Vários jornais venezuelanos estão a noticiar que o governo de Nicolás Maduro sacou "grandes quantidades de ouro" da empresa mineira estatal Minerven para enviar a Cabo Verde, em troca da não extradição de Alex Saab para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, o Executivo de Caracas divulgou na quinta-feira, 24, uma mensagem de Natal em que nas duas páginas apenas se refere ao caso Saab, tendo apelado a Cabo Verde, a "bem de um futuro de paz e justiça", medida humanitária que permita ao empresário colombiano passar o fim do ano com a sua família. O El Tiempo não esconde a inquietude e questiona o que Caracas quererá dizer com "futuro de paz", admitindo mesmo tratar-se de uma ameaça a Praia.
Depois de o New York Times ter reportado no passado dia 22 que os EUA colocaram durante todo o mês de Novembro um navio de guerra nas águas cabo-verdianas, com receio de que os governos da Venezuela e do Irão estariam a planear uma fuga de Alex Saab da prisão na ilha do Sal, eis que dois dias depois a imprensa venezuelana traz novos dados e ainda mais preocupantes sobre o assunto: Cabo Verde teria recebido ouro da Venezuela para não extraditar Alex Saab aos EUA, que é como quem diz Maduro está a "comprar" as autoridades cabo-verdianas a fim de manter o seu "homem de negócios predilecto" longe da justiça norte-americana.
Segundo o panampost.com, esta tentativa de suborno terá mesmo sucedido, na óptica desse órgão panamericano, com o envio a Cabo Verde de "grandes quantidades de ouro" em troca da liberdade ou, pelo menos, a não extradição de Alex Saab aos tribunais das terras do Tio Sam. O jornal O Heraldo informa que Maduro utilizou "a empresa mineira estatal Minerven para enviar ouro a Cabo Verde.
O periodicocubano.com avança inclusive que essas "enormes quantidades de ouro" saem da empresa Minerven, que é controlada por Carlos Lizcano Manrique, um nome sempre ligado a Alex Saab e que é considerado o principal parceiro do empresário colombiano. Essa unidade mineira foi criada em 1970 e nacionalizada em 1974, planeava, em 2011, construir uma fábrica de refinamento de ouro em El Callao, estado Bolívar, que seria capaz de processar 100 toneladas anualmente.
O infobae.com, com sede no México - como, de resto, em grande parte dos países latino-americanos - não deixou este assunto passar em vão e também noticiou o envio de "grandes quantidades de ouro a Cabo Verde para comprar a saída de Alex Saab da prisão". O infobae.com revela ainda que Carlos Lizcano Manrique, que lidera a Minerven, e Alex Saab são parceiros, sendo este último conhecido nas instalações da empresa mineira como El Tigre. "O nome Lizcano Manrique sempre aparece ligado ao de Alex Saab e Álvaro Pulido. Os seus escoltas e de outros desse grupo são funcionários de da DGCIM, a Direcção Geral de Contra-Inteligência Militar", acrescenta.
Essa entrega de ouro não foi, entretanto, explicada a quem seria, nem quem trouxe a "encomenda", mas fala-se em emissários, o que lembra a estória ao contrário em que foi notícia lá fora que Cabo Verde teria enviado os empresários Gil Évora (ex-PCA da Emprofac) e Carlos Anjos (ex-director geral do Turismo) para negociar com Maduro a não extradição de Alex Saab aos EUA- Este caso continua ainda em aberto, com o Ministério Público a abrir uma investigação que se desconhece o desfecho. O Governo desmentira, na altura qualquer envolvimento e acabou por demitir Gil Évora da Emprofac.
Mensagem subliminar
Ora bem, estas notícias que circulam nos órgãos (sobretudo de direita, diga-se) de comunicação social dos países latino-americanos em como a Venezuela estaria a subornar Cabo Verde talvez com uns lingotes de ouro em troca da segurança e bem-estar de Alex Saab surgiram praticamente no mesmo dia que o governo de Caracas emitiu uma mensagem de Natal, que, desta feita, não foi muito ao estilo habitual.
