Governo "enterrou" mais de 10,6 milhões de contos do Tesouro do Estado na CVA
Economia

Governo "enterrou" mais de 10,6 milhões de contos do Tesouro do Estado na CVA

Santiago Magazine está na posse de dados que apontam que, de 2016 a presente data, o Governo de Cabo Verde transferiu para a Cabo Verde Airlines (CVA) qualquer coisa como 10.691.868.341$00, equivalentes a 178.197.805$00 mensais em 5 anos de mandato. Dessa “bazuca” financeira, parafraseando o vice-primeiro ministro e ministro das finanças, Olavo Correia, 8.352.590.341$00 foram diretamente transferidos para a tesouraria da companhia, e os restantes 2.339.278.441$00 foram parar à empresa Newco, criada para gerir e honrar os compromissos da antiga TACV.

Ulisses Correia e Silva e Olavo Correia são os principais responsáveis por essa sangria dos recursos do Estado para o setor privado, no caso, a Cabo Verde Airlines (CVA).

Ao longo do mandato, e sobretudo após a privatização da TACV, em março de 2019, o Governo autorizou vários avales aos Islandeses, em valores superiores a 13 milhões de contos.

Em diferentes ocasiões a oposição se fez ouvir nas sessões parlamentares, a alertar o Governo sobre o perigo dos avales, porquanto vincula diretamente o Estado aos créditos contraídos pela CVA, mas o Governo procurou sempre se defender, alegando que avales não são financiamentos.

Em todos os pedidos de informações e esclarecimentos relacionados com as contas da CVA, nunca se ouviu o Governo a assumir ter financiado, com fundos do tesouro público, a tesouraria da CVA.

Certamente o país inteiro está lembrado quando, no momento da privatização, o Governo, pela boca de Olavo Correia, ter declarado que uma das vantagens daquela parceria com os Islandeses era que nenhum centavo seria canalizado para a companhia a partir daquela data.

Após privatização Governo canaliza 4.445.981.496$00 para CVA

Porém, documentos na posse de Santiago Magazine, e extraídos diretamente do sistema da contabilidade pública, mostram que para além dos avales o Governo canalizou 10.691.868.341$00 de fundos públicos para a CVA, tendo em 2019, ano da privatização da companhia, transferido em operações de tesouraria do Ministério das Finanças, o montante de 2.465.012.359$00 para tesouraria daquela empresa.

Mas ainda nesse ano, o Governo transferiu para a Newco, uma empresa criada para gerir e honrar os compromissos da TACV, o montante de 1.166.081.518$00.

Assim, temos que só em 2019, o Governo canalizou 3.631.093.877$00 do Estado para financiar a tesouraria da CVA.

Em 2020, ano da pandemia e da paralisia total dos voos da CVA, o Governo conseguiu transferir 79.313.504$00 do Estado para a tesouraria daquela companhia.

Nesse mesmo ano, o Governo fez sair dos cofres do Estado 551.870.275$00 para a tesouraria da Newco, somando assim o total de 631.183.779$00 “enterrados” numa companhia totalmente inoperante, sobretudo a partir de março de 2020.

Mas a transferência de fundos públicos para a CVA não parou em 2020.

Neste ano de 2021 em  curso, o Governo transferiu já 17.703.840$00, o que somados aos 166.000.000$00 enviados para a Newco, dá qualquer como 183.703.840$00.

Feitas as contas, temos que após a privatização da companhia em 2019, o Governo já canalizou um total de 4.445.981.496$00 do Estado para alimentar uma empresa privada e estrangeira.

MpD não trouxe solução, a não ser na intransparência

Com esses dados, fica evidente que o Governo de Ulisses Correia e Silva não conseguiu nada de especial na gestão da TACV, pois esses mesmos dados dizem que ainda em 2016, ano em que assumiria o Governo, Ulisses Correia e Silva e o seu nº 2, Olavo Correia, transferiram 174.249.850$00 do tesouro do Estado para alimentar a tesouraria da TACV.

Essa torneira financeira continuaria aberta em 2017, com o montante de 1.797.160.372$00, e em 2018, com 3.817.150.416$00, sendo este o valor mais alto registado durante todo mandato dos rabentolas, que termina no domingo, 18 de abril com as eleições legislativas.

De modo que, está claro que o Estado tem amamentado a CVA de forma sistemática e duradoura. Neste momento, a devastação financeira provocada por estas medidas aos bolsos dos cabo-verdianos atingem valores superiores de 24 milhões de contos, se se incluir os avales emitidos pelo Governo ao longo dos últimos 2 anos.

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