MpD defende pedido de desculpa pelos anos de partido único em Cabo Verde
Política

MpD defende pedido de desculpa pelos anos de partido único em Cabo Verde

O líder parlamentar do MpD defendeu hoje um pedido de desculpas do Estado à população pelos 15 anos de partido único, num discurso pelos 33 anos das primeiras eleições multipartidárias.

“À medida que nos aproximamos dos 50 anos da independência nacional é tempo de refletirmos sobre aquilo que fizemos bem e mal, mas também é tempo de nos reconciliarmos com a nossa história”, referiu Celso Ribeiro, ao intervir na sessão solene, na Assembleia Nacional, do feriado de hoje.

“Um pedido de desculpa pelo monopartidarismo faria bem à nação. A acontecer, seria um gesto nobre destinado a sarar feridas ainda abertas na sociedade, devendo o Estado reconhecer, em nome dos interesses nacionais, os abusos, torturas, prisões arbitrárias, violação dos direitos humanos e outros horrores cometidos ao longo de 15 anos da ditadura do partido único”, acrescentou.

“O país clama por esse gesto, que tarda em chegar, quase meio século após a independência, sob pena de continuarmos a adiar o inadiável, sacrificando a paz histórica de que precisamos para compreender melhor o passado e projetar o futuro em ambiente de concórdia, a pensar sempre em reconciliação”, disse o deputado.

No mesmo evento, o Presidente da República, José Maria Neves, também abordou a história para dizer que, após a abertura política decidida pelo PAICV, o MpD venceu as eleições de 1991, mas o feriado de 13 de janeiro é de todos.

“Vou ser muito claro: não há um povo da independência e um povo da liberdade e democracia, há um só Cabo Verde inteiro que não se resigna, que sempre lutou contra a subjugação” e que “comemora com o mesmo regozijo o 13 de janeiro, o 20 de janeiro”, feriado dos Heróis Nacionais, que assinala a morte de Amílcar Cabral, “o 5 de julho [Dia da Independência] e a Constituição de 1992”, referiu.

José Maria Neves valorizou a democracia e a atividade política, referindo que tinha prevista para hoje uma homenagem de Estado a Carlos Veiga, primeiro chefe de Governo da Segunda República, após as primeiras eleições multipartidárias, figura histórica do MpD, mas que está ausente do país por razões de saúde.

“Em tempo de celebração dos 50 anos de independência e neste dia, Carlos Veiga merece ser distinguido como ‘champion’ da liberdade e da democracia”, mesmo que às vezes se discorde das suas posições, referiu, mas em respeito por “tão relevante serviço ao Estado de Cabo Verde, enquanto primeiro-ministro e protagonista de profundas mudanças políticas sociais e económicas”.

“Esta homenagem clama pela valorização da política, dos políticos e por mais participação da sociedade civil e dos cidadãos na vida política e mais confiança da cidadania nas instituições democráticas”, disse.

João Santos Luís, presidente da UCID, também alertou para os “indicadores fracos” de participação cívica e de cultura política o arquipélago, referindo a falta de igualdade de oportunidades, bem como no acesso a serviços públicos, casos da saúde, educação e justiça.

Um olhar crítico seguido por João Baptista Pereira, líder parlamentar do PAICV, principal partido da oposição, que apontou para um “paradoxo” entre a avaliação externa positiva de Cabo Verde, face a uma avaliação negativa interna sobre as instituições do país, a par de um aumento da tendência dos que dizem querer emigrar.

A nível político, saudou os sinais de consenso no parlamento para aprovação da quinta alteração ao código eleitoral e para a eleição de órgãos externos (Comissão Nacional de Eleições, Autoridade de Reguladora da Comunicação Social, Comissão Nacional de Proteção de Dados e Tribunal Constitucional).

Um diálogo que foi também saudado, na sua intervenção, por Austelino Correia, presidente da Assembleia Nacional.

A inteligência artificial fez igualmente parte dos discursos de hoje na Assembleia Nacional, pela voz de José Maria Neves, que apontou para a necessidade de o arquipélago, com uma forte diáspora, tirar partido das inovações tecnológicas.

A presidência cabo-verdiana acolhe na quinta-feira um debate sobre o tema, sob o lema "Cabo Verde 2075: Novas Possibilidades - Transformação Inteligente".

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