No ano passado, fiz questão de conhecer Canárias, devido às muitas e boas informações que me deram dessa parcela espanhola, não só pela sua beleza, mas, sobretudo, pela sua semelhança orográfica com algumas ilhas nossas.
Efectivamente, fiquei agradavelmente surpreendido pela sua beleza e pelo seu desenvolvimento e aí pude ainda mais sentir más fastiu da incapacidade do regime português de então e aperceber-me dela com relação às suas colónias, sobretudo Cabo Verde.
Destaco duas semelhanças de dois lugares nas Canárias que me pareceram irmãos gémeos de outros dois em Cabo Verde, cujo nome não consegui descobrir, porque naquele grupo éramos todos watchabés. Um é semelhante à ladeira de Bulanha, em Assomada, onde conseguiram implantar infra-estruturas com estradas alcatroadas e condomínios fincados, construções que proporcionaram ao lugar imagem surpreendente de grande vulto. O outro igualzinho à praia de Gambôa, trabalhada com muito requinte que dá prazer a qualquer alma, mesmo a penada, de lá passear e de estar. Ao fazer o meu footing matinal naquele sítio, durante a semana que lá estive, não deixava de pensar sempre na nossa Gambôa e, sem querer, amaldiçoava o regime colonialista português por não ter feito connosco o que a Espanha fez em relação às Canárias. Ainda pensava se um dia estaríamos em condições de ter, na nossa Praia, qualquer coisa semelhante. Fiz fotografias do lugar com a pretensão de mostrar ao Filú para que ele e/ou o governo procurassem algum financiamento para transformar a nossa zona como a que pude ver e desfrutar naquele arquipélago.
Pouco tempo depois, e antes de poder encontrar os dois governantes (porque criolo tâ fina fáchi), é apresentado a Cabo Verde o Sr. David Chow, com a sua proposta de investimento no Ilhéu de Santa Maria com maquete das obras e tudo, incluindo o arranjo da Praia de Gambôa, igualzinho ao que tive o privilégio de conhecer nas Canárias. Fiz questão de, na primeira oportunidade que encontrasse o Primeiro-Ministro e o Presidente da Câmara da Praia, se vier a ter essa felicidade, os congratular pela grande conquista feita por terem conseguido um investidor à altura de poder realizar um investimento de tão grande envergadura.
Quando tudo parecia correr às mil maravilhas e a contento de todos, surgem alguns divagadores a quererem obstaculizar o investimento, com argumentos fúteis e fictícios de o empreendimento vir a matar a nossa fauna e flora e apagar alguma história, como se Cobon di Fómi lasim perto, também, não encerrasse uma história, se calhar muito mais importante que a do Djéu. Talvez não saibam que aquele nome foi atribuído àquele sítio, porquanto, nos anos idos da crise “famine”, as pessoas que vinham do interior à procura de alguma coisa para atenuar a fome, lhes era vedada pelas autoridades coloniais a única via que as conduzisse à cidade, travando, assim, a marcha e lá morriam aos magotes.
Essa gente do contra deve então defender que naquele Cobon se faça alguma coisa e sugerir o que fazer para memorizar e eternizar a história do lugar, e deixar que Santiago tenha alguma coisa de jeito, para não ficar só com coisas djondjadu como o aeroporto, portos, estradas, avenidas, as levadas chamadas valas etc., etc.
Como é possível alguém contrariar tal pretensão, num lugar que nada tem de prestigiante para a ilha e para Cabo Verde, ao passo que a obra pretendida vai transformar a cidade da Praia numa zona de passagem obrigatória com todos os benefícios daí advenientes? Filú é condenado por pretender transformar a Praia na “Menina do Mar”, “Praia digital”, Macauzinho, etc. (com algum exagero, é certo), mas afinal este empreendimento catapultaria a cidade para patamar muito alto que poderia vir a dar razão ao nosso edil.
Por outro lado, o Conselho de Ministros, numa das suas reuniões, face ao resultado de um estudo encomendado pelo governo sobre aquela zona, com vista a despachar em consciência e com propriedade, “desclassificou” o Ilhéu de Santa Maria da Praia como reserva ecológica, pelo que deixou de haver qualquer impedimento para que aquele espaço da capital cabo-verdiana pudesse ser transformado num hotel casino, conforme pretendido pelo magnata chinês.
