Ao Dia Nacional da Cultura Cabo-verdiana
I
Não! Não é preciso dizer faz-se um esforço, faz-se um esforço. Não é nem uma rua nem uma longa estrada. É uma travessa. Nem tem caminho de cabras. Mas devagar, devagarinho, vão-se construindo a travessa: Noz Rua d’Arte. Devagar, devagarinho que ilumina em lampejos de ideias e com pinceladas de cores das estrelas…. Sem néon avermalhado. É o nosso atelier a céu aberto: “Noz Rua d’Arte”. Com os seus olhares não franzidos que mantêm espaços intímos, sem distanciamentos e protegem os segredos de todos. Sem poder fantasiar os seus encontros prováveis ou improváveis ou de incidentes romanescos de pares. Ela já tem o seu padrinho!
II
Não há despedida. Nunca poderá haver despedidas. A tal de Romeu&Julieta cantando “A despedida é uma dor tão suave que te diria boa noite até o amanhecer.” Ali ficaria a curtir a minha rabugice e nunca se pode imaginar no romance “Ferrovia Subterrânea” de Colson Whitehood, o vencedor do Pulitzer, que na escola lhe explicaram como era uma ferrovia sob terra que os escravos podiam usar para fugir de um Estado para outro Estado (Carolina do Norte para Carolina do Sul) contra a perseguição da raça branca. Nenhum escritor americano se divertiu mais com coisas sérias do que ele, nos últimos 20 anos. Narrou que os escravos se rebelem de diferentes formas, seja cuspindo na sopa do senhor, seja fingindo, que disfarce as ideias sobre as quais aquela sociedade se ergueu.
III
Nasceu “Noz Rua D’Arte” com sonhos. Ali, não há lugar para “Ferrovia Subterrânea”. Todos os caminhos se cruzam e o mar nos cercam com a água salgada. Quando assim acontece. Palmas! Dom Quixote enaltece “Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha juntos é o começo da realidade.” Digo bravo. São génios (!) Ontem, começou uma nova realidade no bairro da Terra Branca com muita imaginação e criatividade aglutinadoras de vontades e de cultura cidadã como dizia o meu poeta“ Na laranja o Sol e a Lua dormem de mãos dadas.” Acrescento, também, no atelier a céu aberto, sonhamos juntos.
IV
Ó “Noz Rua d’Arte” ou atelier a céu aberto! Colson Whitehood narrou que no passado a menina escrava quando chegava à puberdade, começa o pior período para ela, porque se torna presa sexual do senhor de escravos, dos feitores, doutros escravos, e tem a obrigação de produzir bebês quando mais bebês mais gentes para colher algodão e mais algodão queria dizer mais dinheiro.
V
No nosso bairro a Terra é Branca e a nossa liberdade é da cor do algodão: Branca. Não é nem um pedaço de pão nem meia-laranja porque somos herdeiros de Miguel Cervantes que sempre acreditou no diálogo e em ouvir os outros, é algo que estamos construindo. Mas acreditamos piamente que é difícil olhar a escravidão, seja você branco ou negro.
VI
Ó “Noz Rua d’Arte” ou atelier a céu aberto!
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