A venda do Liceu da Várzea e a consequente construção da Embaixada dos Estados Unidos da América paredes meias com o Palácio do Governo continua na agenda mediática. Muita tinta já se fez correr sobre este assunto, que tem mexido com a sociedade cabo-verdiana de alto a baixo. Desta feita, o antigo primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves (JMN), saiu do anonimato para também falar da sua justiça. Não é a favor da construção da Embaixada dos EUA nas imediações do Palácio do Governo.
José Maria Neves invoca a lei para explicar a sua posição, no caso o Decreto-Lei nº 27/2º14, de 16 de maio, que fixa os procedimentos de identificação, designação e proteção de infraestruturas críticas, nas quais se incluem os Órgãos de Soberania. No seu entendimento, até que esta lei seja regulamentada, não se deve autorizar a construção de nenhuma embaixada junto ao Palácio do Governo, enquanto órgão de soberania.
“Para mim fica evidente que, conquanto a lei não tenha sido ainda regulamentada, no âmbito da proteção da Sede do Governo, que terá que ser garantida pelo Estado, não se deve construir as instalações da Embaixada e outras dos Estados Unidos, da União Europeia ou de qualquer outro país em todo o espaço contíguo ao Palácio da Várzea”, escreve na sua página do facebook.
Este político, que liderou a governação do arquipélago por 15 anos, faz questão de reconhecer o importante papel dos EUA na construção do Estado de Cabo Verde, sendo “dos primeiros a reconhecer a nossa independência e país de acolhimento de uma vasta diáspora cabo-verdiana” e a estabelecer “relações de amizade e de cooperação muito frutíferas para o futuro das ilhas”, mas mesmo assim não se deixa embalar pelo coro do governo de Ulisses Correia e Silva, segundo o qual as opiniões contrárias a este negócio simbolizam uma afronta a um país amigo e uma manifestação de ódio em relação a um parceiro estratégico destas ilhas.
Para Neves, os Estados Unidos da América foram e certamente vão continuar a ser um grande parceiro de Cabo Verde. “O decisivo contributo dos Estados Unidos vai desde a ajuda alimentar ao financiamento do desenvolvimento, passando pela formação de quadros, transportes e segurança”, observa, para lembrar que enquanto chefe do governo cabo-verdiano fez inúmeras visitas aos Estados Unidos, teve encontros com o Presidente Obama e os Secretários da Defesa e dos Transportes, recebeu, por duas vezes, a Secretária de Estado Hillary Clinton no Sal, para discussão de questões candentes do continente africano e do mundo, negociou dois compactos do Millennium Challenge Account, Cabo Verde ascendeu à Categoria I da FAA, no quadro do Programa Open Skies for África, construiu o Cosmar e Cabo Verde recebeu os primeiros exercícios militares da NATO em África.
Entretanto, apesar de as relações entre Cabo Verde e os Estados Unidos serem antigas e, desde a independência, “estratégicas e excelentes”, mesmo assim JMN defende que “há muitos espaços nobres na Cidade onde os Estados Unidos podem construir a sua Embaixada com enormes benefícios para os dois países”.
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