Isto porque, segundo o jornal colombiano El Tiempo, Nicolás Maduro ignorou todos os problemas por que passa o seu país (embargo dos EUA, espionagem russa, crise social e financeira, saúde, etc.) para dedicar duas páginas da sua mensagem a Alex Saab e Cabo Verde, o que, no entender desse jornal, espelha bem o quão preocupado está o presidente venezuelano mal pensa numa eventual entrega do seu diplomata e amigo aos Estados Unidos, que o quer julgar por lavagem de dinheiro e outros ilícitos internacionais.
A mensagem, lembrando que o país tem de cumprir o Acórdão do Tribunal da CEDEAO que decidiu, no dia 2 de dezembro, pela prisão domiciliária de Saab, pedia a Cabo Verde "medida humanitária" para que o empresário detido desde 12 de junho na ilha do Sal pudesse passar as festas de fim do ano junto com a sua família.
O texto, divulgado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros venezuelano, Jorge Arreaza, na sua página no twitter, insiste em como Alex Saab foi detido ilegalmente e, ultrapassado o periodo de 40 dias sem haver decisão, o tribunal da CEDEAO ordenou a sua prisão domiciliária, embora o Ministério Público cabo-verdiano já tenha explicado que os acórdãos dessa instâcia judicial regional não são vinculativos porque Cabo Verde não ratificou o acordo.
Alheio a este argumento do MP, o governo da Venezuela volta a sair em defesa de Saab e deixou no ar uma frase enigmática, quando apela à colaboração de Cabo Verde a bem de "um futuro de paz e de justiça".
O jornal colombiano El Tiempo sublinhou logo esta afirmação, mostrando de pronto a sua inquietação e questionando sobre o seu real significado. "Num parágrafo que está a provocar diversas leituras, se assegura que 'por um futuro de paz e de justiça' pede-se que se adopte uma medida humanitária que o permita passar as festas junto com sua família. Contudo, (a mensagem) não explica a expressão 'futuro de paz'", observa o El Tiempo, para quem, mesmo sem ter um tom agressivo a frase soa a ameaça.
Juntando estes dois momentos relatados pela imprensa internacional - a notícia do envio de ouro a Cabo Verde como suborno e essa mensagem a sugerir ameaça - até parece que a Venezuela, numa presumível tentativa extrema de defender seu aliado, vem a Cabo Verde seguindo a máxima de outro colombiano, Pablo Escobar: plata ou plumbo! (dinheiro ou bala), isto é, ou Cabo Verde aceita o suborno e não entrega Saab aos EUA ou recusa o tal ouro e terá de arcar com consequências drásticas.
E como ficam os EUA no meio disto tudo?
...Enfim, por este andar virão, dentro em breve, novos e quentes capítulos desta novela política com final imprevisível.
MNE despreocupado
Ao que parece, essas novidades não incomodam em nada o ministro dos Negócios Estrangeiros, que considerou hoje, que as últimas notícias que têm vindo a público são "especulações da imprensa estrangeira". Luis Filipe Tavares reagia desta forma hoje, 28, à reportagem do New York Times sobre o navio de guerra San Jacinto que os EUA mantiveram nos mares de Cabo Verde em Novembro para vigiar e tentar impedir uma suposta tentaiva de fuga de Alex Saab com operacionais venezuelanos e iranianos.
"Há muita especulação na imprensa internacional em relação a essa matéria, o Governo de Cabo Verde já disse variadíssimas vezes que não vai comentar esse assunto até que haja uma decisão da justiça cabo-verdiana”, disse o governante, notando que Cabo Verde é um Estado de direito democrático, com órgãos de soberania independentes e que o Executivo vai respeitar as decisões judiciais de forma muito tranquila.
O governante - sem conhecer este caso de um suposto envio de "grandes quantidades de ouro" ao país e da mensagem de Natal de Nicolás Maduro - assegurou que o Governo está tranquilo e que as relações de Cabo Verde com a comunidade internacional “são excelentes” e que o arquipélago “não tem nenhum problema político/diplomático com nenhum país”, realçando que a relação com os EUA e Irão “são excelentes e vão continuar a ser muito boas”.
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