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Estórias e comportamentos dos bichos 3
Cultura

Estórias e comportamentos dos bichos 3

CAPÍTULO PRIMEIRO

ASSEMBLEIA INTERNACIONAL DOS BICHOS UNIDOS

(Terceira parte)

Quem não achou lá muito católica a conduta do puto foi o deputado Falcão que, na hora, lhe chamou a atenção pela sua incorreta forma de agir perante uma pessoa mais velha.

– Malcriado! Assim é que te ensinaram a falar com pessoas mais velhas? E ainda por cima, tratando-se de uma senhora?

Auto advogando-se, o insolente puto respondeu-lhe ainda da pior forma.

– Se sou malcriado, aprendi, foi contigo! Quem te chamou nesta conversa? Eu sou malcriado e tu és atrevido.

A procacidade do puto não podia deixar nada nem ninguém indiferente ou calado. Então entoou o deputado Grilo numa voz tenor, apesar de ele, normalmente, ser soprano:

– Tu não tens respeito pelos mais velhos, puto? Olha para a cara daquela viúva ali. Ela tem idade, certamente, para ser tua bisa. [Bisavó] Estupor!

O puto levantou-se de um salto, como se fuliadu [Atirado, arremessado, impulsionado] pela prancha da Praia da Laginha e contra-atacou:

– Estupor é quem me chama! Por que é que desejam a morte ao meu dono? Ele está a incomodar-vos? Que morram vocês!

O deputado Falcão fez-se ignorar a ofensa do puto, mas já o seu colega Grilo ficou negro de raiva. Agitou o punho cerrado e, num cri-cri próprio perguntou:

– Quem falou aqui do teu «dono», pirralho?

O puto também arregalou os olhos mas não se amedrontou dessa intrepidez. Pelo contrário, atroou-se com impulsivo, severo e desafiante timbre:

– Olharam para mim e disseram que o meu «dono» vai morrer daqui há três dias. Porquê? Eles é que são Deus? Eles é que sabem quando é que ele vai morrer?

A velha voltou a inquiri-lo como se se tratasse de uma delegada do Ministério Público a investigar um crime público e doloso, em que estaria obrigada a explorar todas a hipotéticas possibilidades da consubstancialidade de um crime.

– O Cão é do teu avô, menino?

– Qual meu avô! Eu nem conheço o Cão! – voltou puto a ripostar-se com irreverência.

Apercebendo-se da confusão gerada na cabecinha do miúdo, do equívoco adveniente da sua interpretação da palavra «dono» como sendo «avô»; e dono enquanto proprietário do Cão, a viúva dirigiu-se a ele e disse-lhe num tom bastante comedido:

– Já percebi qual é a tua confusão, menino.

Entretanto, apesar do desgosto, ou da raiva que ela poderia ter nutrido pela má-criação do puto, ela conteve-se o suficiente e, com olhar implorante prosseguiu numa tranquila sonância:

– Desculpa, menino. O «dono» que eu me referi, é do Cão. Não era o teu «avô». É o «dono» do Cão que vai morrer daqui a 3 dias.

