Um grupo de turistas nigerianos apresentou uma queixa ao Governo da Nigéria contra as autoridades cabo-verdianas pela recusa de entrada em Cabo Verde, e deportação, alegando que apenas os portadores de passaporte ocidental tiveram autorização para entrar.
Segundo a queixa, a que a Lusa teve acesso, o incidente aconteceu esta sexta-feira, no aeroporto internacional da Praia, à chegada à capital cabo-verdiana de um voo da Air Senegal, envolvendo desde logo um grupo de nigerianos, todos alegando possuir teste negativo à covid-19 e que pretendiam passar o período da Páscoa em Cabo Verde.
À chegada, vindos de Dacar, garantem que comprovaram ainda o pagamento do alojamento, fundos em escudos cabo-verdianos e a viagem de regresso a 05 de abril, mas foram colocados numa sala à parte, no aeroporto, pela polícia.
“Os turistas [que chegaram nesse voo] foram transferidos para uma sala diferente e composta por alguns europeus, africanos (…) a dada altura, os cidadãos europeus, foram chamados de lado e levados embora”, lê-se na queixa.
“Perguntamos porque é que os brancos e os com passaportes europeus foram deixados passar e responderam que a decisão era deles”, acrescenta. Acabaram por ser deportados, garante, documentando com fotos e vídeos, três cidadãos nigerianos, um queniano, um costa-marfinense, um guineense e um jordano.
Contactada pela Lusa, Teniola Tayo, investigadora nigeriana de 27 anos, autora da queixa e porta-voz deste grupo, explicou que o argumento da polícia cabo-verdiana utilizado para negar e deportar, no mesmo voo, de volta a Dacar, este grupo de cidadãos africanos é que o país não estava aberto a turistas, devido à pandemia de covid-19.
A Lusa tentou obter um esclarecimento das autoridades cabo-verdianas, mas sem sucesso até ao momento.
Contudo, além de oficialmente Cabo Verde não ter adotado qualquer decisão de restringir o turismo, esse impedimento não se verificou com outros passageiros do mesmo voo, com passaportes europeus e norte-americanos. Segundo a participação feita por este grupo, ao final do dia de sexta-feira, sete pessoas foram repatriadas, incluindo o cidadão da Jordânia, neste caso, alegadamente, por possuir “vários vistos nigerianos no seu passaporte”.
“Ficamos muito magoados, chocados e envergonhados com tudo o que aconteceu. Se Cabo Verde estivesse fechado aos turistas, todos nós que indicávamos que estávamos lá apenas para visitar devíamos ter sido mandados de volta. Não esta situação em que todos com passaporte ocidental podiam entrar e visitantes com passaportes africanos eram mandados de volta”, critica Teniola Tayo, garantindo que todos os colegas estão “psicologicamente traumatizados” com esta primeira experiência do género.
“Os passaportes foram rudemente arrancados das nossas mãos e fomos levados para a pista”, acrescenta.
Na queixa apresentada ao Governo da Nigéria, país que alberga a sede da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) - que Cabo Verde também integra - estes turistas alegam que foram informados pelos funcionários do aeroporto em Dacar, para onde foram deportados, que este tipo de prática tornou-se “uma ocorrência regular” em Cabo Verde.
“Achamos justo que um país possa decidir que não está aberto ao turismo, mas essa informação deve ser amplamente divulgada e, principalmente, por meio das companhias aéreas. Também não é justo que as regras sejam aplicadas seletivamente. Foi muito doloroso ser tão mal-tratado num país da África ocidental, em comparação com os passageiros brancos, enquanto viajava com um passaporte da CEDEAO”, lê-se ainda na queixa.
Num testemunho escrito enviado à Lusa, Ahmad Jamal, o jordano expulso no mesmo grupo explicou que foi a segunda vez em três que no aeroporto da Praia - Cabo Verde permite visto de fronteira, pago à chegada ao país - viu a entrada negada, sendo expulso.
“Tive a entrada negada mais uma vez. Quando vi que apenas os nigerianos eram discriminados, então percebi que tinha vistos nigerianos no meu passaporte e foi por isso que me foi recusada a entrada”, alega, recordando que investiu 2.000 dólares (1.700 euros) só nos custos adicionais com a viagem de avião e que tinha alugado uma residência na Praia por 1.560 dólares (1.325 euros) para um mês de férias, que não conseguiu concretizar.
“Há melhores lugares em África para visitar nas férias”, critica.
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