDEAO”, lê-se ainda na queixa.
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