Santa Maria, a vergonha turística, que não sabe nadar!
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Santa Maria, a vergonha turística, que não sabe nadar!

Santa Maria não sabe nadar, mas é o povo que se afoga na negligência, na mediocridade e na falta de visão de quem devia cuidar da ilha. Chega de abandono! Chega de cosmética barata! Queremos dignidade, queremos respeito, queremos um futuro à altura do que nos prometeram e que Santa Maria merece.. Santa Maria contribui por 14,5 % do PIB nacional, aproximadamente 400 milhões de euros.

É vergonhoso ver o estado a que deixaram chegar esta cidade, entregue ao abandono, como se houvesse uma vontade política, somada a uma burrice sem limites, em matar o turismo em Santa Maria.

Santa Maria ficou totalmente alagada, transformada em poças imundas, com uns “burrifos” de desprezo à dignidade de quem cá vive e de quem nos visita.

Após a última chuva que caiu em Santa Maria, ficou provado que o sistema de drenagem não funciona. Ruas inteiras transformaram-se em lagoas e charcos, onde já nem a pé se conseguia circular.

E no dia seguinte, a cidade estava imunda: um caos de lixo espalhado pelas artérias principais, desde lixo orgânico a latas, garrafas, plásticos e papéis. O lixo dos poucos contentores existentes escorria pelas ruas, numa cidade que vive e depende a 100% do turismo.

O problema não é de hoje. As fotos são de 2019, mas poderiam ser de 2025, porque nada mudou. O sistema de drenagem ficou comprometido desde a construção dos hotéis Hilton e RIU, mas as autoridades locais simplesmente ignoraram a questão. Preferiram fechar os olhos ao essencial e deixar a cidade à deriva.

Ainda mais grave é ler e ouvir comentários de turistas e estrangeiros residentes a dizerem: “Isto é África. Nada vai mudar, é uma questão de mentalidade política.” O mais doloroso é perceber que quem dinamiza a economia do país já identifica em Santa Maria a mesma vergonha que se escondia em São Vicente. Ouvir dizer que Santa Maria é uma cidade “colada com cuspe” e que, com as alterações climáticas, pode vir a ser ainda pior que São Vicente (Deus queira que não!) é uma humilhação pública.

E o mais triste é a cumplicidade da nossa classe política da ilha: todos mergulhados na mesma vergonha. Além do lixo espalhado, o cheiro nauseabundo (como comentam turistas nas redes sociais) denuncia o colapso de uma cidade que já foi vitrine do turismo, mas que agora não passa de uma “Bia” qualquer, esquecida e maltratada.

As queixas dos turistas e residentes estrangeiros são repetidas: falhas constantes de energia, falta de água, lixo acumulado sem recolha adequada, escassez de contentores e obras inacabadas que deixam entulho por toda a cidade. Enquanto a Câmara mente descaradamente dizendo que o lixo já foi retirado e que a cidade está a ser limpa, a verdade salta aos olhos. Só não vê quem não quer.

Para agravar a vergonha, o vice-presidente Júlio Lopes teve a ousadia de despejar um bocado de asfalto e chamar isso de “desenvolvimento”, até de “exótico”, mostrando que está a léguas do que significa valorizar o turismo. Uma incapacidade gritante, digna de quem escreve livros sobre turismo, mas não consegue apresentar um projeto do que quer e do que será Santa Maria.

E como se não bastasse, a incompetência é transversal: 40 contos de ajuda para autoconstrução anunciados como se fossem solução para a habitação, uma basofaria monumental que insulta a inteligência de todos.

Se o abandono local já é revoltante, pior ainda é ver a forma como o Governo central trata a ilha. Em cinco anos (entre 2022 e 2026), a transferência de taxa turística para a Câmara será de apenas 880 mil contos, valor inferior ao que o Sal arrecadou em 2024. É a prova clara de como os governantes, que viram na política uma escapatória pessoal, continuam a virar as costas a esta cidade que tanto dá ao país.

Ainda mais grave é que o Primeiro-Ministro Ulisses Correia e Silva prometeu municipalizar a taxa turística, criticando o anterior governo por a centralizar, mas nunca cumpriu esta promessa. Santa Maria continua refém da centralização e da promessa não cumprida, enquanto quem vive e trabalha na cidade paga o preço desta negligência.

E o mais revoltante é que os turistas que amam Cabo Verde, e que repetem as suas férias no Sal ano após ano, já dizem claramente: os problemas persistem, são sempre os mesmos, nada muda. Essa é a verdadeira realidade que se vive em Santa Maria!

Santa Maria não sabe nadar, mas é o povo que se afoga na negligência, na mediocridade e na falta de visão de quem devia cuidar da ilha. Chega de abandono! Chega de cosmética barata! Queremos dignidade, queremos respeito, queremos um futuro à altura do que nos prometeram e que Santa Maria merece..

Santa Maria contribui por 14,5 % do PIB nacional, aproximadamente 400 milhões de euros.

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