À medida que o calendário eleitoral se aproxima, o ambiente político em Cabo Verde está a ganhar contornos de tensão e mistério. Desaparecimentos de computadores, processos sensíveis fora de radar e mensagens enigmáticas de figuras conhecidas estão a alimentar suspeitas de uma possível “queima de arquivo” às vésperas das eleições legislativas de 2026.
O caso mais recente ocorreu no final de setembro, quando todos os computadores do departamento de Contribuições do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) desapareceram na sequência de um alegado assalto às instalações da instituição, no coração da Cidade da Praia. Segundo fontes da Polícia Judiciária (PJ), a intrusão deu-se pela traseira do edifício, mas apenas uma sala foi visada. “Nada mais foi tocado. É difícil não considerar este um ataque cirúrgico”, afirmou uma fonte policial conhecedora do processo.
O caso, até agora envolto em silêncio, está a gerar algum incómodo. “Há sinais claros de que se está a tentar apagar rastos. A proximidade das eleições só reforça a leitura de que há aqui algo mais do que um simples furto”, disse à nossa redação uma fonte policial que prefere manter o anonimato.
Quase em simultâneo, o computador pessoal da juíza Ana Reis, do Tribunal de Contas, também desapareceu. A magistrada tinha em mãos processos considerados “de grande sensibilidade” e é parente de Mário Rui Lopes Fernandes, presidente do Conselho Executivo do INPS. “É impossível ignorar a coincidência temporal entre os dois episódios”, comentou um ex-dirigente judicial, lembrando que Ana Reis já esteve ligada a casos de alta carga política.
Coincidência ou não, Ana Reis, mesmo sem ter nada a ver com o processo, foi vista a deambular pelo Tribunal da Praia aquando da detenção de Sandeney Fernandes, ex-coordenador da Unidade de Acompanhamento do Sector Empresarial do Estado (UASE).
Recorde-se que Fernandes é acusado de corrupção e de conflito de interesses na polémica operação de aquisição de ações da Caixa Económica de Cabo Verde (CECV), onde, segundo um relatório da Auditoria Geral do Mercado de Valores Mobiliários (AGMVM), teria atuado simultaneamente como comprador privado e representante do Estado.
Nos últimos dias, Sandeney Fernandes lançou ainda mais combustível para o debate ao publicar uma mensagem enigmática nas redes sociais, que acabou por apagar minutos depois. “Mantenham os olhos no futuro. A verdade será compreendida”, escreveu, num tom interpretado por várias fontes como um alerta ou denúncia velada de movimentações para silenciar casos comprometedores. “O facto de a mensagem ter desaparecido só aumenta a perceção de que há pressões invisíveis em jogo”, disse uma fonte.
Segundo as nossas fontes, o somatório destes episódios é demasiado suspeito para ser ignorado. “Estamos perante uma possível operação de limpeza de provas antes de um ciclo eleitoral decisivo”, sublinhou uma das fontes, alertando para o impacto que a perda de registos poderá ter em futuras investigações sobre a gestão de fundos públicos.
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A equipa do Santiago Magazine