• Praia
  • 29℃ Praia, Cabo Verde
O triunfo da esquerda
Editorial

O triunfo da esquerda

O Governo perdeu o foco da governação e entrou em estado de total desorientação. Deixou de governar o país e está preocupado apenas em tomar medidas pontuais avulsas. Pior de tudo é que são medidas copiadas às que estão a ser tomadas por uma câmara municipal, a da capital do país. O Governo passa a colocar o enfoque nos grupos sociais que foram alvo da atenção do Presidente da Câmara Municipal da Praia. Francisco Carvalho reduziu o valor da renovação das licenças de táxis e, logo de seguida, o Governo anunciou uma redução para os taxistas. O Francisco anunciou a eliminação das taxas de hiacistas e de cobrança de entrada no cais de pesca, o Governo correu a reduzir umas taxas aos hiacistas e decidiu subsidiar a entrada no cais. Carvalho desceu a renda das casas de classe A para 1300$00 por mês e o Governo faz o anúncio da adaptação das rendas ao rendimento das famílias.

As novas vozes do mundo sempre começaram por ser sussurros que depois se tornaram ruidosos e se impuseram. Foi assim com as grandes viragens da história da humanidade. Foi assim com a Revolução Francesa, a constituição da América, o fim da escravatura, o fim dos impérios coloniais, as guerras de independência e a perestroika. Estamos longe de deixar de assistir à contínua emergência de novas vozes no mundo, muito menos em Cabo Verde. Há sinais de um novo ciclo de triunfo da esquerda no país de Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Pedro Pires, Renato Cardoso, e outros humanistas, defensores da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres.

A história recente destas ilhas atlânticas, mais particularmente, no período pós-independência, é marcada por ciclos coincidentes com a governação do país. 1975-1991 com o governo a procurar cuidar de todos os cidadãos, assumindo o papel de um Estado que toma conta do povo; 1991-2001 há um Estado mercantilista que vende as suas propriedades, tanto empresas, como terrenos. Uma aposta na privatização, isto é, a passagem do que era público para o privado, para o nome de alguém que, assim, se enriquece da noite para o dia; 2001-2016 Cabo Verde vive um período de retoma da concentração na pessoa humana, no cuidar de todos os cidadãos. Há novas marcas dessa preocupação com o pensar em todos. Assiste-se à maior vaga de sempre de construção de projetos estruturantes e coletivos: portos, aeroportos, liceus, hospitais e delegacias de saúde, estradas de terceira geração, grandes conjuntos habitacionais no âmbito do projeto Casa Para Todos, estádios, a universidade pública, escolas de turismo e de energias renováveis, entre outros projetos; 2016-2021 dá-se o regresso à privatização com falhanços desastrosos em todas as áreas ensaiadas, nos transportes aéreos e marítimos, com a entrega do monopólio no mercado interno aéreo, o desmantelamento da transportadora nacional e o vazio nas ligações aéreas internacionais, chegando a fevereiro de 2021 sem um único avião para fazer um único voo!

O Governo perdeu o foco da governação e entrou em estado de total desorientação. Deixou de governar o país e está preocupado apenas em tomar medidas pontuais avulsas. Pior de tudo é que são medidas copiadas às que estão a ser tomadas por uma câmara municipal, a da capital do país. O Governo passa a colocar o enfoque nos grupos sociais que foram alvo da atenção do Presidente da Câmara Municipal da Praia. Francisco Carvalho reduziu o valor da renovação das licenças de táxis e, logo de seguida, o Governo anunciou uma redução para os taxistas. O Francisco anunciou a eliminação das taxas de hiacistas e de cobrança de entrada no cais de pesca, o Governo correu a reduzir umas taxas aos hiacistas e decidiu subsidiar a entrada no cais. Carvalho desceu a renda das casas de classe A para 1300$00 por mês e o Governo faz o anúncio da adaptação das rendas ao rendimento das famílias.

Como se costuma dizer na gíria caboverdeana, o Governo "ferveu" a cara, ou seja, perdeu a vergonha de copiar medidas porque está a fazer fé de que o povo não vai se aperceber, uma vez que a denúncia desta cópia não chegaria junto das massas, ciente que tem a televisão pública controlada. Mais uma vez, o Governo menospreza o poder das redes sociais onde, na verdade, há já muito tempo que corre solto a denúncia da cópia deslavada que está a ser efetuada por ele (Governo).

A boa notícia é que este copianço é sinal do triunfo da esquerda. Este Governo fez campanha à esquerda, oferecendo medidas centradas nas pessoas, mas assim que ganhou as eleições começou a vender o país e a governar à direita. O presidente do MpD e Primeiro-ministro chegou mesmo a afirmar que uma coisa é a campanha eleitoral e outra coisa, bem diferente, é a governação. Só que, face à crescente condenação do Governo pela sociedade, o MpD decide implementar medidas de esquerda, num jogo de vale tudo para enganar os cidadãos.

O Governo vai ao cúmulo de descaracterizar-se completamente e trair os seus próprias princípios - se os tem - num desesperado jogo de vale tudo para agarrar-se ao poder. Para quê querer governar só para ajudar os amigos a se enriquecerem? Deixem quem acredita de facto na esquerda governar o país para que as medidas tenham impacto duradouro na vida das pessoas. Deixem a esquerda triunfar de verdade! Cabo Verde não aguenta essa pressão ultraliberal do Governo, com o setor privado pendurado às tetas do Estado.

 

 

 

Partilhe esta notícia