Quando a mentira parece com a verdade: o vazio da ética e da crise moral
Colunista

Quando a mentira parece com a verdade: o vazio da ética e da crise moral

A atitude mais difícil nos dias de hoje, é falar a verdade. Nos dias atuais a verdade é o principal motivo de atrair inimigos. Vivemos numa crise existencial da verdade. A maioria prefere iludir e manipular com uma boa  mentira; bem articulada, orquestrada de uma forma "inteligente" e que satisfaça o desejo da clientela.

Numa sociedade em que os valores éticos não são levados em alta conta, a verdade se torna obsoleta, enquanto a mentira corre à solta e faz a sua marcha de uma forma sistémica e epidémica.

Já sabemos à vista desarmada, que os resultados da mentira são previsíveis. Ninguém que preza o bom senso e a inteligência pura, acredita ou pressupõe que a mentira vence alguma batalha. A verdade por mais que dure, vence sempre. E todo aquele que cogita ter a mentira como aliada, já caiu na desgraça e nem se percebeu. O fato terrível é que quem decide andar contra a verdade, perdeu toda a noção do bom senso e da própria inteligência pura.

Devo salientar, que um dos aspetos mais importantes e visíveis da inteligência, é justamente o bom senso. É o equilíbrio percorrendo as artérias e as veias da mente e da sabedoria. O exercício permanente da verdade revela a justiça pessoal, a integridade e a maestria de uma inteligência que não se sucumbe perante os alaridos e nem perante os sinos na cidade.

Tudo que se traduz na mentira, perde a sua clareza legítima e tudo que trás consigo a luz da verdade revela o poder da transformação e da liberdade. A mentira por mais colorida que seja não consegue ter um prazo de validade duradoura. Tarde ou cedo ela se perde entre o engano e a discrepância. Aliás, uma das evidências da mentira, é a discrepância. Onde impera a ausência da verdade, a discrepância será a resposta.

Os argumentos da verdade são cristalinos e só quem prefere encurtar o caminho, decide pela  mentira. Uma sociedade onde a verdade é obstruída, o avanço e o desenvolvimento ficarão comprometidos. E a insistência em manter a verdade como peça obsoleta, constitui uma das ações mais arriscadas de qualquer ser humano ou sociedade. O famoso ditado que diz "A mentira tem perna curta", eu diria que a mentira nem perna tem. Enquanto a verdade tem músculos bem firmes, cérebro, coração e movimentos leves, mas poderosos.

O grande escritor português, José Saramago, em sua gigantesca lucidez inteletual disse: "Vivemos numa era da mentira universal". E o mais caricato disso tudo, é que as pessoas preferem aceitar a mentira como verdade. Isso tudo porque vivemos numa sociedade alienada pelo argumento do vazio da ético e da crise moral.

Onde vamos parar, não sei, mas o caminho poderá apontar a maior crise social de todos os tempos. Só a verdade sustenta qualquer sociedade. Sem ela a sociedade entra em crise e os resultados falarão por si.

A verdade é o maior pilar da ética e a ética sem a verdade é inconsistente. Quando a verdade é o princípio basilar de uma sociedade, os desafios serão ultrapassados e as grandes mudanças antropológicas e sociológicas serão plasmadas no escopo da própria verdade.

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SOBRE O AUTOR

Lino Magno

Teólogo, pastor, cronista e colunista de Santiago Magazine

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