1. A remodelação de governo, apenas devido a fraco desempenho, é sempre um mau sinal, por várias razões. É, como se costuma dizer, sentir-se obrigado a “mexer na equipa que está a perder”. Mas, uma remodelação é, antes de tudo, um claro sinal de que o chefe de governo, afinal, fez péssimas escolhas, ou é péssimo a fazer escolhas. Por outro lado, é sinal também de que os escolhidos se revelaram uma espécie de “erro de casting”, uma vez que, pura e simplesmente, não corresponderam ao que deles era esperado! Há aqueles que podem ser consultores extraordinários, grandes especialistas em analisar a realidade e, de seguida, muito comodamente, apresentarem como resultado dois ou três cenários, estáticos – o famoso “tudo o resto constante” – para, ato contínuo, lavarem as suas mãos, qual um Pilatos do fabuloso mundo do aconselhamento. Mas, quando lhes são pedidos para serem ministros, perdem-se completamente. Se algum dia tiveram o dom de decidir, mostram que o perderam, irremediavelmente;
2. A remodelação torna-se difícil de se fazer quando se passou todo o tempo da campanha eleitoral a defender um governo mínimo – enxuto, para sermos mais rigorosos nas palavras, então utilizadas – e, de repente, já depois de se ter alargado uma vez, com mais dois ministros e seis secretários de estado (mais 53% de governantes) – cujos efeitos foram, praticamente, nulos – o primeiro-ministro vê-se, desesperadamente, obrigado a movimentar mais uns tantos membros de governo! Mas, a remodelação de governo torna-se ainda mais difícil de se fazer quando na legislatura antecedente não se chegou a efetuar nenhuma remodelação, num sinal de certeza no rumo do país e da estabilidade governativa;
3. Sem considerar que, num país pobre como Cabo Verde, a remodelação é um grande risco privado para qualquer ministro ou secretário de estado remodelado. Ficam os empréstimos contraídos para fazer face a novos encargos, mais consentâneos com o posto ministerial. Risco que passa também para as despesas públicas, uma vez que com a remodelação e sabendo que os remodelados não são deixados desamparados, hão de lhes ser atribuídos algumas consultorias ou novas nomeações, traduzindo-se em mais gastos públicos;
4. Uma vez feita a remodelação, assumidos os erros de percurso e a necessidade de corrigir, embora muito arrependido de se ter tomado a decisão tarde demais – é que os resultados dos três primeiros orçamentos de Estado não criaram alicerces para quase nada – então, há um novo risco que emerge: os ministros mantidos que vão tentar assumir o terrível papel de “bombeiros” em setores redondamente falhados. Como “gato escaldado tem medo de água fria”, então, é evitada a sete léguas a figura de consultores-ministros, lançando todas as apostas em alguém que seja “bom de conversa”, mesmo que nunca tenha trabalhado no setor em causa, exigente em termos de experiência prática. É esse o risco maior que pode levar o país à bancarrota total e constituir o prelúdio da certeza de um recorde nunca antes visto na democracia das ilhas: um governo de apenas um único mandato;
5. Nas atuais circunstâncias, a remodelação torna-se um fantasma que afronta cada vez mais! Nenhum ministro conseguiu criar nada de novo, uma única marca registada, nem uma inovação específica que seja. Tudo ficou muito parecido com uma espécie de governo de retocagem, uns logotipos novos, uma conversa nova e uns balcões novos. A mudança da linguagem para milhões, ao invés de se apontar o nome concreto dos projetos, a substituição de emprego concreto por estágios de ilusão, os vídeos no Facebook em língua estrangeira e os “opening” e “closing remarks” dos eventos, dando ares de um falso domínio da língua inglesa;
6. No fundo, é um remodelar às apalpadelas para ver se se acerta em alguma coisa. Mas, sem certeza de coisa nenhuma, além, é claro, do único plano de continuar a vender todas as empresas do país até não restar uma única riqueza do Estado. É que ao desbarato, haverá sempre quem queira comprar.
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