Havia já alguns anos que não se contavam estórias aos meninos, não se faziam brincadeiras nas noites de luar depois do jantar ou de rezar o terço na vizinhança. Muitos hábitos e costumes do interior se tornaram desconhecidos com o advento da televisão e proliferação das telenovelas brasileiras. Noutros tempos, as pessoas consumiam culturas telúricas e eram quase todas cristãs, católicas, apostólicas, romanas. Havia uma insignificante minoria de rebelados, mas mesmo eles eram devotos e ferrenhos cristãos. Acreditavam piamente na ressurreição do corpo, na imortalidade da alma e na próxima e breve vinda de Jesus Cristo. Afiançavam no castigo perpétuo e na salvação eterna. Criam na existência do Inferno como prisão definitiva para as almas luciferinas; no Purgatório como castigo provisório para almas que nem foram boas o suficiente para alcançarem a Glória diretamente, nem tão más para se eternizarem nas labaredas do calorífero Inferno; e no aconchego do Paraíso onde as almas bondosas iam gozar para sempre da felicidade em forma do Espírito Santo. Pois, acreditavam na salvação e na condenação das almas humanas. Respeitavam uma série de tradições, como por exemplo: se o Galo cantar fora da hora, acreditam que está a avisar que algum navio se encontra naufragado ou à deriva, ou alguma parturiente estará em risco de vida; se um bando de corvos passar por cima de uma aldeia ao cair da tarde, é sinal de que alguém importante daquela aldeia, um respeitado ancião terá morrido. É o sinal de luto e de tristeza; se uma fileira de formiga surgir sobre a cama, é o prenúncio de que uma criança irá morrer. As formigas sentem cheiro a cadáver; se uma pessoa adoecer numa sexta-feira, pior ainda, numa sexta-feira da Paixão, a chance dela não morrer é por demais diminuta. Havia muitas tradições que religiosamente eram respeitadas. Infelizmente, aquele puto conhecia-as muito pouco. E quando se apercebeu, sentiu-se envergonhado, mas o deputado Grilo não lhe poupou críticas.

– E nem pedes desculpa. E olha: não me chames nunca mais de atrevido. Atrevida é a Mosca que pousa no prato onde não é chamada.

Embaraçado, o puto olhou para a velha, colou o queixo ao peito e ficou a ziguezaguear os olhos, ora para o chão, ora para a cara da velha, como se quisesse que o chão abrisse e ele ali se metesse. Deu a mão à palmatória e retratou-se perante Grilo:

– Desculpa.

– Está bem. Eu perdoo-te desta vez.

Entretanto, quem ficou fulo e descontente com o deputado Grilo, tendo-se reagido de imediato e como que electrizado, foi a deputada Mosca:

– Nós pousamos no prato onde não somos chamadas, mas nunca pousamos num prato teu. E sabes por que é que nunca pousamos no teu?

– Gostava de saber. Aliás, gostava que me zoasses – disse o deputado Grilo.

– Porque tu, nem prato tens. Tu só comes «ka ta sopra» [o que não se assopra]. A tua sorte é porque és artista. És assobiador e os descuidados iguais a ti vão ao teu espetáculo. Mas do resto… não sabes fazer patavina de nada. Palerma!

A delegada das Rapas [bicho parecido com Cigarra], tia distante da Formiga e prima em terceiro grau da Bagabaga, exímia batucadeira e magnífica compositora de Finação e Sambuna, quiçá, movida pelo ciúme ou inveja do seu rival, o compositor das melodiosas mornas e irrivalizável fã dos ritmos esfuziantes como Coladeira, Funaná e Kotxi-Pó, deu crédito ao puto em detrimento do seu eterno adversário, o assobiador e deputado Grilo.

– O deputado Grilo é atrevido, sim. Quase se esqueceu que a mesa dele ainda não está estendida! Que a mesa do Cão só tem três pés!

Considerando-se beliscado na sua honra pela utilização abusiva e inoportuna do seu bom nome, o deputado Cão voltou a reagir de forma frenética, com espírito firme e determinado, contra a malfadada e vagabunda deputada Rapa.

– O que tens a ver se a minha mesa tem três ou trinta pés, sua vadia? Empurra-a e vês se ela cai! A não ser que caia em cima de ti.

O puto riu-se quando o deputado Cão chamou vadia à deputada Rapa. Olhou de esguelha para o Leão e, já um pouco recomposto o seu humor, disse num tom um tanto brejeiro:

– Não faltam coisas pra rir. O deputado Cão chamando vadia à deputada Rapa!

Todos se riram menos o Pitbull que não se coibiu de chamar à atenção ao puto:

– E o que é que tu queres dizer com isso, menino insolente?

– É que tu nem onde morar tens, tão pouco onde morrer, vens agora chamar aos outros de vagabundo?! É realmente surreal! Tu só pensas fazer casa quando chove. Mas, mal a chuva passa, tu dizes: a minha cabeça é muito aguda para carregar pedras. E esqueces que a chuva pode voltar a cair.

