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Amílcar Cabral foi primeiro líder africano a dar sentido à diplomacia - investigadora
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Amílcar Cabral foi primeiro líder africano a dar sentido à diplomacia - investigadora

A investigadora Filomena Falé disse, em entrevista à Lusa, que Amílcar Cabral “deixou um notável legado político e teórico” e que foi o primeiro líder africano a fazê-lo, usando a diplomacia como nenhum africano até então tinha usado.

Filomena Falé, que em novembro de 2022 defendeu na sua tese de mestrado em Ação humanitária, no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, que o que distingue Amílcar Cabral de todos os outros “não é só o conteúdo da sua mensagem, mas a forma como o fez”.

“Cabral entendeu, de uma forma clara, que a via diplomática, usada de forma inteligente e persistente, seria uma frente de batalha que poderia permitir ganhar a guerra. E quando se diz a guerra, não é só ganhar a luta armada - uma inevitabilidade, face à política colonial defendida por Oliveira Salazar e Marcello Caetano -, mas sim conseguir o objetivo final: a autodeterminação dum povo”, como consigna o nº 2 do art. 1º da Carta das Nações Unidas.

A investigadora, radicada há vários anos em Cabo Verde, recordou as palavras de Amílcar Cabral em outubro de 1972, numa das suas intervenções perante a Assembleia Geral da ONU, quando deixou clara a natureza dos combatentes do PAIGC: “(…) nós somos combatentes anónimos da causa da ONU (…) repudiando a condição de mendigo da liberdade, que não se coaduna com a dignidade e o direito sagrado do nosso povo a ser livre e independente (…)”.

“A forma é inovadora e a consciência de que lutava em prol da humanidade está presente em todo o pensamento diplomático de Cabral”, sustentou Filomena Falé.

A luta de Amílcar Cabral contra o regime colonial português envolveu sempre várias componentes, não se cingindo à luta armada.

Daí que, para Filomena Falé, a diplomacia tenha sido uma componente fundamental para a autodeterminação de Cabo Verde e da Guiné-Bissau.

Amílcar Cabral enfatizou essa frente de batalha, que denominava de “relações externas do partido” e que resultaram no reconhecimento internacional do PAIGC, que, defendeu, “não teria tido a projeção e o sucesso que teve sem o trabalho diplomático encabeçado por Cabral.

“Esse foi o elemento diferenciador entre o PAIGC e muitos outros movimentos que existiam na época, com o mesmo objetivo e que ficaram pelo caminho”, acrescentou.

Filomena Falé deu como exemplo do resultado da aposta diplomática, o reconhecimento pela Assembleia Geral da ONU, em 02 de novembro de 1973, da declaração unilateral de independência, feita em 24 de setembro desse ano.

Amílcar Cabral não assistiu ao culminar do seu trabalho, pois havia sido assassinado em Conacri, em 20 de janeiro de 1973.

Embora não tenha investigado a fundo o assassínio de Cabral, Filomena Falé, pelas pesquisas e entrevistas que fez, disse-se convencida de que foi a fação guineense do PAIGC a responsável pela eliminação física do dirigente nacionalista.

“Até hoje estou convencida de que, embora com conhecimento da PIDE [polícia política do regime colonial português], mas não em conluio, estou convencida genuinamente que foi a fação guineense do PAIGC, com o Sekou Touré, da Guiné-Conacri”, afirmou.

Touré receava a influência e a notoriedade de Cabral e, para preservar o seu regime e como pressuposto da sua ideia de criação de uma Grande Guiné, aquiesceu aos planos para o afastamento de Amílcar Cabral.

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