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Insólito. Advogada acusa PN de Espargos de lhe agredir dentro da esquadra quando atendia cliente detido por engano
Sociedade

Insólito. Advogada acusa PN de Espargos de lhe agredir dentro da esquadra quando atendia cliente detido por engano

A Polícia Nacional em Espargos está a ser acusada de agressão e abuso de força. A vítima, uma jovem advogada, vai apresentar queixa no Tribunal do Sal, alegando que foi impedida de exercer a sua profissão quando foi chamada para atender um cliente que acabara de ser detido por engano. Este foi solto na hora, ela, a advogada, é que ficou detida. O comandante da PN nos Espargos nega toda a versão.


Uma advogada, que foi detida no último dia 21 de Janeiro, vai dar entrada no Tribunal com um processo-crime contra três agentes e o próprio comandante da Esquadra de Espargos, na ilha do Sal. Jandira Cid alega que lhe foi negada o direito de exercer a profissão e que sofreu abusos de autoridade dentro da própria esquadra.

A advogada conta que no dia 21 de janeiro foi contactada para acompanhar o caso de um jovem que tinha acabado de ser detido pela polícia. Ao chegar na Esquadra, afirma, foi recebida por um agente de nome Steven, a quem identificou-se como advogada. Foi informada de que a viatura ainda não tinha chegado.

“Fui aguardar então no meu escritório, que fica mesmo em frente à Esquadra. Cinco minutos depois voltaram a telefonar-me, avisando que o meu cliente já se encontrava na Esquadra”, lembra. Ao regressar, a advogada já não foi recebida como anteriormente. Foi-lhe, supostamente, negada que entrasse no recinto.

“Ao regressar, encontrei o agente Steven mesmo à porta como que se estivesse a aguardar a minha chegada. Apresentei-me novamente como advogada do jovem detido, no que ele virou-me as costas e dirigiu-se para dentro da Esquadra. Eu o segui até a metade do caminho quando, num tom agressivo, disse-me ‘sai para a rua!’”, descreve.

Jandira disse que estranhou o comportamento do referido agente, pelo que questionou: “Sair? Eu sou advogada. Eu não posso sair, porque vim representar o meu cliente”. Contudo, para evitar mais constrangimentos, Jandira disse que dirigiu-se para a rua com a intenção de falar com os familiares do detido.

Mas assim que saiu, a advogada ouviu novamente que tinha de pôr-se na rua. Desta feita, acusa Jandira, da voz do próprio comandante da Esquadra, José Luís Pereira: “Estava mesmo à porta, quando ele, da calçada, começa a gritar: ‘já não te disse para sair para fora da Esquadra?’. Respondi-lhe de que não ia sair, porque estou no meu direito de exercer a minha profissão”.

Acção abusiva

Foi então que, segundo a advogada, dirigiu-se para ela um “aparatoso grupo de agentes”. Jandira acusa a polícia de agir de forma abusiva, autoritária e agressiva: “o agente Eliezer torceu-me os braços para trás com bastante força e me levaram para dentro da Esquadra, onde fiquei detida e tentaram obrigar-me a assinar um documento, contendo alegações que não correspondem aos factos”.

De acordo com a advogada, no documento elaborado e assinado pelo agente João Santos, alegam que ela tinha sido detida por não apresentar documentos de identificação. Mas nada do que estava ali, correspondia à verdade dos factos, garante, informando que a polícia teve de arranjar na rua, dois transeuntes para servirem de testemunha.

O cliente de Jandira Cid tinha sido detido por engano, segundo a advogada. “O interessante é que eles cometem o erro de deter uma pessoa inocente para minutos depois o libertarem. Enquanto isso, mantiveram-me detida tentando arranjar uma forma de justificar a minha detenção”, frisa.

Após ser liberada, a advogada dirigiu-se ao Hospital, por causa de dores e hematomas no braço. A polícia foi chamada com o objetivo de registar uma ocorrência por agressão. Mas, segundo Jandira, isso não chegou a acontecer: “Depois de uma hora de espera apareceu um agente, mas assim que me viu ele disse: ‘ah, é bô?’. Voltou-se e foi embora sem receber a queixa. Recusaram efetuar a ocorrência”, incrimina.

Jandira assegura que ela ficou detida ilegalmente. “O que fizeram comigo foi a privação da minha liberdade e inibição do exercício da minha profissão, porque em nenhum momento deram-me a voz da detenção. Sem contar o modo como agiram, de forma arbitrária, abusiva e agressiva” enumera.

Cid assevera que esta não é a primeira vez que situações como essa acontecem envolvendo a Esquadra de Espargos e juristas. Sem citar nomes afirma que há advogados que já ficaram detidos em celas e outros a quem também foram negados o direito de exercer a profissão na Esquadra de Espargos.

“Isso não é de hoje. Existem colegas meus que têm sofrido a mesma coisa. Há muitos relatos de abusos policiais a cidadãos nacionais e estrangeiros, mas poucas queixas avançam para o Tribunal, porque boa parte destas pessoas sequer chegam a constituir advogados e os casos ficam retidos na Esquadra e ficam por isso mesmo sem resolução”, aponta.

Jandira Cid informa que constituiu dois advogados, que, munidos de provas vão dar entrada, já esta semana, com um processo crime contra o Comandante José Luís e os restantes três agentes, supostamente envolvidos no caso.

A Esquadra

Contactado pelo Santiago Magazine, o comandante da Esquadra José Luís Pereira nega as acusações de Jandira Cid, mas diz que o seu comando vai reagir oportunamente. “Este assunto está a ser tratado nas instâncias próprias, pelo que só iremos nos pronunciar oportunamente. Entretanto, posso adiantar que tais alegações não correspondem minimamente à verdade. Antes pelo contrário”, disse por telefone.

O Santiago Magazine promete voltar com mais desenvolvimentos sobre este caso.

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