Alunos do ensino secundário queixaram-se hoje que estão a ser prejudicados pela falta de atualização salarial dos professores e juntaram-se a eles numa manifestação na cidade da Praia a pedir que os docentes sejam valorizados.
"Estamos solidários com os professores. Eles merecem ser mais valorizados e é por eles que estamos aqui hoje a apoiá-los porque merecem. Não há nenhum político que está no poder que não foi através deles", afirmou à Lusa, em crioulo, Lúcia Ugorji, aluna do 12.º ano do Liceu Domingos Ramos.
No meio de outros alunos e de centenas de professores, que se concentraram na praça principal da capital do país, a estudante considerou “um absurdo” a falta de uma nova grelha salarial para a classe docente.
“Se a greve não funcionar, nós, os alunos, sairemos prejudicados e eu quero terminar o 12.º ano com os meus professores ao meu lado", apontou.
Ao seu lado, a colega Rayanne Ferreira realçou também que os professores precisam ser mais bem pagos e respeitados, para evitar que os alunos sejam prejudicados, considerando que precisam destes profissionais para serem "homens e mulheres do amanhã".
"Hoje viemos cá para dar força, estamos animados porque achamos que podemos ajudar, não estamos cá à toa. Esperamos, com fé em Deus, que esta greve [manifestação] resulte porque queremos mudança, queremos que os professores estejam bem porque a partir dali a sociedade estará bem, os alunos e todas as pessoas estarão bem", salientou.
A manifestação, que acontece um pouco por todo o país um mês após início do ano letivo, foi convocada por dois sindicatos de professores cabo-verdianos, com um caderno reivindicativo de dez pontos, que inclui atualizações salariais e progressões na carreira.
Durante o percurso, os docentes entoaram palavras de ordem como “basta”, “juntos somos mais fortes” e empunharam cartazes com dizeres como “Sumário: luta pelos direitos dos professores”, “não basta prometer, precisa resolver” ou “o ministro é nosso aluno”.
O dirigente do Sindicato dos Professores da ilha de Santiago (Siprofis), António Barros, sublinhou que o protesto é para cobrar uma "dívida" ao Ministério da Educação, que se arrasta desde 2016, cuja promessa era de que todas as pendências seriam resolvidas até no final deste ano.
“Estamos no final de 2023 e a única coisa que se resolveu foram as requalificações, tudo o resto da pendência ficou por resolver", notou o professor, lamentando o facto de no Orçamento de Estado para 2024 não constar a resolução de pendências da classe.
O dirigente acrescentou que, se a situação não for resolvida, os professores vão partir por outras formas de luta, como greve ou congelamento de notas.
Armanda Barros, professora em Achada Grande Frente, disse à Lusa que “muitas coisas” precisam mudar na classe, a começar pela carreira docente, “congelada há muito tempo”.
“As pendências que não acabam, o Ministério de Educação dá passos de tartaruga para resolver isso, salário para repor o poder de compra que não temos”, mencionou, manifestando “profunda tristeza” pela atual situação.
Debaixo de um sol abrasador, os professores, todos vestidos de preto, e os alunos com os uniformes das suas escolas, percorreram as principais ruas da cidade da Praia, terminando em frente ao Palácio do Governo, na Várzea, onde encontraram uma presença das forças policiais que por momentos gerou alguma tensão entre as partes.
A presidente do Sindicato Democrático dos Professores (Sindprof), Lígia Herbert, disse que o balanço do protesto é “extremamente positivo” e que dos professores estão de “alma lavada”.
“O ministro [da Educação, Amadeu Cruz] vai ter que nos ouvir (…) se outras classes estão a ter mudanças, nós exigimos que o ministro introduza, junto do conselho de ministros, a grelha salarial do pessoal docente”, pediu a sindicalista, prometendo “todas as formas de luta” caso as atuais reclamações não forem atendidas.
Numa nota publicada hoje nas páginas oficiais, o Governo avançou que, no âmbito do Orçamento de Estado 2024, vai alocar recursos para “corrigir desigualdades e disfunções nas carreiras dos professores, além de revisar os estatutos que regem seu trabalho".
“O Governo também está comprometido em resolver as pendências que herdou das administrações anteriores, totalizando mais de 4 milhões de contos” (mais de 36 milhões de euros), prometeu o executivo.
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