O deputado Cão virou para Leão com uma estapafúrdia argumentação, própria de quem sofre de perturbações ou que padece da síndrome de Trump:

– Este puto é mesmo insolente. É estúpido, parvo e atrevido. E ainda… sem vergonha na cara! Há bocado, ofendeu uma senhora velha e viúva que poderia ser sua bisa; descaradamente chamou atrevido ao assobiador e colega deputado Grilo; agora vem ele insultar-me, dizendo que sou descuidado, que nem casa tenho, como se alguma vez lhe tivesse pedido para morar com ele! E esqueceu-se de que há dias deu-me uma pedrada na boca.

– Dei-te com pedra na boca porque procuraste.

O feedback do puto fez com que Leão valorizasse a exaltação do deputado Cão e, de imediato, desaprovou a ação de pedrada na boca. Ele era radical e liminarmente contra aqueles que empunham armas contra o outro. Pois, ele também era vítima frequente das caçadeiras do Homem-Bicho e, alguns colegas caíam constantemente em emboscadas como embipos, cedinhas [armadilhas para caçar Pardais] e/ou matambus [armadilha para caçar Pombos. Termo importado, possivelmente das roças de São Tomé e Príncipe pelos contratados] igualmente orquestrados pelo Homem-Bicho. Por isso, repudiava qualquer lei que fosse amiga das armas. Retorceu o bigodaço [Pequeno bigode] e rugiu com forte veemência:

– Se efetivamente, ele chegou a usar arma contra ti, seja arma branca ou preta, bóka-bedju [pistola de fabrico caseiro ou artesanal, usada em crimes entre gangues rivais] ou carabina, txopu [faca ou punhal de metal bem afiado] ou kamuga [faca de lâmina curta, mas muito bem afiada], oitenta [faca usada, normalmente, pelos açougueiros na matança de porcos] ou cabo-branco [conhecido também por Navalha de Dacar], ou seja lá o que for, tens toda a razão para te revoltares.

– Claro que tenho razão. E já agora, senhor camarada, irmão, amigo e excelência Dr. Leão, não se esqueça de tomar medidas contra a Pulga.

– Percebe-se que tu nutres uma venenosa raiva contra a Pulga – disse Leão.

– Tenho e não nego. E tenho porque ela é malvada. Pica-me noite e dia, sem o mínimo de respeito ou consideração pelo meu courinho.

– Tens razão – reiterou Leão, olhando-se para a deputada Pulga. – A Pulga, de facto, tem esse defeito. Não tem respeito – olhou para plateia. – Viram a quantidade de Pulgas que caíram quando este coitado sacudiu o corpo?

– O que mais me dói e me confrange, Sr. Professor Doutor e Primeiro-ministro, Leão Corredor da Selva, é porque não possuo mãos como o Homem-Bicho para me coçar as ilhargas, aliviando o sofrimento e apaziguando a dor. Fico obrigado a sacudir o corpo onde quer que eu esteja, ou sair e espalhar os pés, procurando uma parede, uma rocha ou uma árvore para me encostar e esfregar o corpo. Ou então, procurar um sítio de terra-batida exposta ao sol e meter-me no meio do cálido pó.

– A Pulga faz-me lembrar uma prima que era sépa de [Bastante, destacada, elevada, excelente, grande, muito] mandriona. Era tão preguiçosa, que só para não fechar os olhos, passava várias noites sem dormir – disse a deputada Coruja. – Mas isso é de família… do lado do pai dela. Ela é minha prima pelo lado materno. Um irmão dela também, quando precisava de cortar o cabelo, a mãe serrava-lhe o pescoço, levava a cabeça ao barbeiro e depois voltava a colocar-lha com uma cola.