Realmente, aquele estudo feito por personalidades competentes, suponho eu, do INIDA, diz que:
…”O Djéu não tem grande valor que possa impedir a sua utilização para projectos de desenvolvimento do País. Isto porque não existe nele qualquer espécie vegetal endémica, tão pouco qualquer espécie animal relevante para o ecossistema da área oceânica em que se encontra inserida”.
Verdade, verdade, pode se encontrar naquela zona algumas lagartixas, todas magrinhas (que nem servem para pitéu para serem exportadas à zona sul de Porto Novo, em Santo Antão, onde nas palavras do então edil Joel Barros estavam sendo utilizadas como alimentação), algumas tchotas como as que o MPD colocou no lugar de Amílcar Cabral nas moedas ou ainda plantinhas “ (padja contra fiticêra)”, que o mesmo MPD, na sua sanha de apagar Cabral da nossa história, colocou ainda noutras moedas. Dada a irrelevância a que aqueles técnicos atribuíram a esses animaizinhos e plantinhas, penso, estribado na minha longa experiência e convivência com plantas e animais, que esses divagadores não deveriam tomar árvore por floresta de modo a pôr em causa esse grande empreendimento que nos orgulha a todos os Santiaguenses e, porque não, todos os cabo-verdianos. Afinal, também temos direito a ter coisas boas embora muitos sabidinhos doutra banda tentem impedir. Já dizia eu num dos meus artigos, e volto a repetí-lo, para terem em conta que KATCHOR NA SONO KÂ TÂ KORDADO.
Se não, então oiçam o que meu pai dizia: Di tragus di obido pa rabo d’ôdjo, tem quato dedo: Pertinho, não é? Por isso, quem qui ka obi, t’ôdja.
O que sugiro é que quem de direito mande fazer fotografias dessas thotinhas, das lagartixas, das plantas contra fiticêra, fotografia do Djéu em todos os ângulos, escrever a história do lugar, como campo de korentena para pessoas supostamente portadoras de doença infecto-contagiosa que vinham de fora e ainda curral para armazenar famintos que vinham do interior à cata de comida, ou em caso de epidemia de doenças contagiosas. Inventariar e catalogar tudo o que de mau aconteceu aí e exigir ao Sr. Chow que inclua no seu projecto de construção um espaço, mini-muséu, onde essas coisas seriam expostas para que os turistas (e não só), que futuramente visitarão o lugar conheçam o seu passado. Assim, estaria preservada a história do Djéu
Tem razão o GRANDE CHURCILL, quando disse:
“DE UMA MANEIRA GERAL, OS SERES HUMANOS PODEM SER DIVIDIDOS EM TRÊS CLASSES: AQUELES QUE SE MATAM COM TRABALHO, OS QUE SE MATAM COM PREOCUPAÇÕES E AQUELES QUE SE MATAM DE TÉDIO.”
Praia, 09 de Novembro de 2006
Caboverdianamente,
Olímpio Varela
P.S. Ao terminar este artigo ouvi a Senhora Ministra da Defesa a dar a agradável notícia de que Cabo Verde foi de novo seleccionado para o MCA para o período 2007.De tão boa a novidade, resolvi aproveitar oportunidade para parabenizar os governantes por mais esta proeza e avisar-lhes que devem estar preparados porque aves de mau agoiro vão na fáchi-fáchi desmentir essa notícia e, se calhar, levar a Ministra à Procuradoria por tê-la dado. Coitados dos Procuradores que estão sendo bombardeados com processos de lana-caprina contra o Governo que acabam por não dispor de mais tempo para resolver as nossas contendas.
Do mesmo modo, também tomei conhecimento do Acórdão do Supremo Tribunal que mandou divorciar a senhora Iva dos combustíveis, por inconstitucionalidade do acto. Assim é que é! O Governo que acautele melhor nas decisões que toma, porque às vezes cussas tâ capri de zero de nove noves fora, pa kai na um de dez vai
Varela
* Artigo escrito em 2006
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