Exposto como mandante do golpe, Sissoco obrigado a abandonar o país
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Exposto como mandante do golpe, Sissoco obrigado a abandonar o país

Umaro Sissoco Embaló saiu ontem de Bissau rumo a Dakar, em avião fretado pelas autoridades senegalesas. Em círculos políticos da capital guineense e nos corredores da CEDEAO, comenta-se que ao ex-presidente não restava outra alternativa para fugir às consequências de ter sido o mandante do golpe militar. Após o comunicado saído da Conferência de Chefes de Estado e de Governo, não restava a Sissoco outra saída. A encenação não se aguentou mais de 24 horas.

Umaro Sissoco Embaló, presidente cessante e previsível candidato derrotado nas eleições do último domingo, abandonou Bissau rumo a Dakar. A saída apressada da capital guineense acontece nesta quinta-feira, 27, logo após ser anunciado o comunicado da Conferência de Chefes de Estado e de Governo realizada por videoconferência.

Orquestrador e mandante do golpe de Estado militar da última quarta-feira, 26, incapaz de convencer os seus próprios aliados de que nada tinha a ver com a intentona de que seria uma vítima, desde cedo ficou claro que o golpe, sem apoios internacionais, seria coisa de pouca dura.

“Exposto como chefe do golpe, sem apoios internacionais, restou ao golpista fugir para o Senegal. Uma fuga imposta pela CEDEAO”, disse ao nosso jornal uma fonte diplomática creditada em Bissau, que avança a previsão do que poderá acontecer de seguida: “agora, a CNE anuncia o vencedor das eleições e os militares metem o rabinho entre as pernas e retiram-se do poder ser alarde, dando lugar ao presidente eleito”.

Encenação desmontada

Sissoco chegou à capital senegalesa na noite de ontem, num avião fretado pelo Governo de Dakar, segundo avançou o Ministério dos Negócios Estrangeiros daquele país.

"Um avião foi fretado pelo Governo para se deslocar a Bissau e auxiliar nesta operação de repatriamento. Isto possibilitou a chegada são e salvo do presidente Umaro Sissoco Embaló ao Senegal", pode ler-se no comunicado da diplomacia senegalesa.

A encenação montada pelo ex-presidente e seus homens de mão não convenceu ninguém e, antes pelo contrário, “ficou claro tratar-se de um expediente para amputar o processo de apuração de votos e perpetuar no poder Umaro Sissoco Embaló”, diz ainda a nossa fonte diplomática.

Cai, assim, por terra o mito de “grande estratego” atribuído a Sissoco pelos seus apoiantes, também tristemente conhecido como “Bolsonaro de África”.

Segundo as nossas fontes, a Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, realizada ontem virtualmente, terá atribuído ao presidente senegalês, Bassirou Diomaye Faye, a responsabilidade da logística de saída do Sissoco da Guiné-Bissau, já que se temia que a vida do ex-presidente pudesses estar em risco, na sequência da previsível queda do Alto Comando Militar, isolado nos quartéis, nas ruas e, principalmente, a nível internacional.

Firme condenação da CEDEAO

O comunicado final da cimeira foi muito claro, conforme avançamos ontem: a CEDEAO expressou "firme condenação da tentativa de tomada do poder pela força” e apelou à “restauração da ordem constitucional”.

"Os chefes de Estado decidiram, ainda, criar um pequeno comité de mediação, do qual o Senegal é membro, que se deslocará em breve a Bissau para acompanhar a implementação destas medidas", pode ler-se, ainda, no comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Senegal.

A operação de remoção de Sissoco, de Bissau para Dakar, aconteceu sob orientação pessoal do presidente Bassirou Diomaye Faye, que também se tem mantido em contacto direto com todas as partes envolvidas nesta crise.

Libertação de todos os detidos pelo golpe

Uma das outras exigências da CEDEAO é a libertação de todos os detidos pelos golpistas, tudo figuras da oposição a Sissoco, tendo à cabeça o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, que, segundo uma das nossas fontes em Bissau, poderá ter sido já libertado.

Uma informação que estamos a tentar confirmar, já que as versões são muito desencontradas. E, de todo o modo, na página oficial do PAIGC nada consta sobre a libertação do líder.

Foto: Yelena Afonina/TASS

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