Todos se riram novamente, menos o deputado Pitbull que considerou despropositada a inoportuna intromissão da deputada Coruja. Ele ainda não tinha concluído a sua reclamação e estava a ser interrompido por um bicho que nem consegue enxergar direito. Achou que a deputada estava a fazer pouco dele. Entretanto, o Leão fez um pequeno virar nas páginas para lembrar ao deputado Cão que o julgamento dos seus crimes ainda não tinha chegado ao fim, e que a sentença não lhe iria ser favorável. E advertiu-o de que, apesar da sua fanfarronice, havia contra ele imensas queixas. Queixas como areia do mar da Areia-Grande em Santa Cruz. Que também estava acusado de ser mau e de morder as criancinhas nas nádegas e nos gémeos das pernas.

Desalentado, o deputado Cão meteu o rabo entre as pernas e pôs a cara no chão, como quem foi apanhado com a boca na botija. E esse desalento foi como uma lufada que fez erguer o deputado Macaco que, um coxi nervoso, entesou o rabo e colocou-o sobre as costas, seguidos de dois saltos mortais para a frente, três para trás e quatro para os lados, posicionando-se no centro do terreiro e disse:

– Eu também tenho muitas queixas contra o patife e nojento deputado Cão.

O Leão abanou a cabeça e, um pouco triste com a forma deselegante como o deputado Macaco o abordou, utilizando palavras ofensivas, indecorosas e proibitivas perante o código de conduta ou deontológico que vigora na Casa Parlamentar, pegou numa pilha de papel que se amontoava em cima da mesa e à sua frente, e rugiu:

– Disseste que tinhas bué da queixas a fazer contra o deputado Cão. Certo?

– Certíssimo.

– Mas, pelo que tenho aqui, existe sim, bué da queixas contra ti.

Admirado, quiçá, aborrecido, o eleito Macaco questionou um pouco admirado:

– Contra mim?! O que lhe disseram que fiz… ou que costumo fazer?

Leão mostrou-lhe um processo com mais de mil e quinhentas páginas e disse-lhe:

– E não são só esses.

– Pura invenção daqueles que vestem calças para lhes taparem a verdadeira cara… cara que desconhece o que é a vergonha e que detêm uma boca que não consegue dizer a verdade. Uma boca que não serve para comer nem para falar, mas sim, para peidar e descomer.

Perante essa hilariante, embora portentosa argumentação do deputado Macaco, a deputada Avestruz abriu as suas curtas asas que, ridiculamente contrastavam com a descomunal alteação das suas pernas, guindou o não menos gigantesco pescoço, abriu o bico que, na parte frontal de uma cabeça assaz minúscula emergia, então falou:

Vestem calças para lhes taparem a verdadeira cara… cara que desconhece o que é a vergonha e que detêm uma boca que não consegue dizer a verdade. Bonita frase! Onde é que a copiaste? Dessa tua cabecinha é que de certeza não saiu.

– Saiu, foi da tua. A tua cabeça é maior do que a minha. Velha atrevida!

– Boca que não come, mas descome – concluiu Avestruz – imagino de que boca se trata.

O deputado Homem-Bicho olhou para a eleita Avestruz e disse-lhe num tom divertido:

– O deputado Macaco tem razão. Ele é que devia trazer umas calças para lhe taparem aquelas horrorosas cicatrizes no traseiro.

A deputada Preguiça estava pendurada numa perna da mesa a sonambular. Acordou estremunhada e perguntou:

– Porque é que Macaco tem essas cicatrizes no traseiro? Será que é porque trabalha sentado?

Num tom zombeteiro, bastante sarcástico e indelicado, interferiu Leão.

– Talvez por ser deputado e passar toda a vida sentado sem fazer nada!

Sem perda de tempo, insinuou o deputado Homem-Bicho:

– Ou por ter sido deportado da terra dele depois de cumprir uma condenação por furto. Ele não gosta de trabalhar… muito menos de estar quieto com os dedos! Deve ser por ter estado muito tempo sentado num calabouço que lhe nasceram esses calos no traseiro.

