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O Comité Nacional Palestiniano de BDS contactou Santiago Magazine para informar que “mais de 318 toneladas de projécteis de 155 mm, idênticos aos utilizados no assassinato de pelo menos 10 pessoas palestinianas que aguardavam por comida, estão actualmente a caminho de Israel, via Cabo Verde”, onde deve se reabastecer no Porto Grande, Mindelo, no dia 28, domingo.

As munições estarão acomodadas em 18 contentores, que saíram desde o dia 28 de Agosto do porto de Chennai, na índia, com destino ao porto de Haifa, em Israel, onde está prevista a sua chegada a 10 de Outubro. “A sociedade civil palestiniana apela a Cabo Verde que impeça que o navio Marianne Danica, de bandeira dinamarquesa, entregue a sua carga de munições e material militar destinado ao genocídio cometido por Israel contra o povo palestiniano”, reivindica o Comité Nacional Palestiniano de BDS.

“O navio partiu da Índia com destino ao porto israelita de Haifa. A publicação de jornalismo investigativo irlandês The Ditch expos a documentação, que revela ainda que o navio passará por Porto Grande, Cabo Verde, com chegada prevista a 28 de setembro. O Comité Nacional Palestiniano de BDS (BNC), a maior coligação da sociedade civil palestiniana que lidera o movimento global de BDS, apela à nação irmã de Cabo Verde que impeça que o navio Marianne Danica entregue a sua carga de munições e mantimentos militares para o genocídio israelita em Gaza”, acrescenta o BDS.

Os projécteis de 155 mm do tipo M107 estão entre as armas mais letais que Israel utiliza contra o povo palestiniano.Neste momento, segundo avança o Comité Nacional Palestiniano, o Marianne Danica transporta atualmente 18 contentores de projéteis M107 de 155 mm, cada um com 17,7 toneladas. “Os projécteis M107 podem ser disparados a mais de 16 km de distância e, ao detonar, fragmentam-se em 1.950 pedaços. Estes fragmentos foram encontrados em corpos de crianças em Gaza. Os projécteis de 155 mm são cruciais para a artilharia israelita e vários dos seus projécteis foram utilizados no bombardeamento do hospital Al Shifa, em Gaza, e no assassinato de pelo menos dez civis que recolhiam alimentos no campo de refugiados de Jabalia”.

O navio transporta também contentores com 343 caixas de tratamento de superfícies, uma substância utilizada para proteger as armas contra a oxidação, condições meteorológicas extremas e corrosão. Podem ser utilizados para prolongar a vida útil das armas israelitas utilizadas contra os palestinianos.

No ano passado, o Marianne Danica (IMO: 9006241), de bandeira dinamarquesa, foi proibido pela Espanha de atracar nos seus portos por transportar material militar para Israel, mas antes fizera escala no Porto Grande, Mindelo, sem qualquer empecilho. A Enapor viria a emitor um comunicado admitindo a escala de Marianne Danica e de um outro navio, Vertom Odette, também suspeito de transportar arsenal bélico, mas negando que as embarcações tivessem como porto de destino Haifa, em Israel, e sim Cartagena, na Espanha.

“Cabo Verde já albergou vários navios que forneciam a Israel componentes fundamentais, armas e artigos de dupla utilização, para a continuação do seu genocídio contra a população palestiniana de 2,3 milhões em Gaza, apesar do apoio consistente do país à autodeterminação palestiniana na ONU. Cabo Verde votou a favor da Resolução A/RES/ES-10/24 da AGNU, adotada a 18 de setembro de 2024, que apela a um embargo militar a Israel, em conformidade com as obrigações legais do Estado. Após protestos generalizados que impediram com sucesso a atracagem de navios que transportavam materiais militares para Israel na Namíbia, Angola, Espanha, França, Itália, Eslovénia, Malta, Grécia, Turquia e outros países, Cabo Verde emergiu como um porto crucial para facilitar o transporte de material militar a caminho de Israel”, revela o BDS.

Mahmoud Nawaja’a, Coordenador Geral do BNC, afirma: “O movimento BDS apela ao povo de Cabo Verde para que pressione imediatamente o seu governo e autoridades portuárias para que parem imediatamente o transporte desta carga mortal para uso de Israel em corpos palestinianos. O povo de Cabo Verde deve garantir que não dará abrigo ao genocídio e pressionar o seu governo e autoridades portuárias para que investiguem o Marianne Danica e confisquem qualquer carga ilegal a bordo do navio”.

“Apelamos ao povo de Cabo Verde, com a sua orgulhosa história de luta anticolonial, para que nos acompanhe nesta hora mais sombria da nossa luta contra o genocídio, o apartheid e a ocupação ilegal de Israel, e para que se posicione do lado certo da história e do crescente número de países que não permitem que o seu mar e portos sejam usados para alimentar o genocídio de Israel, mas que tomem medidas para impedir o fluxo de material militar. A frota genocida de Israel deve ser detida”, reforça.

Um recente parecer jurídico de importantes especialistas em Direito do Mar, coordenado pela ASCOMARE, concluiu que a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar impõe aos Estados costeiros o dever de tomar as medidas necessárias nos seus mares territoriais, incluindo a interrupção ou suspensão da passagem, contra embarcações que transportem mantimentos militares ou outras cargas que auxiliem Israel na sua ocupação ilegal, apartheid, genocídio ou outras violações de princípios fundamentais (normas peremptórias) do direito internacional, como o direito à autodeterminação dos povos e a proibição da aquisição de territórios pela força.