Depois de uma ruidosa gargalhada, Leão abriu uma gaveta e mostrou ao público um montão de processos. O deputado Macaco ficou mais aterrorizado. Os restantes ficaram boquiabertos, auto-interrogando-se como se estivessem apiedados com a sorte do animalzinho de longa cauda. Todos esses processos são queixas contra o Macaco?! Não. Não eram, não. Eram também contra outros Bichos. Da nação contra Homens-Bichos, de Homens-Bichos contra a nação, da nação contra a nação e até da nação contra Leão, interposto no TPIB – Tribunal Penal Internacional dos Bichos.

– O Homem-Bicho apresentou umas queixas e acusa-te de roubar nas hortas dele – disse Leão, por fim, ao Macaco.

– Roubar, não senhor – explicou o mandatário dos Símios num tom manifestamente justificativo – Eu tiro txaskan [apenas, somente] o necessário para comer com o meu filhote.

– Diz-se aqui que desde que chegaste da Costa de África, tu e a atua querida Macaca, e se instalaram nas rochas da Cumba e do Porto Mosquito, não têm dado tréguas às suas plantações. Que roubam as sua canas, papaias, mangas, goiabas, mandiocas, batatas, cocos e, principalmente, bananas maduras. Que banana madura então!… Não podem ver nem de longe. Que estão já tão habituados que até conseguem arrancar mandioca com a cauda e do coqueiro já descem de cabeça para baixo.

– Não tiramos nada para vendermos, nem para guardarmos e virmos exibir mais tarde, ou irmos de férias para a nossa querida Guiné-Bissau, chão do nosso papê, ou para o Senegal na tabanca da nossa mamê. Nem para fazermos prédios, comprarmos grandes carros que custam milhares de contos.

O Homem-Bicho levantou o dedo para pedir a palavra, o deputado Macaco o abordou:

– Por que não te calas, aldrabãozeco?

O Leão advertiu o deputado Macaco pela utilização de linguagem inadequada e permitiu ao deputado Homem-Bicho que interviesse:

– O que queria dizer, senhor deputado?

um pouco magoado, zangado e revoltado, interveio o deputado Homem-Bicho:

– Pois é, senhor Rei Leão. Se o deputado Macaco não se retratar aqui e agora, pedindo desculpa por me ter chamado de «aldrabãozeco», nem eu, nem os meus representados, doravante, não nos participaremos em nenhuma cerimónia oficial que por cortesia devemos comparecer.

Mas o deputado Macaco não se quedou:

– No que não deveriam ter participado era quando foram no Cartório e Registo Notarial, em conluio com uma funcionária que hoje é chefe das Bichas, corrupta e incompetente para o exercício do cargo que ocupa, arrancando folhas do livro de matriz predial e colar outra folha com o vosso nome e os dos vossos camaradas, como sendo os legítimos donos de todo o terreno de Palmarejo, de Achada São Filipe e de outros arredores da cidade da Praia.

O deputado Macaco estava mesmo cônscio do que desse e viesse. Era já um veterano resiliente. Os seus ancestrais foram trazidos da Costa de África como animais de estimação, por dois Capitães de navios negreiros da ilha de Santiago. Um residia na Capitania do Sul, cuja sede era na Ribeira Grande, ou Cidade Velha, outro na Capitania do Norte, com sede em Alcatraz. O da Ribeira Grande trouxe o Macaco e o do Alcatraz veio com a Macaca. Por causa da fome provocada pela falta de chuva e, consequentemente, pala escassez de alimentos, durante uma das viagens que esses negreiros fizeram, os criados não terão cuidado bem dos símios que, esfomeados, fugiram e ficaram a mercê das suas sortes, espreitando a cada esquina, pulando os quintais e comendo nalgumas panelas solitárias. Perseguidos pelos Cães, procuraram refúgio nas clivosas rochas. O Macaco instalou-se numa côncava lapa em Porto Mosquito e a Macaca estabeleceu-se em Renque Purga, também numa não convexa lapa na rocha da Cumba. E um certo dia, à procura do sustento, os dois se conheceram, se apaixonaram, namoraram, casaram, acasalaram-se e tiveram filhos.

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